Avançar para o conteúdo principal

[opinião] Têm alguma coisa contra as escolas?


Não ponho em causa a legitimidade do Governo para clarificar procedimentos, para aprofundar pormenores, enfim, para auditar a Parque Escolar. E não coloco, igualmente, em causa o funcionamento das entidades inspetivas e dos tribunais. A cada um a sua função, no sentido de se otimizar o funcionamento da administração e dos institutos públicos.
Agora o que não compreendo é que se parem as obras de requalificação das escolas portuguesas em função de auditorias ou inspeções. Se assim fosse pararia todo o país e de seguida acabavam as auditorias para que tal não acontecesse.
O que o PSD e o CDS querem é criar uma cortina de fumo que esconda o maior investimento de sempre na educação em Portugal: o alargamento do pré-escolar, a construção de mais de mil novos centros escolares e a requalificação de mais de duzentas escolas secundárias em todo o país. Foi um investimento na qualificação das instalações e no aumento da capacidade instalada para dar resposta ao aumento da escolaridade para os dozes anos.
Esconder é, pois, o que pretende o Governo. Porém, não esconderão os resultados do programa PISA que colocou os resultados dos alunos portugueses entre os melhores da Europa; não elidirão a revolução que foi operada através da construção do modelo de escola a tempo inteiro e da integração de escolas isoladas em modernos centros escolares; não farão esquecer o programa Novas Oportunidades aos mais de um milhão de portugueses que nele se inscreveram para certificarem os seus saberes ao longo da vida e para aumentarem a sua formação e qualificação.
São marcas destas que deixam a direita envergonhada, que está mais empenhada em recuperar um ensino para alguns, um ensino, direi mesmo, elitista. E a resposta que a direita tem é tentar esconder todo o anterior espólio, que nos honra, atrás de nuvens de fumo e de mistificações.
O que a direita e o Governo deviam apresentar aos portugueses, sim apresentar, era uma ideia para a requalificação das inúmeras escolas que ainda precisam de uma intervenção estrutural e que mereceram do PSD e do CDS, quando na oposição (há um ano atrás!), chamadas de atenção para a urgência das obras que já estavam calendarizadas.
Pois bem, o que fizeram quando chegaram ao poder? Pararam. Pararam todas as obras previstas e não apresentaram nenhuma alternativa. Que o digam, no caso do distrito de Viseu, as Escolas Secundárias de Moimenta da Beira, Mangualde, Viriato (Viseu), S. Pedro do Sul e Latino Coelho (Lamego), para além da Grão Vasco (Viseu).
É que do que se trata é de opções. Governar é escolher e a escolha do PSD e do CDS foi a de não requalificarem a escola pública. Mas não se esqueceram de, logo no início do mandato, aumentar as verbas para os colégios privados!
Não arranjem desculpas, apresentem soluções! A escola pública merece!

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...