in: Correio Beirão |
«Se qualquer
um de nós estiver, nestes tempos da hipermodernidade, uma semana ou quinze dias
sem ler jornais, sem ouvir rádio e sem ver televisão não se pode dizer que
cortámos as nossas acessibilidades com o mundo envolvente.
E não cortámos
porque para além dessa comunicação social, dita, tradicional, existe, hoje, uma
vasta gama de comunicação que podemos chamar de “comunitária”, através da 'web', das redes sociais, que nos trazem,
tanto ou mais 'just in time', tudo
quanto se passa neste mundo de prosa agressiva e dura que nos envolve. É que, e
bem o sabemos, hoje nem sempre o jornalista é o primeiro a chegar ao local da
ocorrência e a comunicar o facto. Antes dele o fazer já as descrições e fotos
do acontecimento circulam nas mais variadas redes.
Quero,
então, com isto, dizer que a comunicação social tradicional é prescindível, no
nosso quotidiano?
Nada disso.
Quero, tão só, significar que estamos hoje confrontados com formas, as mais
diversas, de comunicar, mas exigindo, todas elas, cada vez mais, um olhar
crítico por parte dos “consumidores” dos conteúdos.
E se nas
plataformas estruturadas podemos ler e perceber os seus estatutos editoriais,
cuja publicação é obrigatória, dos quais se gosta ou não, já nestes meios de “comunicação
comunitária”, vulgo redes sociais, tal linha é muito mais fluída e depende
sempre muito da pessoa que está a montante e que muitas vezes até pode estar a
operar sob um perfil falso e, portanto, os seus intuitos podem ser os mais
diversos.
Também não
quero com isto dizer que tudo quanto corre e percorre, os blogues, o 'facebook', ou o 'twitter', só para falar destas realidades maiores, não seja credível.
Nada disso. Aliás,
temos nestas redes muito boa informação e comunicadores de excelência,
verdadeiros jornalistas, investigadores e repórteres, que desempenham, alguns
deles, um papel insubstituível nos nossos contextos profissionais e
territoriais e dos quais muitos cidadãos começam a depender diariamente para se
informarem e para formarem a sua mundividência. Direi, até, que muitos destes
novos e excelentes comunicadores deveriam fazer corar de vergonha os tradicionais
órgãos de comunicação, que, apesar dos meios ao dispor, não lhes chegam nem aos
calcanhares!
Tudo o que
precede serve, tão só, para dizer que não partilho da visão de que hoje existe
uma cacofonia comunicacional, mas sim que o nosso olhar tem que ser muito mais
crítico e muito mais atento e seletivo perante estas multiplataformas que nos
rodeiam e que connosco querem interagir.
Face ao que
precede, faço dois votos: i) ao CORREIO BEIRÃO, para que tenha uma linha
editorial exigente; ii) aos leitores, para que tenham um olhar crítico sobre o
jornal!»
Acácio Pinto
in: Correio Beirão