Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de 2025

Diz o povo. Provérbios de novembro

  Novembro à porta, geada na horta. Dos Santos ao Advento, nem muita chuva nem muito vento. Dos Santos ao Natal, inverno geral. Dos Santos ao Natal, bom é chover e melhor é nevar. As geadas de São Martinho levam a carne e levam o vinho. No dia de São Martinho semeia os teus alhos e prova o teu vinho. No dia de São Martinho, vai à adega e prova o teu vinho. No dia de São Martinho, castanhas, lume e vinho. Pelo São Martinho fura o teu pipinho. Em novembro põe tudo a secar, pode o sol não tornar. PROVÉRBIOS DE OUTROS MESES

O que dizem as memórias paroquiais de 1758 sobre a paróquia de Romãs

  Por decisão do Marquês de Pombal, em 1758, três anos após o terramoto, foram lançadas a todas as paróquias um conjunto de questões a que os respetivos párocos responderam. Essas memórias são um importante documento que nos permite, hoje, conhecer alguns pormenores da nossa terra em meados do século XVIII. As perguntas tinham a ver com a jurisdição, com a demografia, a geografia, os recursos, as igrejas, as pessoas ilustres, entre outras. Deixo-vos hoje as respostas que o reitor do lugar de Romanis (concelho de Sátão), Pedro Jozé Machado, deu às perguntas do Ministro do Reino e que pelo seu teor, facilmente se adivinha a que pergunta ele estava a responder. Esclareça-se que à época o território da atual freguesia constituía o concelho de Gulfar, cujo pelourinho e sede era em Douro Calvo. Eis o teor das respostas, datadas de 20 de maio de 1758. Igreja das Romanis. Interroguatorios. 1. Esta igreja de Santa Maria do Val das Romanis se acha setuada na Provincia da Beira, bisp...

Uma ‘aula’ sobre a escravidão, por João Pedro Marques

  A sessão das 5as de leitura que teve lugar nesta quinta-feira, 23 de outubro, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, contou com a presença do historiador e romancista João PedroMarques . Sob a batuta suave e competente de Teresa Carvalho , a moderadora, dando o palco ao convidado, este dissertou sapientemente, enquanto historiador, pela temática da escravatura, que acabou por ser o pano de fundo deste excelente serão literário, com permanentes ligações a circunstâncias históricas, em que não faltaram também incursões francas e intimistas a alguns aspetos dos seus tempos de estudante de engenharia. Está claro que, nesta conversa, não poderia faltar uma palavra do romancista sobre os seus romances. Sobre a sua escrita criativa. Sobre as suas tramas romanescas, tecidas normalmente ‘em cima’ de “acontecimentos históricos”, onde ele se socorre de personagens reais e de personagens fictícias, para criar uma “intriga” e dar corpo às suas ficções. Ou seja, poderemos dizer, em t...

O Emigrante | A saga de uma família abalada por segredos antigos

  DETALHES DO LIVRO Título: O Emigrante – A saga de uma família abalada por segredos antigos Autor: Acácio Pinto Preço: 16 € Compre aqui: letraseconteudos@gmail.com ISBN: 978-989-35609-2-1 Edição: Letras e Conteúdos | Sátão Data de lançamento: 1.ª edição – outubro de 2025 Idioma: Português Dimensões: 141 x 210 x 15 mm Encadernação: Capa mole Páginas: 224 Classificação: Livros em Português > Literatutra > Romance SINOPSE Inspirado em memórias reais,  O Emigrante  é muito mais do que um romance que retrata a emigração portuguesa: é uma viagem emocional que atravessa fronteiras, gerações e afetos. Renato, natural da região de Viseu, nos anos 60 parte a salto para França em busca de uma vida melhor, deixando mulher e filhos em Portugal. Entre a dureza da labuta nas obras em Champigny, a vida nos  bidonvilles  e o trabalho numa siderurgia em Le Creusot, conhece a solidão de quem vive repartido entre dois países. Mas não são apenas a distância ou o labor que o m...

