Fomos brindados, há uma semana,
com uma declaração desconcertante da chanceler alemã, Angela Merkel: “Portugal
tem demasiados licenciados”.
Estas declarações, ditas ante
empresários alemães, são reveladoras do verdadeiro sentimento de uma certa
casta de políticos que têm vindo a dominar esta velha Europa nestes últimos
tempos, em que os valores humanistas, da solidariedade, da liberdade, da
igualdade, tão secundarizados têm sido.
No fundo o que esta declaração
quer dizer é que há uns que estão talhados basicamente para o trabalho fabril,
para serem operários e outros, pela nacionalidade de nascimento, têm a “suprema
responsabilidade” de serem dirigentes e investigadores.
Bom, mas será que temos mesmo
licenciados a mais?
Não, não temos. A média da UE é
de 25,3% de população com cursos superiores, a Alemanha tem 25,1% e Portugal,
tem 17,6%. Ora aqui estão os licenciados a mais portugueses!
Sinceramente, senhora chanceler!
Mas há mais. Um dos grandes
objetivos da UE é o de aumentar para, pelo menos, 40% a percentagem da
população na faixa etária dos 30-34 anos que possui um diploma do ensino
superior. Pois bem, Portugal tem neste momento 29,2%, quando a UE tem uma média
de 36,8%. Portanto, também aqui Portugal está muito longe dos valores europeus
e tem muito caminho para andar porque temos licenciados a menos e não
licenciados a mais.
Mas há outro aspeto a considerar.
A outra vertente das declarações de Merkel era a de que aumentássemos os alunos
nos cursos profissionais, em detrimento dos licenciados.
Agradecemos a sugestão, mas o
caminho começou há muito também a ser feito. Ainda estamos aquém dos valores da
União Europeia, mas durante os dois últimos governos do PS triplicou-se o
número de alunos no ensino profissional, passando dos cerca de 30.000 para mais
de 100.000 alunos, o que nestes três últimos anos não teve a mesma
correspondência.
A média de alunos da UE em cursos
profissionais é de 50%, quando em Portugal, hoje, ela atinge cerca de 40%.
Estamos portanto com um duplo
desafio pela frente: aumentar o número de licenciados e aumentar o número de
alunos nos cursos vocacionais. Em suma, assentar no aumento das qualificações o
projeto de competitividade e de desenvolvimento do nosso país.
Só que para resolvermos este desafio
precisamos de outro governo e de outras políticas. Não é com cortes
orçamentais, como aquele que a educação vai ter em 2015, de 700 milhões de
euros, e com políticas elitistas que estão a colocar a igualdade de oportunidades,
no acesso à educação, em segundo plano, que lá chegamos.
Este governo está esgotado.
Precisamos de políticos que pensem diferente e, obviamente, só pensando
diferente podem fazer diferente.
Acácio Pinto
Douro Hoje