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Foto: Município da Figueira da Foz |
“A Corrida Mais Bonita de Portugal”? Sim. E no resto ano?
Concordo com o nome encontrado pela organização para
traduzir, de forma apelativa, a corrida/caminhada que se realizou, pela segunda
vez, neste fim de semana entre a Praia de Quiaios e a Figueira da Foz. Tratou-se
de “A Corrida Mais Bonita de Portugal”.
Porém, não compreendo a contradição que tal nome encerra. Trata-se
mesmo de um paradoxo. Ou seja, a organização, a cargo do município da Figueira da Foz, adotou um nome (o melhor nome que poderia, sem dúvida!) só que
inconsequente nos restantes dias do ano.
E passo a explicar o meu ponto.
Recuemos quatro anos, a 2021, quando por opção do município (não
importa para aqui quem verdadeiramente tomou a decisão ou quem a executou), aquele
percurso marginal, de rara e soberba beleza, entre a Murtinheira e o Farol, foi
pavimentado. E, desde tal decisão, aquele trajeto, ou aquele trilho, que
precisava de facto de uma requalificação, ficou exclusivamente aberto à
circulação de veículos.
"se ela é bonita para dar o nome a uma corrida também era bonita para o usufruto diário"
Ora, assim sendo, os inúmeros caminhantes que faziam daquele
percurso pedestre um dos seus trajetos deixaram de o poder fazer. Deixaram de
poder usufruir do bem público que é aquela paisagem. É que se ela é bonita para
dar o nome a uma corrida também era bonita para o usufruto diário e não num
único dia no ano, em caminhada ou em corrida.
Bem sei que esta minha opinião não é pacífica. Haverá outros
pontos de vista, respeitáveis, com certeza. Desde logo o do município e dos
seus autarcas. Soberanos nas suas decisões. E bem sei que poderão encontrar
argumentos de vulto. Mais de natureza económica.
As dormidas, as refeições e todas as fotografias que os 4000
participantes deste ano não deixarão de efetuar nas suas redes sociais, são importantes,
só é pena que não sejam distribuídas por todo o ano. Quiçá, ainda mais!
"Dificilmente se encontrarão razões ambientais ou de saúde individual ou pública para impedir a circulação pedonal permanente"
Dificilmente se encontrarão razões ambientais, lato sensu, ou de saúde individual ou pública
para impedir a circulação pedonal permanente. Antes pelo contrário.
Tratando-se, então, hoje, do fim de semana da realização de
mais uma “A Corrida Mais Bonita de Portugal”, entendi deixar aqui o meu ponto
de vista, a minha opinião.
Aquele percurso, de
uma radical beleza, não deveria ter sido usurpado aos caminhantes durante todo
o ano.
Pelo meu ponto, que precede, impõe-se encontrar uma solução.
Estamos a tempo. E este ano até é mais propício a tais reflexões e compromissos!
Portanto, espero que se debata este tema e que as decisões que se venham a
adotar sejam mais amigas das pessoas e respeitadoras do património geológico da
Serra da Boa Viagem e do Cabo Mondego que, como se sabe, é um Monumento Natural
e que, inclusivamente, poderia/poderá ser candidatado a Património Mundial da
Unesco.
Ora, com a exclusividade de veículos e sem as pessoas ali
poderem circular, não vejo que se esteja a respeitar o Monumento e que se possa
almejar um desiderato favorável como Património Mundial.
Acácio Pinto, 15.06.2024
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