Almoço real servido na Figueira no dia da inauguração da linha da Beira Alta

Falámos em anterior crónica sobre a inauguração da linha da Beira Alta, no dia 3 de agosto de 1882, pelo Rei D. Luís , com a viagem inaugural a ter início na estação da Figueira da Foz. O chef que foi escolhido pela cidade da Figueira para preparar o almoço real foi Paul Bergamim, suiço, que já tinha sido o chefe do Hotel Bragança, de Lisboa, um hotel de “primeiro nível, verdadeiramente!” e depois no Grande Hotel do Bussaco e no bufet da estação de comboios da Pampilhosa. Está claro que nos continuamos a socorrer da descrição que Bronislaw Wolowski para falarmos nesta crónica do almoço real. E diz-nos o referido cronista: Reproduzo aqui o menu que foi impresso em língua francesa, e junto para a curiosidade do facto como exemplo da língua portuguesa, o convite enviado pelo Conselho municipal desta encantadora cidade da Figueira-da-Foz, à qual eu desejo que o novo caminho-de-ferro abra a era de todas as prosperidades. Municipalidade da Figueira-da-Foz A Camara Municipal tem...

Conhece a estrada do Enforca Cães?

  Enforca Cães . Tão incomum é o seu nome quanto a beleza que a rodeia. Trata-se da estrada que liga, no concelho da Figueira da Foz, a localidade da Murtinheira (freguesia de Quiaios) a Buarcos. O topónimo, Enforca Cães , dever-se-á, segundo a memória dos mais idosos, ao facto de ali serem abatidos, em tempos idos, cães com doenças contagiosas para os humanos. De origem antiga, a estrada teve durante muito tempo um uso industrial (desde finais do século XVIII) dedicado quase exclusivamente à atividade extrativa de carvão e de calcário que ocorreu na Serra da Boa Viagem. Estas atividades industriais encerraram respetivamente em 1961 e em 2013. Ora, estas circunstâncias, que vieram ditar uma degradação lenta da via, levaram mesmo ao seu encerramento à circulação automóvel, por questões de segurança, em 2019, situação muito contestada pelas populações, que exigiam a sua requalificação e reabertura. Neste contexto, a Câmara Municipal da Figueira da Foz tratou de operacionaliza...

A Fonte do Cão, na Murtinheira - Quiaios

O que resta da antiga Fonte do Cão, que existiu a céu aberto na Murtinheira, é hoje uma lápide que a Junta de Freguesia de Quiaios colocou em 2005 sobre umas manilhas de cimento, assinalando a sua existência. O local, batizado pelos populares de Largo da Fonte do Cão, como não poderia deixar de ser, e que não consta do Google Maps, mereceu, finalmente, uma intervenção de limpeza pelos serviços da autarquia, que se saúda, esperando-se, contudo, que esta não tenha sido uma operação de circunstância. Todos os locais, este como tantos outros, que possam ter associadas a si estórias de outros tempos, merecem ser olhados, pelas entidades públicas, como espaços de memória coletiva. E, assim sendo, só a sua preservação e a criação de uma narrativa associada poderão legar às gerações vindouras o conhecimento das idiossincrasias e das vivências que os nossos antepassados tiveram no território que hoje pisamos. Ao que apurámos (memórias com mais de 40 anos), aquilo que ali existia antes de ...

Salazar teve amores secretos e coloridos?

  A autora, Felícia Cabrita, não tem dúvidas. Sim, Salazar teve muitos casos de amor, uns mais secretos, outros mais públicos, uns muito coloridos e outros que se resumiram a meros amores platónicos. Este livro, Os Amores de Salazar , com prefácio de Diogo Freitas do Amaral, foi escrito há mais de duas décadas e resulta de um aturado trabalho de investigação de Felícia Cabrita nos arquivos nacionais à guarda da Torre do Tombo e de conversas com protagonistas. De facto, António de Oliveira Salazar, desde cedo, foi colecionando corações de mulheres, desde os tempos de seminarista: de Viseu, a Coimbra, de Lisboa a Paris. Com amores platónicos, inocentes ou pecaminosos, o Presidente do Conselho, foi preenchendo a sua vida íntima com um enorme lote de mulheres de diversos estados civis. Por ele passaram, solteiras, casadas e viúvas. A todas tentava dar o máximo de atenção, no Vimieiro, no palácio de São Bento ou em hotéis de Lisboa, porém os seus compromissos oficiais nem sempre l...

Glória aos vencedores, honra aos vencidos!

