Mais uma vez o ministério da educação e o conselho de
ministros decidiram à revelia de toda a gente criar uma nova modalidade de
cursos superiores a ministrar nos institutos politécnicos.
Falo dos cursos de curta duração, de dois anos, cujo decreto
foi aprovado na reunião do conselho de ministros da semana passada, sendo os
cursos designados de cursos técnicos superiores profissionais (CTSP).
Mas se não houve qualquer discussão pública sobre esta
matéria, também não existiu qualquer concertação com os institutos politécnicos
que irão ter que receber estes alunos e lecionar estes cursos.
E se não temos nenhuma oposição de princípio a que
existam cursos profissionalizantes de curta duração, já temos as maiores
reservas quanto à via escolhida, uma vez que estes CTSP são, praticamente, uma
redundância dos atuais cursos de especialização tecnológica (CET), que já hoje
são lecionados em escolas profissionais e institutos politécnicos.
E é aqui que começam os problemas, pois a racionalidade
do sistema de formação profissional, a sua adequação ao mundo do trabalho e ao
prosseguimento de estudos deveriam estar devidamente articuladas, o que não
acontece.
O emaranhado de cursos, a sobreposição dos mesmos e a
desvalorização com que tudo isto está a ser feito irá descredibilizar toda esta
proposta.
Igualmente, não se percebe como é que tudo isto vai
encaixar nas tabelas de graus da união europeia, assente em Bolonha.
Ou seja, estamos perante uma proposta que os politécnicos
rejeitam lecionar, por desenquadrada com a realidade existente e desarticulada
dos reais interesses do mercado de trabalho.
Aquilo que se impõe, agora que o diploma está aprovado,
não é fechar os olhos e obrigar à aplicação do seu conteúdo, é, antes, abrir um
processo de diálogo, sério, com as instituições que quotidianamente fazem
formação e produzem conhecimento e com os agentes económicos.
Os sistemas educativos e formativos têm que ter coerência
e racionalidade, o que não acontece com a introdução destes cursos técnicos
superiores profissionais de nível 5. Isto porque nós já temos, hoje, os cursos
de especialização tecnológica (cursos de nível 4) e qualquer mexida nesta área
careceria de um pensamento global que eliminasse as sobreposições e que não
viesse lançar mais confusão nos alunos e no mercado de trabalho.
Fazer tudo isto só para inflacionar o número de diplomados parece-nos muito pouco e, afinal, nem os milhões com que acenam aos politécnicos os demove da sua posição de não quererem lecionar estes cursos tal qual estão propostos pelo ministério.
Fazer tudo isto só para inflacionar o número de diplomados parece-nos muito pouco e, afinal, nem os milhões com que acenam aos politécnicos os demove da sua posição de não quererem lecionar estes cursos tal qual estão propostos pelo ministério.
Acácio Pinto