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[opinião] Cenário macroeconómico do PS coloca a tónica no rendimento das pessoas

Cumprindo um calendário previamente definido, António Costa e o PS continuam a apresentar aos portugueses as suas propostas e os seus documentos estratégicos. Este processo, como se sabe, culminará no dia 6 de junho com a apresentação do programa eleitoral socialista.
O documento mais recente, o designado cenário macroeconómico, foi apresentado a semana passada e gerou uma grande instabilidade nos partidos do governo e nos comentadores “oficiais”. E o nervosismo foi tanto que levou até a reações partidárias em simultâneo com a apresentação do documento, portanto sem qualquer leitura e análise por parte desses dirigentes.
Mas com o passar dos dias e com o aprofundamento que os mais rigorosos analistas sempre gostam de fazer, as coisas começaram a inverter-se e as declarações de seriedade, honestidade e credibilidade, relativamente ao documento socialista, começaram a surgir e vieram dos mais variados quadrantes. Até da ex-líder do PSD, Manuela Ferreira Leite, ou de Silva Peneda que elogiam muitas das medidas propostas.
É que, de repente todos perceberam que este trabalho foi desenvolvido por um conjunto de economistas, maioritariamente independentes, com profissionalismo e seriedade, e que o cenário que traçaram é verdadeiramente alternativo às políticas e aos planos que o governo apresentou recentemente, de que ficou célebre a tal proposta governamental de cortar mais 600 milhões de euros nas pensões. E, portanto, começou a perceber-se que não estamos fatalmente confrontados com uma via única para Portugal, conforme o governo tem vindo a espalhar aos quatro ventos.
Mas, afinal, que documento é este e para que serve este cenário macroeconómico “uma década para Portugal”, na sequência da “agenda para a década” aprovada no congresso do PS por unanimidade?
Este documento, em primeiro lugar, não é o programa eleitoral do PS, já com medidas concretas. Essas virão posteriormente. Este documento o que define são as balizas do futuro programa eleitoral. Porém, não se deixam já por traçar os caminhos do PS para muitas das políticas estruturantes, fiscais e de rendimentos, TSU e impostos, por exemplo, colocando-se a tónica nos rendimentos das pessoas como forma de alavancar a economia.
E o que se pode desde já constatar é que as diferenças entre PS e governo que daqui resultam são enormes. Aliás, Pedro Santos Guerreiro, em artigo no Expresso, faz uma síntese perfeita destas diferenças ao dizer: «Queriam uma política de esquerda, anti-troika e centrada nos trabalhadores? Ei-la, apresentada por um grupo de economistas no Largo do Rato. Nunca o PS foi tão diferente do PSD. Depois disto, António Costa e Passos Coelho nunca poderão estar no mesmo governo.»
Ou seja, começa a ficar demonstrado à saciedade que a austeridade, por si só, não é o alfa e o ómega para resolver os problemas dos países em dificuldades e que este exercício macroeconómico, desenvolvido por doze economistas, é um elemento positivo e diferenciador da qualidade das propostas políticas que o PS e António Costa levarão a debate nas próximas eleições legislativas, com tradução no programa eleitoral a apresentar a 6 de junho.
Acácio Pinto
Rua Direita | Diário de Viseu

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