O governo tem que perceber, de uma vez por todas, que não
pode prosseguir nesta senda de esvaziamento deste corpo nado há quase nove
séculos.
Este corpo chama-se Portugal, mas podia, muito bem, chamar-se
pelo nome de qualquer um dos leitores, de qualquer um de nós, ou de quem nos
precedeu, construtores permanentes deste território que queremos forte e
saudável.
Vêm estas considerações a propósito do ostracismo e do
esvaziamento a que este governo de direita está a condenar todo o interior do
nosso país. Quer subtrair-lhe os tribunais, as valências de saúde, as urgências
e as freguesias. Quer permitir a monocultura do eucalipto e retirou os apoios
fiscais às empresas do interior, entre um sem número de outros desvarios
políticos que nos corroerão a alma e nos secarão o viver; nos sucumbirão, aos
do interior, mas porventura matarão primeiro os construtores desta matriz de
subdesenvolvimento, desta doença tumoral: macrocefalia do terreiro do paço.
E o resto? O que será o resto para estes arautos defensores
deste modelo de desenvolvimento?
O que é facto é que o resto será um corpo seco, um território
vazio uma árvore oca, corroída no seu interior, cujos ramos cairão, qual
medievo afloramento de lepra.
O rumo tem que ser outro. É urgente que tratemos o nosso país
tal qual tratamos o nosso corpo. Todas as suas partes são importantes, fazem
falta e são necessárias para a criação de um espírito de coesão social e
territorial.
Não são palavras vãs, estas. São palavras que fazem a
diferença, que nos permitem mobilizar as pessoas, que nos darão o folego e o
oxigénio capaz de nos fazer respirar para além de qualquer crise.
E os resultados das políticas que estão a ser seguidas
começam a ser inequívocos de que o caminho está errado. Todos os dias somos
surpreendidos com derrapagens na execução orçamental, com a desobediência do
deficit a Passos Coelho e a Paulo Portas, com o aumento até ao infinito desse
monstro incontornável do desemprego e sobretudo do desemprego jovem.
Para este governo de direita que consegue sempre mais um e
mais outro “pote” para os seus indefetíveis, seja na EDP, na REN, na CGD, nas
Águas de Portugal… de pouco importa que a pobreza esteja a aumentar ou que os
nossos quadros mais jovens e criadores estejam a rumar ao estrangeiro com a sua
bênção e aconselhamento.
Porém, mais cedo do que tarde o fogo vai chegar-lhes ao
quintal!
(Foto: MUDE)