A noite de São João começava sempre à tarde, com uma ida à
serra para apanhar rosmaninhos.
Com o carro de mão, a sachola e uma corda, lá íamos nós
caminho adiante, até à corga da Raposa apanhar os rosmaninhos floridos.
Depois era acamá-los no carro, amarrá-los com a corda e
fazer a viagem de regresso, não sem antes bebermos água na fonte das Perdizes.
À noite, o caldo e as batatas com o conduto eram deglutidos
com rapidez. A rua começava a encher-se e não podíamos perder pitada.
Até porque tínhamos de ir ajudar o tio Fernando a lançar o
balão que todos os anos lhe ajudávamos a fazer, colando o papel vegetal com
farinha triga numa estrutura de canas e arame. Na boca do balão o tio Fernando
colocava uma mecha, feita de serapilheira, embebida em petróleo. Depois era
colocar o balão sobre uma fogueira, para que se fosse enchendo de fumo e só
então era acesa a mecha para que o ar não arrefecesse e a sua rota fosse a
maior possível.
Como o vento de levante era dominante o balão subia, subia e
começava a dirigir-se para poente até desaparecer por detrás da mata que
ladeava a aldeia.
Depois era saltar as fogueiras dos rosmaninhos enquanto os
mais velhos, ao som da música que saía das colunas de um gira-discos, dançavam
sem parar.