Desde há uns largos anos que um grupo (sempore aberto) de nascidos em 1959, de Sátão e
arredores, são convocados para assinalar a passagem de mais um aniversário, o
que não é novidade, pois os dos restantes anos fazem exatamente o mesmo.
Não quero, com esta despretensiosa crónica, dizer-vos,
apesar de ser uma verdade óbvia, facilmente verificável em qualquer polígrafo,
que a colheita de 1959 é a pior de todas, à exceção das demais! Não fiquem
magoados os restantes, mas é verdade. Cada um de nós — os de 1959 — é um poço
de virtudes.
Mas deixemo-nos desta conversa até porque eu bem sei o que
dizem os que nasceram em todos os outros anos! Portanto, encerremos esta parte
com um empate!
Bem, mas depois deste breve proémio, vamos lá então ao meu
ponto, este bem mais sério, que radica na conversa temos connosco próprios quando
vamos a estas comemorações ou quando de lá vimos e rebobinamos o filme do dia.
É que, por mais que julguemos o contrário, o tempo passa,
passou, e estes encontros permitem ter ali mesmo à nossa frente, quarenta ou
cinquenta espelhos que não nos enganam. Que não distorcem a nossa imagem. Nem
precisam de falar. De dizer seja lá o que for. Nós olhamos e percebemos tudo.
Nos outros, nós vemos o nosso rosto mais maduro. O nosso corpo mais pesado. Os
movimentos mais lentos. Ou seja, vemos através dos nossos contemporâneos que
estamos todos mais velhos! Não adiante escamotear a situação ou poupar nas
palavras!
Sim, estamos mais velhos, é uma evidência.
Mas esses espelhos e as conversas que se travam também nos
dizem mais. Bastante mais e, quiçá, muito mais importante! Que somos mais experientes. Mais tolerantes. Mais
humanistas. Mais compreensivos. E mais amigos uns dos outros. Foi o que eu
senti neste último encontro. E é nisto que eu creio.
Portanto, estes convívios anuais, a que eu costumo ir,
sempre que posso, se outros méritos não tivessem, têm este, o de nos permitir
situar e tomar consciência do lugar, na linha biológica e cronológica, em que a nossa barca,
que começou a navegar em 1959 — já sem alguns, saudosos, que ficaram pelo caminho — continua
a navegar e a sulcar os mares até um dia, apesar de alguns rombos no casco e
nas velas que cada um vai consertando como pode!
Bom resto de ano e até ao próximo!
NOTA: Foto do Cristo Rei, que foi inaugurado em 1959 (Foto: Artur Inácio Bastos
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