  Com certeza que, ao longo da vida, já todos vivemos momentos de enorme tensão pelos mais diversos motivos: familiares, políticos, profissionais e tantos outros. Porém, para mim, que também já estive envolvido em combates autárquicos, um dos momentos que mais me elevava os níveis de ansiedade, por melhor trabalho que se tivesse feito, era o da espera pelos resultados na noite eleitoral. Eram horas difíceis. Mesmo infernais! Vem o que precede a propósito das recentes eleições autárquicas. Os candidatos e os líderes dos partidos, que recebem os resultados a conta-gotas, e que sabem ser o centro de todas as atenções, têm de ir preparando ideias para o discurso de vitória, ou de derrota, sob a pressão dos media, dos apoiantes e dos adversários. Nestas eleições, a nível nacional, a generalidade dos líderes “cantaram” vitória, mas, verdadeiramente, o grande vencedor global foi o PSD, pelos óbvios motivos de ter ganhado mais câmaras, mais juntas e de ter tido mais votos. Já o PS, ape...

Recessão de Virgílio Machado > Intimidades Traídas

  Acácio Pinto publicou um livro de poesia, em 2013, mas, dois anos antes, em 2011, publicou «Intimidades Traídas», um poema que assombra o espírito de homem ou mulher. Os versos não rimam, mas o efeito transformador está sempre lá, promovendo a libertação emocional, o autoconhecimento e o empoderamento através da introspeção e manifestação de sentimentos. «Intimidades Traídas» tem um efeito perturbador e reflexivo, que traz ao presente as memórias de uma vida de amores e desamores, questionando se todas a intimidades foram respeitadas, se todo o respeito foi tido nas intimidades. Mais ainda que o respeito e as intimidades é a humanidade que importa e «Intimidades Traídas» é um poema profundamente humano. Curioso é como Acácio Pinto chega a ter um poder premonitório quando escreve. p. 125 :-): «Entraram em rutura. Tudo entrou em rutura. Queimaram-se as ligações. Os cabos descarnaram-se» e dá um potente murro no estômago do leitor. Ler em Goodreads  (https://www.goodr...

"O Emigrante" é o título do novo romance de Acácio Pinto

Com o título  O Emigrante – a saga de uma família abalada por segredos antigos  o novo romance de Acácio Pinto tem apresentação prevista para o início de novembro, numa edição de  Letras e Conteúdos . Baseado em conversas tidas com antigos emigrantes portugueses e também a partir das suas memórias de infância, o autor traz-nos um romance em que nos conta a saga de Renato, um emigrante da região de Viseu, que nos anos 60 emigrou a salto para França em busca de uma vida melhor. As peripécias da travessia clandestina das fronteiras, as viagens no  Sud Express , completamente à pinha em finais de agosto, o trabalho duro nas obras, a vida diária nos  bidonvilles  em Champigny e a labuta dos operários numa siderurgia em Le Creusot, fazem parte desta narrativa que traça um retrato fiel das últimas décadas do Estado Novo e do dealbar dos primeiros tempos de democracia. Mas, para além da distância da família, que ficara em Portugal, é em França que Renato é assolado...

Aspetos do 5 de outubro em Ílhavo, no Estado Novo

  Ílhavo sempre foi uma terra onde, durante o Estado Novo, os valores da liberdade e da democracia tiveram muitos apoiantes. Íntegros e inteiriços. Combatentes pela liberdade. Lutadores pela superior causa da dignidade das pessoas. Vem isto a propósito do dia de hoje, em que se assinala a implantação da República, que ocorreu em 1910. Durante os 48 anos do Estado Novo, os apoiantes de Salazar assinalavam este dia (eufemisticamente, diga-se), uma vez que tal data representava o dealbar do regime republicano e o mínimo era não o violentar. Já para os opositores, comemorar o 5 de outubro era em si mesmo um ideário de luta pelos valores que inspiraram os republicanos que tinham derrubado a monarquia: voto universal e livre, direitos sociais, alfabetização... E, portanto, com este enquadramento, através da PIDE, o regime vigiava, com particular acuidade, todos aqueles que eram tidos como sendo do reviralho (comunistas e ditos republicanos), ou seja, os opositores do regime. Assi...

José Cardoso Pires – um escritor desalinhado

  Assinala-se neste dia 2 de outubro de 2025 o centenário do nascimento do incontornável escritor, da segunda metade do século XX, José Cardoso Pires. Um homem independente e que não compactuou com as correntes literárias do seu tempo. Era, nesse apeto, um escritor saudavelmente desalinhado, mas sempre rigoroso na escrita e no tratamento das temáticas que o inspiravam, a realidade política e social do Estado Novo, em que viveu várias décadas da sua vida, o que lhe valeu ter vários livros censurados. Nascido em Vila de Rei, o concelho que se reclama como aquele que tem a maior centralidade no nosso país, ou não fosse ali que se localiza o marco geodésico da Melriça, considerado o Centro Geodésico de Portugal, Cardoso Pires, cedo rumou à capital, onde foi desempenhando diversas funções e escrevendo. Dos seus livros, destaco Hóspede de Job , O Delfim , A Balada da Praia dos Cães , Dinossauro Excelentíssimo , entre tantos outros. Mas aquele que guardo, ainda hoje, é o seu último li...

