Vivemos tempos de grande
hipocrisia política na vida pública portuguesa. Vem isto a propósito da
tolerância de ponto no dia de Carnaval.
Como se sabe o atual governo,
para dar uma de “duro”, de “rigoroso” e de “austero”, desde 2012 acabou com a
tolerância de ponto que sempre foi dada no dia de Carnaval, com exceção de um
caso ensaiado nos tempos em que era primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva, nos
anos 90 do século passado.
Isto é, os funcionários públicos,
do estado central, têm que trabalhar, tiveram que trabalhar no dia 17 de
fevereiro de 2015, porém os funcionários dos governos regionais da Madeira e
Açores e os funcionários da esmagadora maioria das câmaras municipais e juntas
de freguesia, dos “estados” locais, tiveram tolerância de ponto, bem como a
generalidade dos trabalhadores das empresas privadas e de capitais públicos.
Estamos perante uma verdadeira
hipocrisia, pois o atual estado da arte, com a situação confusa em que este
governo mergulhou o país, uns a trabalharem e outros com tolerância, não tem
senso político, não tem senso económico e não tem senso sociocultural. É uma
verdadeira aberração.
Goste-se ou não do Carnaval,
goste-se ou não da sátira política e social e das “largas à língua” que atravessa
as diversas manifestações carnavalescas, o que é facto é que os eventos ligados
ao Carnaval, ao Entrudo, perdem-se ao longo dos séculos e estão disseminados um
pouco por todo o mundo.
Em Portugal há corsos
carnavalescos e manifestações de Entrudo centenárias que exigem o trabalho
organizativo de muitas pessoas e que levam centenas de milhares de portugueses
à rua, que se deslocam aos diversos locais para assistirem a esses eventos.
Cito aqui, a título de exemplo, alguns dos casos mais genuínos, como sejam, os
caretos de Lalim, de Lazarim, de Podence e a dança dos cús de Cabanas de
Viriato.
Ou seja, para além da enorme
dimensão cultural estamos também perante um fenómeno de grande dimensão em
termos económicos, na sua vertente turística, pelo dinamismo dos hotéis, restaurantes
e de todo o comércio local.
A este propósito permito-me
referir os números de um estudo que o IPV de Leiria efetuou para a câmara de
Torres Vedras, sobre o seu carnaval: 9 milhões de euros de impacto na economia
local e 350 mil visitantes. Ora, este caso permite a cada um retirar as suas
conclusões relativamente aos impactos em todo o país.
Deixemo-nos de hipocrisias! A
tolerância de ponto no Carnaval é uma evidência!
Acácio Pinto
Diário de Viseu