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Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2025

Uma incursão até à Orca de Forles

  Após uma refeição bem degustada na Tasca Alentejana, em Águas Boas, e depois de uma sobremesa condimentada por uma saborosa tertúlia entre livres-pensadores, eis que a orca de Forles, a norte do concelho de Sátão, ali estava mesmo à mão para uma visita! Bem, bem… mesmo à mão nem por isso! Idos de Forles e depois de nos ser anunciada a 1700 m de distância eis que as encruzilhadas surgiram e nem mais uma placa indicativa, para quem ia por aquele caminho. Com recurso ao Google Earth lá conseguimos chegar. A Orca de Forles, um dos primeiros dólmens da Beira Alta a ser inventariado e escavado em 1896 por Leite de Vasconcelos , esse vulto da arqueologia, apresenta-se hoje como um monumento restaurado, supostamente com a sua configuração e traça inicial. Como os demais da Beira Alta “a primeira fase de uso deste monumento deve ter acontecido há cerca de seis mil anos.” Porém, a maior parte dos utensílios e artefactos exumados nas escavações de 2020/21, que deram origem a esta re...

Os que nasceram no nosso ano são o nosso melhor espelho

  Há uns largos anos que um grupo (sempore aberto) de nascidos em 1959, de Sátão e arredores, é convocado para assinalar a passagem de mais um aniversário, o que não é novidade, pois os dos restantes anos fazem exatamente o mesmo. Não quero, com esta despretensiosa crónica, dizer-vos, apesar de ser uma verdade óbvia, facilmente verificável em qualquer polígrafo, que a colheita de 1959 é a pior de todas, à exceção das demais! Não fiquem magoados os restantes, mas é verdade. Cada um de nós — os de 1959 — é um poço de virtudes. Mas deixemo-nos desta conversa até porque eu bem sei o que dizem os que nasceram em todos os outros anos! Portanto, encerremos esta parte com um empate! Bem, mas depois deste breve proémio, vamos lá então ao meu ponto, este bem mais sério, que radica na conversa que temos connosco próprios quando vamos a estas comemorações ou quando de lá vimos e rebobinamos o filme do dia. É que, por mais que julguemos o contrário, o tempo passa, passou, e estes enco...

Fontes de Castelo Branco em finais do século XIX, segundo Pinho Leal

Transcrevemos aquilo que é dito no 2.º volume do Diccionário de Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno , editado em 1874 pela Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia para dar nota das fontes de Castelo Branco na segunda metade do século XIX. Nesta obra composta por doze volumes, o autor aborda aspetos geográficos, estatísticos, corográficos, heráldicos, arqueológicos, históricos, biográficos e etimológicos de “todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande número de aldeias”. Para além de se referir às fontes, Pinho Leal ainda acrescenta as suas qualidades para a saúde das pessoas e dos animais. Ora veja o texto que se segue com ortografia da época: “Entre as varias fontes publicas d’esta cidade, ha uma, a distancia de 2 kilometros ao S., de aguas ferreas, muito recomendadas pelos medicos, para certos padecimentos. A fonte da Graça, de uma só bica, é de agua muito adstringente e dizem que cura a dôr de pedra. Na Deveza, existe um pôço, chamado da Páq...

O que é que Zé Penicheiro tem a ver com a Praia de Quiaios?

Foram vários os artistas plásticos ( AQUI ) que ao longo do tempo se encantaram e renderam à Praia de Quiaios, para além dos inúmeros realizadores ( AQUI ) e fotógrafos que captaram com as suas câmaras os excelentes enquadramentos da Serra da Boa Viagem e do mar que beija o extenso areal, a norte. Trazemos hoje à colação o artista plástico de renome internacional Zé Penicheiro que nasceu em Candosa, no concelho de Tábua em 1921 e faleceu, em 2014, na Figueira da Foz , onde foi sepultado. Mas como não se pretende nesta breve crónica traçar a biografia do artista, vamos, tão só, deixar breves notas sobre a sua ligação à Praia de Quiaios. Desde logo porque ele tinha casa, precisamente, no n.º 9 da “Rua Galeria Convés”, que assim foi batizada em homenagem ao mestre. É que Zé Penicheiro havia criado em Aveiro, junto à Praça do Peixe, uma pequena galeria, que também funcionava como o seu atelier/estúdio, onde teve alguns jovens discípulos que queriam aprender as suas técnicas e a que deu...

Carmo: o mais recente álbum de José Pedro Pinto

Depois de Misericórdia em 2021 e Liturgia em 2023, é agora, em 2025, a vez de o compositor e músico José Pedro Pinto lançar o álbum Carmo , gravado no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu. Este projeto, que reúne um conjunto de originais, está radicado, principalmente, no órgão de tubos do século XVIII, construído por Fontanes, que foi, este ano, instalado neste museu nacional. Porém, este álbum é musicalmente multifacetado, uma vez que, para além do órgão e da guitarra clássica, que o próprio músico e compositor interpretou, também concilia o acordeão, por Sónia Sobral, as flautas, por Inês Correia e Joana Matos, e a voz de Teresa Queirós na leitura de textos clássicos, modernos e da atualidade, abordando temáticas universais. O álbum Carmo , que contou com apoios da DGArtes, Museus e Monumentos de Portugal, Museu Nacional Grão Vasco, Museu Nacional da Música e do Município de Viseu, está disponível em todas as plataformas de streaming. Para além disso, no YouTube, são disponibi...

