Todos nós poderemos ter as mais diversas interpretações
sobre os resultados das eleições europeias, em Portugal. Cada um de nós as pode
olhar e escalpelizar sobre os mais diversos ângulos, mas para a história vão
ficar duas coisas muito simples: o PS ganhou e a direita não só perdeu como
teve o pior resultado eleitoral de sempre.
Ou seja, o PSD e CDS coligados, a Aliança Portugal, foram
derrotados de uma forma clamorosa pelo voto dos portugueses. E não se pense que
esta derrota se deveu à descrença dos portugueses para com as propostas para a
Europa destes dois partidos, de que nenhumas se conhecem, nem agora nem nos
últimos três anos, que não fossem redundâncias das opções de Angela Merkel.
Este voto dos portugueses, e um pouco por toda a União, foi
de profunda reprovação da política de austeridade expansionista na Europa e em
Portugal. Foi reprovação de uma política insensível, completamente insensível,
aos problemas sociais das pessoas e que deu como resultado o alargamento do
fosso entre os ricos e os pobres. Cortes nas pensões e nos salários e aumento
de impostos não é, direi mesmo, nunca foi uma boa via para o crescimento da
economia e do emprego.
Cabe, portanto, ao PS, a partir de agora, assumindo a vitória
que os portugueses lhe tributaram, construir e operacionalizar o seu percurso
de esperança e devolver aos portugueses a autoestima que Passos e Portas lhes subtraíram.
Aprofundar, abrir e densificar o contrato de confiança que António José Seguro
apresentou na convenção nacional do novo rumo é o grande desafio que o PS tem
pela frente, transformando-o num programa eleitoral congregador e aglutinador
de diversos pontos de vista.
E o PS, como o partido europeu com melhor performance dentro
do PSE, tem, igualmente, sobre si e sobre Francisco Assis, que travou este
combate de uma forma empolgante, a responsabilidade de ser, no Parlamento
Europeu, a voz que se enfoque nas tão necessárias ruturas com esta política
europeia e que se centre em torno de um novo horizonte e de um novo desafio que
passe pelo apoio às empresas, à economia e ao emprego. Afinal, que pugne por
uma Europa mais social em que as pessoas estejam, inequivocamente, à frente dos
interesses meramente financeiros e bancários, de tão má memória, em Portugal,
na Europa e no mundo.
Uma palavra para a abstenção. Uma palavra de preocupação, com certeza, mas sobretudo a expectativa de que esta abstenção seja um desafio, para todos nós, de reflexão sobre o nosso discurso e, essencialmente, um desafio para a necessidade de falarmos claro e de falarmos verdade aos portugueses.
Uma palavra para a abstenção. Uma palavra de preocupação, com certeza, mas sobretudo a expectativa de que esta abstenção seja um desafio, para todos nós, de reflexão sobre o nosso discurso e, essencialmente, um desafio para a necessidade de falarmos claro e de falarmos verdade aos portugueses.
Acácio Pinto
Diário de Viseu