Avançar para o conteúdo principal

[opinião] Nem autoestrada, nem comboio!

1. Durante quase três anos de mandato nunca o governo foi capaz de assumir a ligação de Viseu a Coimbra como uma prioridade. Demorou trinta meses para o fazer e a via escolhida foi um estudo sobre as infraestruturas de elevado valor acrescentado (IEVA), onde constam, supostamente, as trinta prioridades para o país a nível marítimo-portuário, a nível ferroviário e a nível rodoviário. Portanto, o IP3, constando desse estudo, seria prioritário.
O problema é que começam agora a perceber-se os equívocos e a farsa que está por detrás de tudo isso.
Os autarcas do PSD, da região de Viseu, começaram a falar numa ligação sem portagens, através da aprovação de moções em assembleias municipais e declarações a solo.
Mas o que é facto é que, de seguida, o secretário de estado da tutela, Sérgio Monteiro, veio desdizer os autarcas do PSD, dizendo que “por restrições de Bruxelas” a ligação Coimbra-Viseu tem que ser concretizada “com financiamento exclusivamente privado”.
Ou seja, estamos ante uma falácia. Foram apanhados, rapidamente, nesta mentira que estavam a ensaiar para vender às populações.
O PSD entrou, portanto, em modo de campanha eleitoral e tentará a todo o custo outros números como este.
Para além disso começa agora também a perceber-se que os cinco mil milhões que se dizia existirem, no estudo, para infraestruturas, são cada vez mais, muito menos de três mil milhões.
O PS mantém a sua posição de sempre: esta é uma via prioritária (porventura, a mais prioritária do país), está mais do que estudada e nada temos a opor que seja portajada desde que se mantenha uma alternativa à mesma.
O que se exige do governo, portanto, não são estudos (que de nada valem, afinal), não são palavras, são opções políticas, são atos concretos para executar uma via que substitua o atual corredor que tem mais de 17.000 veículos e que tem uma enorme sinistralidade.
2. Mas a gravidade sobre o IEVA prende-se agora também com a ferrovia. Então não é que o secretário de estado, Sérgio Monteiro, disse esta semana que "a competitividade da economia não justifica a intervenção, por exemplo em Aveiro-Vilar Formoso"!?
Ou seja, estamos perante situações paradoxais. Apresentam-nos um conjunto de infraestruturas prioritárias (30), desmultiplicam a informação e fazem a festa, mas gradualmente começam a dizer que, afinal, não é só a ligação Viseu Coimbra que não é prioritária, mas é também a ligação ferroviária entre Aveiro-Viseu-Vilar Formoso que o não é e outras virão, com certeza.
Ou seja, não restam dúvidas, agora, de que esta “estória” das “30 mais” é uma “estória” de pré-campanha do PSD, uma vez que não foi tomada qualquer decisão e não há financiamento comunitário, como diziam, para estes corredores estruturantes para a região centro e para o país.
Acácio Pinto
Correio Beirão nº5

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...