Na Gralheira, em audiência à memória!

Fazer uma audiência à memória nos espaços onde convivemos com pessoas, com as pessoas de quem gostávamos e com quem partilhámos tantos momentos, tantos sabores e saberes, tantas cumplicidades, é um daqueles atos que nos conforta, ampara e alimenta. Ali, as imagens sucedem-se, os diálogos atropelam-se e a catadupa de emoções assola-nos e consola-nos perante as cenas que nos levam até esse ontem tornado, subitamente, tão agora. É assim como que uma transmutação que sofremos, tornando-nos atores tão reais desse filme imaginário produzido e realizado pela memória, pela nossa memória. Vem isto a propósito da visita que fiz, com amigos, recentemente, à Gralheira. Ao concelho de Cinfães. Às mágicas montanhas do Montemuro. Ao bucolismo das arouquesas soltas na serra. À tranquilidade do silêncio só cortado pelo longínquo toque das campainhas dos animais no pasto. À rusticidade do colmo como subtelha para aconchegar as casas de granito moreno. À autenticidade de homens e mulheres em solidári...

Sobre Quiaios: o que diz o dicionário Portugal Antigo e Moderno

Pinho Leal, no seu dicionário Portugal Antigo e Moderno, editado em 1874, onde se refere a “todas as cidades, vilas e freguesias de Portugal”, escreve o seguinte sobre Quiaios: QUIAIOS – freguesia, comarca e concelho da Figueira da Foz (foi da mesma comarca, mas do concelho de Maiorca, suprimido), 40 quilómetros ao ONO de Coimbra, 210 ao N de Lisboa, 950 fogos. Em 1757 tinha 300 fogos. Orago S. Mamede. Bispado e distrito administrativo de Coimbra. O prior de Santa Cruz de Coimbra apresentava o vigário, que tinha 200$000 réis de rendimento. É povoação muito antiga e foi couto, ao qual o rei D. Manuel deu foral, em Lisboa, a 23 de agosto de 1514 (Livros dos forais novos da Extremadura, fl. 95, v., col. 1,º).   É terra muito fértil em todos os géneros agrícolas do nosso país. É nesta freguesia a célebre lagoa do Bom Sucesso. Ora, pelo que precede, poderemos concluir que Pinho Leal não aprofundou os dados históricos sobe a freguesia de Quiaios ao contrário daquilo que f...

Diz o povo. Provérbios de outubro

  Outubro quente traz o Diabo no ventre. Em Outubro ou secam as fontes, ou passam os rios por cima das pontes. Em Outubro o lume já é amigo. Pelo São Francisco (4 de outubro) semeia o centeio e o trigo; e a velha que o dizia, já semeado o tinha. Pelo S. Simão (28 de outubro), favas no chão. Outubro chuvoso faz ano venturoso. Pelo São Simão e São Judas (28 de outubro) já colhidas estão as uvas. Em Outubro centeio ruivo. Em Outubro pega tudo. Em Outubro sê prudente: guarda o pão, guarda a semente. PROVÉRBIOS NESTE SITE  |  E NESTE

Uma incursão até à Orca de Forles

  Após uma refeição bem degustada na Tasca Alentejana, em Águas Boas, e depois de uma sobremesa condimentada por uma saborosa tertúlia entre livres-pensadores, eis que a orca de Forles, a norte do concelho de Sátão, ali estava mesmo à mão para uma visita! Bem, bem… mesmo à mão nem por isso! Idos de Forles e depois de nos ser anunciada a 1700 m de distância eis que as encruzilhadas surgiram e nem mais uma placa indicativa, para quem ia por aquele caminho. Com recurso ao Google Earth lá conseguimos chegar. A Orca de Forles, um dos primeiros dólmens da Beira Alta a ser inventariado e escavado em 1896 por Leite de Vasconcelos , esse vulto da arqueologia, apresenta-se hoje como um monumento restaurado, supostamente com a sua configuração e traça inicial. Como os demais da Beira Alta “a primeira fase de uso deste monumento deve ter acontecido há cerca de seis mil anos.” Porém, a maior parte dos utensílios e artefactos exumados nas escavações de 2020/21, que deram origem a esta re...

