Bem sei que são mais conhecidos por “potes floridos”, mas
gostei particularmente de lhe ter ouvido chamar “cantarinhos”.
- Cantarinhos ou cantarinhas? – questionei, eu.
- Cantarinhas é em Buarcos, aqui são os cantarinhos – disse-me
a minha interlocutora, com a experiente certeza dos muitos anos já vividos.
Foi, pois, no dia 1 de maio deste ano que fui surpreendido
por uma deliciosa ‘manifestação’ de mulheres com cantarinhos floridos à cabeça,
pelas ruas da vila de Quiaios. O ritmo, mais de marcha ou de valsa, era marcado
pela tuna que acompanhava aquela arruada.
Apreciei, mais de perto, pouco depois, todo aquele aparato
no largo padre Costa e Silva. As mulheres, as crianças, os cantarinhos e os
inúmeros cestos com flores.
Os cantarinhos, o centro de todo aquele décor, ostentavam exteriormente arranjos florais sofisticadíssimos, quais vestes domingueiras feitas em segredo, brotando do seu interior flores diversas. E se os cravos dominavam, por lá também havia estrelícias, jarros e tantas outras flores da época, ou não estejamos na primavera.
Mas aquilo que mais me haveria de surpreender e cativar estava
para vir. Foi a agilidade com que as mulheres de todas as idades, bem hirtas,
equilibravam os cantarinhos na sua cabeça, sem tergiversar. Assentes sobre rodilhas
era um regalo vê-las a caminhar e a dançar à roda sem que os seus cantarinhos se
estatelassem na calçada.
Soube depois que se tratava de uma tradição antiga. Da
tradição “VIVA O MAIO”, conforme consta no pedestal de um monumento
erigido no largo de São Sebastião, junto à sede do GIRQ (Grupo de Instrução e Recreio Quaiense), onde ainda se pode
ler que “... na madrugada do 1º domingo de Maio, enquanto as raparigas
enfeitavam os potes para dançarem pelas ruas ao romper da aurora, os rapazes
enchiam os largos com alfaias agrícolas”.
É bem verdade que nestes tempos hipermodernos as alfaias
agrícolas estão mais nos museus, mas, depois de bem olhar em redor, vi que
foram substituídas por uma bicicleta e vasos em cima da paragem do autocarro e
por móveis e diversos utensílios espalhados pelo largo.
Cumpriu-se mais uma vez “VIVA O MAIO” e, cumprindo-a, com a
sua organização anual, o GIRQ continua transmiti-la às novas gerações e a manter
bem viva a alma do seu povo.
Acácio Pinto
Link: QUIAIOS | FIGUEIRA DA FOZ