Avançar para o conteúdo principal

Agostinho Ribeiro foi reconduzido como diretor do Museu de Lamego


O PS tinha razão quando questionou, no dia 25 de janeiro, o Secretário de Estado da Cultura (VER PERGUNTA) e eu próprio o questionei na audição de 20 de março (VER VÍDEO), sobre o processo de nomeação dos diretores dos museus e, consequentemente, quando mostrou a sua discordância quanto aos critérios, ou melhor, os não critérios, utilizados pelo anterior responsável do IMC, João Brigola.
O Governo recuou e, nesta sequência, Agostinho Ribeiro, foi reconduzido como diretor do Museu de Lamego.
Ao mesmo tempo que saudamos a nomeação de Agostinho Ribeiro para continuar as suas funções de diretor, transcrevemos a notícia do PÚBLICO, de 4 de abril, assinada por Lucinda Canelas, sobre esta obscura problemática:
«Director dos Museus não os reconduziu e Agostinho Ribeiro e Luís Raposo contestaram a decisão por falta de fundamento. O secretário de Estado da Cultura acaba de lhes dar razão.
João Brigola estava a poucos meses de deixar a direcção do Instituto dos Museus e da Conservação (IMC) quando teve de avaliar a prestação de vários dos seus directores e decidir se ia ou não mantê-los em funções. Dos 28 museus e cinco palácios nacionais do instituto, optou por não reconduzir apenas cinco directores, justificando a abertura de novos concursos com a "saudável renovação dos quadros dirigentes" e a "necessidade de imprimir nova orientação aos serviços".
Três dos visados - Luís Raposo (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa), Matilde Tomaz Couto (Museu Malhoa, Caldas da Rainha) e Agostinho Ribeiro (Museu de Lamego) - contestaram a decisão e apresentaram recurso à Secretaria de Estado da Cultura (SEC). Com base no parecer do seu gabinete jurídico, Francisco José Viegas deu-lhes agora razão. A directora do Malhoa soube em Fevereiro da decisão da SEC. Os de Lamego e de Arqueologia receberam a notícia no final da semana passada.
O PÚBLICO teve acesso ao parecer jurídico em que Viegas baseou a sua decisão e que anula a de Brigola em relação ao director de Lamego. O parecer diz que o então director do IMC não cumpriu os procedimentos exigidos por lei. Lembra, por exemplo, "a imposição legal de analisar os elementos fornecidos pelo interessado que pretende ver renovada a sua comissão" e que o facto de Brigola não ter chamado o director de Lamego para lhe explicar por que razão não seria reconduzido é a "omissão de uma formalidade essencial", passível de determinar a "anulabilidade" das decisões objecto de recurso. Brigola não terá lido o relatório de actividades dos últimos três anos, apresentado por Agostinho Ribeiro quando formalizou o pedido para continuar à frente do museu.
Segundo o mesmo parecer, Brigola atribuiu a sua decisão à necessidade de "garantir, ao órgão que a lei determinar competente, total capacidade de imprimir nova orientação à gestão" em Lamego, o que, lê-se ainda, não serve de justificação para afastar Ribeiro, porque não diz respeito à actividade do director do museu em causa.
"Se fosse hoje, tomaria exactamente a mesma decisão", disse ontem Brigola ao telefone. O ex-director dos Museus, que cessou funções em meados de Fevereiro, quando Elísio Summavielle, ex-secretário de Estado da Cultura do último Governo socialista, foi anunciado como futuro director-geral do Património, diz que mantém todos os princípios que o levaram a concluir que Ribeiro e Raposo já não eram os "directores ideais" para os respectivos museus.
A Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) é a entidade que vai nascer da junção do IMC com o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar). Deveria ter entrado em funções a 1 de Março, mas a sua lei orgânica aguarda ainda aprovação em Conselho de Ministros (até lá, Summavielle assume interinamente ambas as direcções).
"Com esta decisão o secretário de Estado repõe a legalidade", disse ontem ao PÚBLICO Agostinho Ribeiro, 54 anos, director do Museu de Lamego há 20. "É que o despacho em que o director do IMC diz que não me reconduz é contrário à lei - carece de fundamentação. Para além de moral e deontologicamente questionável, a decisão de João Brigola não tem sequer em conta o relatório de actividades do museu, nem a minha avaliação como director. Aliás, o que me foi dito ao telefone é diferente do que vem escrito. Primeiro, o director defendeu que era preciso renovar cargos, depois o despacho fala de dar uma nova orientação ao museu."
O PÚBLICO sabe que Luís Raposo recebeu um despacho semelhante, mas não conseguiu falar com o director de Arqueologia, que se encontra na Roménia, numa das habituais visitas guiadas do grupo de amigos do museu onde trabalha há 33 anos e que dirige há 16. Matilde Tomaz Couto também não esteve disponível para comentários.
Todos a concurso?
O que para já importa reter, diz Agostinho Ribeiro, é que se corrigiu "um abuso de poder" e que, a partir de agora, todos os directores de museus e palácios do IMC estão em pé de igualdade, à espera da nova orgânica da direcção do Património. Num cenário de fusão de organismos e de criação de uma nova entidade, todos os cargos dirigentes são colocados à disposição. Summavielle poderá, assim que a lei da DGPC esteja aprovada, abrir concurso para todos estes lugares. Ou poderá fazê-lo à medida que os directores terminem as suas comissões de serviço. Para já, o ex-secretário de Estado não quer revelar o que pretende fazer, já que não pode falar como director-geral do Património até que o Conselho de Ministros se pronuncie em relação à lei orgânica, o que só deverá acontecer depois da Páscoa.
"Estou perfeitamente convencido de que a DGPC vai abrir concursos para estes museus e que a minha decisão, que agora foi contestada com bases meramente jurídicas, vai ser confirmada", acrescentou Brigola, garantindo que o parecer da SEC é "pouquíssimo relevante" num quadro de renovação imposto pela nova direcção-geral do Património.
"A decisão de João Brigola em relação a nós foi arbitrária", defendeu o director de Lamego. "Se ele era a favor da renovação de quadros não podia ter reconduzido, como reconduziu, colegas que estão há tanto tempo como eu ou até mais [Silvana Bessone está nos Coches há 20 anos e Isabel Silveira Godinho no Palácio da Ajuda há 31]. É preciso alguma coerência."
Agostinho Ribeiro lamenta que os directores de museus não tenham sido ouvidos no processo de elaboração da nova orgânica e garante que não decidiu ainda se vai candidatar-se a nova comissão de serviço (em 20 anos, fê-lo duas vezes), caso Summavielle abra concurso para Lamego.»
in: Público de 2012.04.04

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...