Avançar para o conteúdo principal

[opinião] As intermitências da morte

Permito-me utilizar neste artigo o mesmo título de uma obra de um grande escritor português, o nobel José Saramago, não para falar da mesma nem para apresentar nenhuma factualidade que tenha a ver com o objeto central do livro, mas pela semântica que a expressão “as intermitências da morte” me permite nos factos que vou apresentar.
Vamos então aos factos, destes últimos tempos, inspiradores deste artigo, que desejava não estar a escrever.
1. Há alguns dias atrás um doente com hepatite C confrontou o ministro da saúde com o facto de lhe estar reservada a morte, a ele a muitos outros portugueses, pelo facto de o governo não lhes disponibilizar um tratamento que permitiria debelar o seu problema de saúde.
No dia subsequente a este facto, e depois de tantas mortes, o ministro anunciou que o respetivo tratamento iria passar a ser disponibilizado aos portugueses, depois de um acordo com a respetiva empresa farmacêutica.
2. Em novembro de 2014 o centro de saúde de Vouzela reduziu o seu horário de funcionamento à noite. Nessa sequência os deputados do PS eleitos por Viseu colocaram uma questão ao ministro da saúde e, no dia imediato à apresentação da pergunta na assembleia da república, o ministério através dos seus serviços regionais, criou novamente as condições para repor o seu anterior funcionamento até às 24 h.
3. Na semana passada as pessoas do concelho de Carregal do Sal foram confrontadas com a redução do horário de funcionamento do seu centro de saúde, a implementar a partir de 15 de fevereiro. Desde logo o presidente da câmara de Carregal do Sal se opôs publicamente e os deputados do PS eleitos por Viseu colocaram uma questão ao ministro da saúde questionando-o sobre este facto. Passados poucos dias, já esta semana, o ministério da saúde através dos seus serviços regionais informou que afinal tal redução não iria acontecer.
4. As populações do concelho de Penedono estão a ser confrontadas com o encerramento do seu serviço local da segurança social durante quatro dias da semana. Isto é, está aberto intermitentemente, só têm este serviço local disponível às quartas-feiras e no dia 20 de cada mês com os inerentes prejuízos para as pessoas e para as empresas. Também aqui os deputados do PS colocaram uma questão ao ministro da solidariedade, do emprego e da segurança social, sobre este facto. Ainda houve nenhuma resposta. Aguarda-se o desiderato.
Em conclusão.
Governar tem que ser mais do que esta navegação à vista. Ela só traduz uma coisa: completo desnorte do governo!

Acácio Pinto
Diário de Viseu

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

Frontal, genuíno, prestável: era assim o António Figueiredo Pina!

  Conheci-o no final dos anos 70. Trabalhava numa loja comercial, onde se vendia de tudo um pouco. Numa loja localizada na rua principal de Sátão, nas imediações do Foto Bela e do Café Sátão. Ali bem ao lado da barbearia, por Garret conhecida, e em frente da Papelaria Jota. Depois, ainda na rua principal, deslocou-se para o cruzamento de Rio de Moinhos, onde prosseguiu a sua atividade e onde se consolidou como comerciante de referência. Onde lançou e desenvolveu a marca que era conhecida em todo o concelho, a Casa Pina, recheando a sua loja de uma multiplicidade de ferramentas, tintas e artefactos. Sim, falo do António Figueiredo Pina. Do Pinita, como era tratado por tantos amigos e com quem estive, há cerca de um mês e meio, em sua casa. Conheceu-me e eu senti-me reconfortado, conforto que, naquele momento, creio que foi recíproco. - És o Acácio - disse, olhando-me nos olhos. Olhar que gravei e que guardo! Quem nunca entrou na sua loja para comprar fosse lá o que fosse? Naquel...

Murganheira: O melhor espumante de Portugal!

LETRASECONTEUDOS.PT Ficam no concelho de Tarouca, em Ucanha, a norte do distrito de Viseu, e são um mundo escondido sob aquela colina revestida pela vinha alinhada e bem verde, no verão, antes da colheita das uvas touriga, tinta roriz, gouveio, cerceal, chardonnay ou pinot . Trata-se das Caves da Murganheira e ali estão há mais de 60 anos.  Situadas num espaço magnífico, de transição entre a Beira e o Douro, as Caves da Murganheira conjugam modernidade e tradição. A modernidade do edifício onde se comercializa e prova o segredo encerrado em cada garrafa de espumante e a tradição das galerias das caves "escavadas" a pólvora e dinamite naquele maciço de granito azul. E se no edifício de prova - com um amplo salão, moderno e funcional, com uma enorme janela aberta sobre a magnífica paisagem vinhateira, que encantou os cistercienses - é necessário ar condicionado para manter uma temperatura, que contraste com o agreste calor estival, já nas galerias subterrâneas a temperatura...