“A Baba do Lobo”: dos tempos loucos do volfrâmio à
atualidade consumista
“A Baba do Lobo” é um espetáculo que partindo dos tempos
loucos da exploração e comercialização de volfrâmio e de outros recursos, nos
questiona sobre a atualidade, infrene, de consumo de recursos.
E não haveria tempo mais próprio para esta coprodução subir
à cena do que este tempo em que vivemos, de guerra e de incerteza mundiais.
Em Portugal, outrora, esventrou-se a terra para dela extrair
o volfrâmio, esse ouro negro tão necessário à indústria militar. Esse minério
que tanta riqueza e tanta pobreza fez entre nós. Que tanto matou, com o pó da
mina. Hoje, com os rearmamentos em curso, em todas as geografias, vai-se de
novo ao ventre da terra, ao minério. Ao volfrâmio, mas também ao lítio, níquel,
cobalto… e às célebres terras raras.
Seja Segunda ou Primeira, do Leste ou do Sul, seja qual
guerra for, já percebemos, lá estão os do costume à cata deles, dos recursos.
Dos metálicos, dos não metálicos, dos energéticos, das rochas… enfim, de tudo
aquilo que, afinal, dá dinheiro. Tudo lhes serve.
Mas só há uma Terra, exclamarão. Não importa. A vida é
assim! Já ontem assim era! Mandarão dizer as vozes do poder.
E os seres humanos? Os trabalhadores? Os soldados? Vão morrer? Por asfixia? À fome? Sob a terra ou sob as bombas? A única condição para se morrer é estar vivo. Sempre assim foi! Dirão os ‘deuses’ que nos governam.
Uma produção luso-brasileira | Cem Palcos e Teatro Vila
Velha
Pois bem, é disto, do que precede, que “A Baba do Lobo” nos
fala. É um olhar artístico ancorado em dois continentes, na Europa e na
América, em Portugal e no Brasil, dirigido por Graeme Pulleyn (PT) e Marcio
Meirelles (BR). De um lado está a companhia Cem Palcos e do outro
está o Teatro Vila Velha.
Em palco estão a Leonor Keil (PT) e a Cristina Castro (BR),
as “Hildas”, que nos trazem uma linguagem interpelante, crua, num jogo de
movimentos do corpo e de palavras que se entretecem. Que nos arrastam para o pó
da mina. Para o negócio clandestino. Para um mundo que, quantas vezes, parece
não ter conserto.
E se o espetáculo estreou no Brasil, em Salvador da Bahia,
entre 5 e 10 de junho, em Portugal ele já subiu à cena em Viseu, na Sala
Estúdio do Círculo de Criação Contemporânea. Agora o espetáculo vai
andar por aí. Pelo país.
A criação baseia-se em textos originais escritos a quatro
mãos pelos dramaturgos Mónica Santana (BR) e Sandro William Junqueira (PT), a
partir de encontros com comunidades dos concelhos de Viseu, Moimenta da Beira,
São Pedro do Sul, Sátão, Vila Nova de Paiva e Vouzela. O projeto parte da
escuta ativa de testemunhos, revisitando o passado mas com os olhos postos na
realidade contemporânea e nos desafios que se apresentam no futuro: “Não se
trata apenas de revisitar o passado, mas de convocar uma consciência coletiva
sobre o presente”, explica a equipa criativa.
CALENDÁRIO
26 junho, 2025. 19h – O Teatrão- Oficina Municipal de Teatro
de Coimbra.
28 junho, 2025. 21h30 – Cineteatro Municipal João Ribeiro,
Vouzela.
29 junho, 2025. 17h00 – Cineteatro Municipal de Sátão.
4 agosto, 2025. 21h30 – Auditório Municipal Carlos Paredes,
Vila Nova de Paiva.
15 agosto, 2025 – Festival Altitudes, Teatro Regional da
Serra do Montemuro.
21 Setembro, 2025 – Município S. Pedro do Sul.
NOTA
Foi com gosto que colaborei com o Graeme Pulleyn e com toda
a equipa aquando da sua deslocação a Vila Nova de Paiva e à Queriga, em
concreto, para se inteirarem daquela que foi uma das realidades de exploração
de volfrâmio aquando da Segunda Guerra Mundial. A minha colaboração teve por
base um conjunto de investigações que efetuei neste âmbito aquando da escrita
do meu romance O Volframista.