Os que nasceram no nosso ano são o nosso melhor espelho

  Há uns largos anos que um grupo (sempore aberto) de nascidos em 1959, de Sátão e arredores, é convocado para assinalar a passagem de mais um aniversário, o que não é novidade, pois os dos restantes anos fazem exatamente o mesmo. Não quero, com esta despretensiosa crónica, dizer-vos, apesar de ser uma verdade óbvia, facilmente verificável em qualquer polígrafo, que a colheita de 1959 é a pior de todas, à exceção das demais! Não fiquem magoados os restantes, mas é verdade. Cada um de nós — os de 1959 — é um poço de virtudes. Mas deixemo-nos desta conversa até porque eu bem sei o que dizem os que nasceram em todos os outros anos! Portanto, encerremos esta parte com um empate! Bem, mas depois deste breve proémio, vamos lá então ao meu ponto, este bem mais sério, que radica na conversa que temos connosco próprios quando vamos a estas comemorações ou quando de lá vimos e rebobinamos o filme do dia. É que, por mais que julguemos o contrário, o tempo passa, passou, e estes enco...

Fontes de Castelo Branco em finais do século XIX, segundo Pinho Leal

Transcrevemos aquilo que é dito no 2.º volume do Diccionário de Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno , editado em 1874 pela Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia para dar nota das fontes de Castelo Branco na segunda metade do século XIX. Nesta obra composta por doze volumes, o autor aborda aspetos geográficos, estatísticos, corográficos, heráldicos, arqueológicos, históricos, biográficos e etimológicos de “todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande número de aldeias”. Para além de se referir às fontes, Pinho Leal ainda acrescenta as suas qualidades para a saúde das pessoas e dos animais. Ora veja o texto que se segue com ortografia da época: “Entre as varias fontes publicas d’esta cidade, ha uma, a distancia de 2 kilometros ao S., de aguas ferreas, muito recomendadas pelos medicos, para certos padecimentos. A fonte da Graça, de uma só bica, é de agua muito adstringente e dizem que cura a dôr de pedra. Na Deveza, existe um pôço, chamado da Páq...

O que é que Zé Penicheiro tem a ver com a Praia de Quiaios?

Foram vários os artistas plásticos ( AQUI ) que ao longo do tempo se encantaram e renderam à Praia de Quiaios, para além dos inúmeros realizadores ( AQUI ) e fotógrafos que captaram com as suas câmaras os excelentes enquadramentos da Serra da Boa Viagem e do mar que beija o extenso areal, a norte. Trazemos hoje à colação o artista plástico de renome internacional Zé Penicheiro que nasceu em Candosa, no concelho de Tábua em 1921 e faleceu, em 2014, na Figueira da Foz , onde foi sepultado. Mas como não se pretende nesta breve crónica traçar a biografia do artista, vamos, tão só, deixar breves notas sobre a sua ligação à Praia de Quiaios. Desde logo porque ele tinha casa, precisamente, no n.º 9 da “Rua Galeria Convés”, que assim foi batizada em homenagem ao mestre. É que Zé Penicheiro havia criado em Aveiro, junto à Praça do Peixe, uma pequena galeria, que também funcionava como o seu atelier/estúdio, onde teve alguns jovens discípulos que queriam aprender as suas técnicas e a que deu...

Carmo: o mais recente álbum de José Pedro Pinto

Depois de Misericórdia em 2021 e Liturgia em 2023, é agora, em 2025, a vez de o compositor e músico José Pedro Pinto lançar o álbum Carmo , gravado no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu. Este projeto, que reúne um conjunto de originais, está radicado, principalmente, no órgão de tubos do século XVIII, construído por Fontanes, que foi, este ano, instalado neste museu nacional. Porém, este álbum é musicalmente multifacetado, uma vez que, para além do órgão e da guitarra clássica, que o próprio músico e compositor interpretou, também concilia o acordeão, por Sónia Sobral, as flautas, por Inês Correia e Joana Matos, e a voz de Teresa Queirós na leitura de textos clássicos, modernos e da atualidade, abordando temáticas universais. O álbum Carmo , que contou com apoios da DGArtes, Museus e Monumentos de Portugal, Museu Nacional Grão Vasco, Museu Nacional da Música e do Município de Viseu, está disponível em todas as plataformas de streaming. Para além disso, no YouTube, são disponibi...

