Ainda não estamos refeitos das
últimas maldades que estão a ser levadas a cabo contra a escola pública –
cheque ensino, estatuto do particular e cooperativo, por exemplo – e já uma
outra bomba está na linha de montagem – redução da escolaridade obrigatória
para nove anos.
E se todas estas medidas são de
uma forte agressividade ideológica contra o sistema de educação pública e se
posicionam numa linha dissonante do nosso texto constitucional e também numa
pista inversa daquelas que são as políticas defendidas pelos organismos
internacionais de que somos parceiros (UE, UNESCO, OCDE), permito-me destacar
esta última “pérola”, trazida pelos jovens do CDS, como aquela que,
simbolicamente, mais carga negativa encerra.
É que esta proposta, abominável,
“parida” por uns jovens de linhagem elitista, aquilo que quer, verdadeiramente,
é matar a igualdade de oportunidades e reproduzir, portanto, as desigualdades
sociais.
É a velha teoria da criação de
uma sociedade dual, de uma sociedade em que à nascença cada um (a maioria)
fica, desde logo matriciado para a “ferrugem”, para ser “músculo” e outros (bem
menos) estão destinados a ser “colarinho branco”, a ser “cérebro”.
Mas não tenhamos ilusões, esta é
uma vaga de radicalização das políticas que surge por dentro do CDS, mas que
creio não fará escola.
Ainda sou daqueles que entendem
que o CDS – sendo um partido forjado nos valores da democracia cristã, do
humanismo, que teve dirigentes, como Amaro da Costa, Freitas do Amaral, Adriano
Moreira e Bagão Félix, só para citar alguns, apesar de posições marcadamente
ideológicas, de direita – não vai enveredar por este caminho do obscurantismo,
por este caminho de regresso à idade das trevas.
Aquilo que se espera é que o bom
senso regresse e que o CDS, agora com uma liderança relegitimada, se possa
concentrar em aspetos muito mais relevantes para o nosso sistema educativo e
que tardam em encontrar resposta; que o CDS se dedique a estabelecer
plataformas alargadas, para além da coligação, que visem o governo da educação
em Portugal a médio prazo.
Três exemplos:
O que é que Portugal quer fazer
dos professores portugueses que andam há anos e anos, há décadas, a contrato a
termo? Será que alguém acha que a discriminação e a precariedade é a solução?
O que é que Portugal acha do
desinvestimento que se está a operar na escola pública e que está a colocar em
causa a escola inclusiva, a escola para todos?
O que é Portugal quer fazer aos
mais de dois milhões de trabalhadores portugueses que, nos censos de 2011,
tinham habilitações inferiores ao ensino secundário?
Entre muitos outros, estes, sim,
seriam bons temas para aprofundar o debate no âmbito da educação.
Acácio Pinto
Rua Direita | Diário de Viseu