Avançar para o conteúdo principal

[opinião] O mau estado da educação em Portugal!



Há muito tempo que o PS dizia aquilo que o relatório do CNE, sobre o estado da educação em 2012, veio agora confirmar: a situação da escola pública em Portugal é dramática.
A cada dia que passa ganha mais força a ideia de que este governo quer, de facto, uma escola pública pobre para pobres.
A melhoria dos resultados educativos e a consolidação dos patamares alcançados, nomeadamente na última década, traduzidos em diversos estudos internacionais, alguns bem recentes, em que nos posicionámos à frente daqueles países que este governo agora quer imitar (p.e. Alemanha), não se compadecem com a falta de esforço de investimento na educação e com a permanente alteração legislativa a que estamos a assistir.
O relatório do CNE não deixa dúvidas e diz taxativamente que a execução orçamental da educação de 2012, em termos absolutos, sem inflação, está ao nível da de 2001. Ao nível do investimento de há dez anos atrás.
Este desinvestimento constitui, não tenhamos medo das palavras, uma deriva no sentido da construção de uma escola seletiva e elitista. Não são “chavões”, é a tradução da realidade.
Vivendo nós num tempo em que a qualificação das pessoas é a principal alavanca para ultrapassar a crise, como é possível que tudo quanto é feito seja no sentido de não colocar a educação e a qualificação no centro das políticas públicas?
Não nos podemos resignar, quando ainda temos dois milhões e trezentos mil trabalhadores portugueses, segundo os censos de 2011, sem o 12º segundo ano de escolaridade, quando temos das mais baixas taxas da Europa de licenciados e quando 3,7% de pessoas entre os 25 e os 34 anos só têm o 1º ciclo (!).
É caso para perguntar: temos professores a mais ou temos alunos a menos?
A resposta é óbvia e portanto a instabilidade, a mobilidade especial e tudo o resto, que se está lançar sobre a comunidade educativa, não se coadunam com as necessidades que ainda temos a nível da qualificação dos portugueses.
Nuno Crato e este governo já deram provas mais que suficientes sobre os seus paradigmas para a educação, competindo-nos a nós, a todos, deixar clara a nossa oposição a esta linha de ataque ao serviço público de educação.
Não nos esqueçamos, nunca, que a missão da educação tem que ser sempre a da promoção igualdade de oportunidades para todos e não a da reprodução das desigualdades.
Neste mês de abril é ainda mais importante relembrar esta missão da educação pela carga simbólica que o mês transporta.
Acácio Pinto
Diário de Viseu

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...