Finalmente o
Presidente da República decidiu-se e decidiu, precisamente, aquilo que deveria
ter decidido há quinze dias atrás, que era verdadeiramente a sua vontade:
reempossar o governo velho, maquilhado com um vice-primeiro ministro.
Não era
necessária tamanha hipocrisia. E diga-se que nunca é fácil lidar com estas
formas de estar na política. Objetivamente o que se queria era criar uma
dificuldade ao PS que, de boa-fé, dialogou, negociou e colocou, mais uma vez, o
interesse do país à frente do interesse partidário, o que não sucedeu com
outros, como foi o caso do PSD, como se viu pela intervenção, ainda durante as
negociações, de Passos Coelho aos conselheiros nacionais do seu partido, ao
disparar em várias direções.
Porém, o que
importa agora, mais do que interpretar estes últimos dias, é olhar para o
futuro. E nesse contexto o que se impõe que se diga é que urge uma mudança de
políticas; urge parar a austeridade; urge um novo rumo para Portugal.
Direi mesmo
que é uma emergência esta mudança. Senão veja-se a carta, tornada pública, de
Vítor Gaspar a Passos Coelho, aquando da sua demissão como ministro de estado e
das finanças e iniciador desta crise.
E o que foi
que ele disse de tão importante?
Pois, foi
mesmo que as políticas seguidas por si e pelo seu governo estavam erradas com
os efeitos que, infelizmente, se conhecem através do erro, do grave erro, de
todas as previsões e do agravamento, do forte agravamento, de todos os
indicadores: desemprego, dívida pública, défice.
Portanto, se
for para desenvolver as mesmas políticas, com que o país esteve confrontado
nestes dois últimos anos, melhor fora acabar desde já com esta farsa, com este
faz-de-conta, com este suplício ao povo português que já não sabe para onde se
virar, não para viver, mas para sobreviver.
Continuar a
escavar o buraco da austeridade, para utilizar uma imagem muito em voga, vai
resultar num buraco mais profundo e donde não mais sairemos, aí sim, sem ser de
cócoras perante os cegos interesses financeiros internacionais.
Daí que se
impõe seguir uma outra via. Uma via que termine com este austeritarismo, que
dinamize o tecido económico e empresarial e dê voz a Portugal numa Europa muita
surda aos valores da solidariedade e do respeito de todo o território da união,
em que não pode haver territórios de primeira e de segunda, uma Europa dos
“catedráticos” e uma Europa dos “bons alunos”.
É por isso que esta decisão presidencial, dentro dos limites constitucionais, é verdade, deve manter-nos muito atentos àquilo que aí vem. É que a maquilhagem, nas pessoas como nos governos, nunca resolveu nenhum problema de conteúdo, apenas o ilude e o disfarça.
É por isso que esta decisão presidencial, dentro dos limites constitucionais, é verdade, deve manter-nos muito atentos àquilo que aí vem. É que a maquilhagem, nas pessoas como nos governos, nunca resolveu nenhum problema de conteúdo, apenas o ilude e o disfarça.
Acácio Pinto
Diário de Viseu