Palheiros e espigueiros, construções em vias de extinção

  As paisagens rurais das aldeias da Beira Alta eram, outrora, por alturas do equinócio de setembro — quando ambos os hemisférios se encontram igualmente iluminada pelo Sol —, dominadas por duas construções que se têm vindo a perder e que hoje estão em vias de extinção: os palheiros e os espigueiros. Os palheiros eram construções de palha que se faziam anualmente durante a malhada, depois de aquela ser debulhada durante a sua passagem pelo tambor da malhadeira. Refira-se que a malhada era uma das atividades agrícolas mais difíceis de executar, sobretudo pelo pó e pelas praganas que se libertavam do centeio ou do trigo durante tal operação. A propósito, acrescente-se que, igualmente, era sempre um encanto para a pequenada assistir à operação de malhar o centeio que começava com a instalação da malhadeira amarela — feita pela família Mota de Águas Boas, uma marca que ainda hoje perdura — nas eiras das aldeias. Com os esbugalhados seguiam toda a operação sem perder pitada. Da máqu...

Excelente serão cultural, com Bagão Félix, na Biblioteca da Figueira da Foz

  Sempre gostei de conhecer o lado B das propostas, dos projetos e das pessoas. Ficarmos restringidos a um único olhar, a uma só perspetiva, à narrativa exclusiva, reduz a nossa capacidade de decidir, de encontrar o melhor caminho e de ajuizar bem seja sobre aquilo que for ou sobre quem for. Vem isto a propósito da sessão que teve lugar ontem à noite, 18 de setembro, na Biblioteca Municipal Pedro Fernandes Tomás, na Figueira da Foz. Eu conhecia o lado A de António Bagão Félix. O de político, de ministro, o de economista, em suma o de figura pública. Bem, ontem, nas “5.as de Leitura”, em torno do último livro de Bagão Félix, Quarenta Árvores em discurso direto, pude conhecer o seu outro lado, o seu lado B. E se eu até nutria alguma simpatia por ele, embora sendo nós de áreas diferentes, ele da democracia cristã, conservador, e eu da área do socialismo democrático e da social-democracia — signifique esta taxonomia política aquilo que significar —, agora fiquei rendido ao convers...

Etnografia Portuguesa, de Leite de Vasconcellos

  Quando queremos conhecer as raízes mais profundas da nossa cultura, mais genuínas e autênticas, nada como ir ver aquilo que nos dizem os mestres. Neste caso o que nos diz José Leite de Vasconcelos, um dos mais ilustres e eméritos vultos portugueses da filologia, da etnografia e da arqueologia. Nascido na Ucanha em 1858, concelho de Tarouca, José Leite de Vasconcelos dedicou a sua vida em pesquisas, investigação de documentos e conversas com os seus e nossos conterrâneos portugueses, de lés a lés, seus contemporâneos. E aquilo que nos deixou é ainda hoje uma tratado, uma antologia, um repositório dos saberes e das vivências da vida de múltiplos lugares deste rincão à beira mar plantado. Hoje passei os olhos por alguns dos múltiplos aspetos por ele tratados. É bem verdade que a obra tem X volumes e o mestre faleceu quando estava a iniciar o IV. Porém, houve quem lhe deitasse a mão, dentre eles esse mago da Geografia, Orlando Ribeiro, e nos deixasse este magnífico legado. Uma ...

Caixotim: uma livraria de charme, em Castelo Branco

Livraria Caixotim , fica na rua do Pina, n.º 16, na capital da Beira Baixa. Fica no centro da cidade e bem próxima de diversos espaços icónicos de Castelo Branco, como o Museu Cargaleiro e o Jardim do Paço Episcopal. Fomos lá a propósito de um recital de poesia, no caso de Afonso Carrega — pelas vozes de Maria de Lurdes Gouveia Barata , Ana Leal Oliveira e de Ana Mónica — e de uma exposição de pintura de Joaquim Picado . Mas não vos vamos falar do evento que, diga-se com inteira justiça, foi muito agradável e carregado de boas declamações, para além de uma viagem erudita e sapiente de Paulo Samuel — o orador e moderador — aos interstícios da poesia, com laivos interpretativos do conteúdo poético do autor dos poemas. Vamos falar-vos, isso sim, do espaço. Daquele espaço em concreto. Desde logo o nome próprio da livraria, a marca, Caixotim , uma palavra que nos remete para os processos analógicos de impressão de livros, que Gutenberg inventou. Que nos leva até às tipografias e ...

