Já não restam dúvidas sobre os
objetivos das políticas na área da educação que este governo de direita tem
vindo a tomar ao longo deste ano de governação. Aliás, o seu efeito está aí e
está a ser conhecido da forma mais trágica e mais crua para milhares e milhares
de professores que, de um momento para o outro, se veem confrontados com a
perda de horário na sua escola, se veem confrontados com os designados horários
zero.
E, por efeito dominó, teremos
igualmente milhares de contratados, muitos deles há mais de uma década, a
servirem portanto anualmente o sistema, que não encontrarão colocação e, assim,
engrossarão a coluna dos desempregados.
Este é, pois, o resultado da
“fórmula Crato”. O resultado de uma política que minuciosamente tem vindo a ser
implementada: acabando com a Formação cívica, reduzindo as expressões e as
tecnologias e as artes à ínfima espécie, aumentando o número de alunos por
turma, “matando” as novas oportunidades, e o ensino de adultos que tentam
implementar não tem qualquer hipótese de o ser em todo o território nacional face
às condições exigidas para constituir uma turma.
E, face a tudo isto, o que faz
Nuno Crato e os seus “ajudantes”? Não, não olham de frente o problema, não
dizem as suas projeções, refugiam-se em complexidades do sistema para se
esquivarem. Não digo que esfreguem as mãos de contentes, mas todas estas
políticas têm uma forte componente ideológica. Uma componente que visa conferir
ao saber e ao saber e a mais saber o centro de todo o sistema, sem se preocupar
com o saber fazer, saber ser e estar, com a diferença, com a integração, com o
ensino especial e com uma escola que tenha resposta para todos.
Porém, chegou a hora H. Não há
mais fugas. As escolas lançaram os horários zero nas plataformas e eles são aos
milhares. Os pais estão em desespero, os professores estão à beira de um ataque
de nervos, os alunos estão inseguros… enfim, um cocktail explosivo que Crato,
pedra a pedra, foi construindo e que vai explodir a curto prazo.
Se é bem verdade que Crato não
implodiu o ministério da educação, como disse que era necessário, uma coisa é
certa, ele está a implodir a escola pública e o serviço público de educação sem
quaisquer escrúpulos. O desrespeito para com os demais atores educativos e para
com as diretivas nacionais e internacionais é completo e começamos, até, a
assistir a decisões judiciais e a recomendações do provedor de justiça que não
deixam dúvidas sobre o rumo errado que está a ser seguido.
Tantos milhares de horários zero,
só de um governo zero e de um ministro zero. Temos que mudar de rumo.
(artigo publicado no jornal: Diário de Viseu / Jornal do Douro / Notícias de Viseu de 19 julho)