Palheiros e espigueiros, construções em vias de extinção

  As paisagens rurais das aldeias da Beira Alta eram, outrora, por alturas do equinócio de setembro — quando ambos os hemisférios se encontram igualmente iluminada pelo Sol —, dominadas por duas construções que se têm vindo a perder e que hoje estão em vias de extinção: os palheiros e os espigueiros. Os palheiros eram construções de palha que se faziam anualmente durante a malhada, depois de aquela ser debulhada durante a sua passagem pelo tambor da malhadeira. Refira-se que a malhada era uma das atividades agrícolas mais difíceis de executar, sobretudo pelo pó e pelas praganas que se libertavam do centeio ou do trigo durante tal operação. A propósito, acrescente-se que, igualmente, era sempre um encanto para a pequenada assistir à operação de malhar o centeio que começava com a instalação da malhadeira amarela — feita pela família Mota de Águas Boas, uma marca que ainda hoje perdura — nas eiras das aldeias. Com os esbugalhados seguiam toda a operação sem perder pitada. Da máqu...

Excelente serão cultural, com Bagão Félix, na Biblioteca da Figueira da Foz

  Sempre gostei de conhecer o lado B das propostas, dos projetos e das pessoas. Ficarmos restringidos a um único olhar, a uma só perspetiva, à narrativa exclusiva, reduz a nossa capacidade de decidir, de encontrar o melhor caminho e de ajuizar bem seja sobre aquilo que for ou sobre quem for. Vem isto a propósito da sessão que teve lugar ontem à noite, 18 de setembro, na Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás, na Figueira da Foz. Eu conhecia o lado A de António Bagão Félix. O de político, de ministro, o de economista, em suma o de figura pública. Bem, ontem, nas “5.as de Leitura”, em torno do último livro de Bagão Félix, Quarenta Árvores em discurso direto, pude conhecer o seu outro lado, o seu lado B. E se eu até nutria alguma simpatia por ele, embora sendo nós de áreas diferentes, ele da democracia cristã, conservador, e eu da área do socialismo democrático e da social-democracia — signifique esta taxonomia política aquilo que significar —, agora fiquei rendido ao convers...

Etnografia Portuguesa, de Leite de Vasconcellos

  Quando queremos conhecer as raízes mais profundas da nossa cultura, mais genuínas e autênticas, nada como ir ver aquilo que nos dizem os mestres. Neste caso o que nos diz José Leite de Vasconcelos, um dos mais ilustres e eméritos vultos portugueses da filologia, da etnografia e da arqueologia. Nascido na Ucanha em 1858, concelho de Tarouca, José Leite de Vasconcelos dedicou a sua vida em pesquisas, investigação de documentos e conversas com os seus e nossos conterrâneos portugueses, de lés a lés, seus contemporâneos. E aquilo que nos deixou é ainda hoje uma tratado, uma antologia, um repositório dos saberes e das vivências da vida de múltiplos lugares deste rincão à beira mar plantado. Hoje passei os olhos por alguns dos múltiplos aspetos por ele tratados. É bem verdade que a obra tem X volumes e o mestre faleceu quando estava a iniciar o IV. Porém, houve quem lhe deitasse a mão, dentre eles esse mago da Geografia, Orlando Ribeiro, e nos deixasse este magnífico legado. Uma ...

Caixotim: uma livraria de charme, em Castelo Branco

Livraria Caixotim , fica na rua do Pina, n.º 16, na capital da Beira Baixa. Fica no centro da cidade e bem próxima de diversos espaços icónicos de Castelo Branco, como o Museu Cargaleiro e o Jardim do Paço Episcopal. Fomos lá a propósito de um recital de poesia, no caso de Afonso Carrega — pelas vozes de Maria de Lurdes Gouveia Barata , Ana Leal Oliveira e de Ana Mónica — e de uma exposição de pintura de Joaquim Picado . Mas não vos vamos falar do evento que, diga-se com inteira justiça, foi muito agradável e carregado de boas declamações, para além de uma viagem erudita e sapiente de Paulo Samuel — o orador e moderador — aos interstícios da poesia, com laivos interpretativos do conteúdo poético do autor dos poemas. Vamos falar-vos, isso sim, do espaço. Daquele espaço em concreto. Desde logo o nome próprio da livraria, a marca, Caixotim , uma palavra que nos remete para os processos analógicos de impressão de livros, que Gutenberg inventou. Que nos leva até às tipografias e ...