Prémios Cargaleiro, apresentados nos 20 anos do museu

  O Museu Cargaleiro, em Castelo Branco, assinalou o 20.º aniversário no dia 9 de setembro, com a apresentação dos Prémios Manuel Cargaleiro. Estes prémios, que visam aprofundar e promover a obra do mestre, resultam da vontade da Fundação Manuel Cargaleiro, cujo conselho de administração é presidido por Maria Isabel Leal Brito da Mana, a companheira de vida do mestre. Destinados a artistas, contam com o envolvimento da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, da Câmara de Castelo Branco e da Caixa de Crédito Agrícola Beira Baixa Sul. Os prémios Manuel Cargaleiro terão três categorias. Uma que se destina à revelação de jovens artistas, atribuindo-se bolsas de estudo, outra para a reinterpretação da obra do mestre e uma outra de investigação no âmbito da arte. Lá estive, com gosto, num espaço excelente, localizado na encosta do castelo (parte antiga da cidade) aproveitando para rever algumas das suas obras mais icónicas. O Museu Cargaleiro merece uma visita por par...

Tragédia de Alcafache, 40 anos depois: uma memória que preferia não ter

  Era o dia 11 de setembro de 1985, por volta das dezanove e trinta. Eu estava a trabalhar na sede do PS em Viseu, na Rua 5 de Outubro, na preparação da campanha eleitoral para as legislativas que iriam ter lugar no dia 6 de outubro. Eu era o sétimo candidato a deputado na lista do PS pelo círculo de Viseu, que era liderada por Armando Lopes (ver nota 1). Mas esta crónica não é para vos falar de memórias partidárias. É para vos falar da minha memória do mais grave acidente ferroviário alguma vez ocorrido em Portugal. Lá estávamos, na sede do PS, na sala da secretaria, quando o silvo estridente de uma ambulância nos ecoou nos tímpanos. Antes de termos tempo de perguntar fosse o que fosse, logo outra se anunciou, e mais outra e muitas mais… Fomos à janela e vimos que eram dos bombeiros de Canas, de Nelas, de Mangualde, de Carregal… de todo o lado. O que se terá passado? Sim, soubemos pouco depois que tinha ocorrido um choque de comboios na linha da Beira Alta. Só isso. Ficámo...

Memórias da Feira de Castendo e do senhor Genésio

  Quando me lembro da Feira de Castendo vêm-me de imediato à memória, por mais estranho que pareça, os tremoços e o berbigão. Isto porque sempre que o meu avô ia àquela feira (que se realizava e realiza às sextas-feiras) trazia aqueles dois produtos com que a pequenada lá de casa se deliciava. Os tremoços, comíamo-los com pão de milho, quanto aos berbigões, às escondidas da minha avó e da minha mãe, pois eram para fazer arroz, íamos roubá-los à bacia da água, onde estavam a abrir, e comíamo-los crus. Ainda hoje retenho na minha memória gustativa esses paladares de outrora. Mas a grande excitação foi quando lá fui a primeira vez. Teria uns dez ou onze anos. Foi no início dos anos 70. Apanhámos de manhã cedo a carreira do Berrelhas em Douro Calvo e depois de passarmos pela Silvã e por Rio de Moinhos, onde ela encheu, seguimos diretamente para Castendo. Lá chegados, o movimento no mercado, defronte da Câmara (hoje Loja de Cidadão) era tanto que a minha mãe me agarrou na mão pa...

Figueira da Foz: Inauguração da Linha da Beira Alta contou com o Rei D. Luís em 1882

Estação da Figueira da Foz  A linha da Beira Alta, entre a Figueira da Foz e Vilar Formoso, foi inaugurada com pompa e circunstância pelo Rei D. Luís no dia 3 de agosto de 1882, contando igualmente com a presença do Presidente do Conselho, de ministros e de inúmeras entidades civis, militares e religiosas. Após várias vicissitudes, que não vêm agora ao caso, o troço inicial entre a Figueira e a Pampilhosa (Ramal da Figueira da Foz) foi encerrado e desativadpo em 2009. Regressando à inauguração vamos transcrever a descrição que Bronislaw Wolowski — um jornalista possivelmente de origem polaca que escrevia para um jornal francês — publicou sobre este evento num livro sob o título Les Fêtes en Portugal. Inauguration du chemin-de-fer de la Beira-Alta – Voyage de la famille royale. Notes de souvenirs de voyage . Desse livro, editado pela E. Dentu, de Paris, em 1883, reproduzimos de seguida uma tradução do capítulo “ Pampilhosa – Figueira da Foz ”. As festas oficiais começavam verdad...

Diz o povo. Provérbios de setembro

Em setembro, ardem os montes e secam as fontes. Setembro ou seca as fontes ou levas as pontes. Agosto debulhar, setembro vindimar. Chuvas verdadeiras em setembro as primeiras. Em setembro semeia o teu pão. Em setembro cara de poucos amigos e manhã de figos. Em setembro palha no palheiro e meninas ao candeeiro. Para vindimar deixa setembro acabar. Setembro matou a mãe à sede. Setembro molhado figo estragado. Setembro que enche o celeiro dá lucro ao rendeiro.  Foto: Letras e Conteúdos (Espigueiros de Pendilhe - Vila Nova de Paiva) PROVÉRBIOS NESTE SITE  |  E NESTE