Avançar para o conteúdo principal

Presidente da República ou Provedor deste Governo?

A tal magistratura de influência de que falou Aníbal Cavaco Silva tem vindo a deixar bem claro o seu significado. Não é necessário folhear nenhum dicionário de ciência política para dissecar o conteúdo deste conceito na sua cabeça.
Sim, magistratura de influência: ontem atacando o Governo e dizendo que "há limites para os sacrifícios que se podem pedir ao comum dos cidadãos" (discurso de posse na AR); hoje alguém o ouviu orar sobre um imposto extraordinário de 50% sobre o 13º mês?
Sim magistratura de influência: ontem dizendo que "não vale a pena recriminar as agências de rating"; hoje convicto de que "as agências norte-americanas são uma ameaça".
Sim magistratura de influência: ontem disparando que "muitos dos nossos políticos só conhecem o país virtual e mediático"; hoje acompanhando, qual avô atento, a nova Ministra da Agricultura pelo Portugal interior.
Não restam, pois, dúvidas de que estamos perante uma magistratura de influência. Se alguém as tinha que as perca. Só que é uma influência de sentido único. Ontem era uma influência que cavalgava e inspirava os argumentos da oposição, hoje é uma influência de apoio às políticas da coligação de direita, ou se se quiser uma caixa de ressonância de S. Bento, ou ainda e, porventura, um provedor deste Governo.
Escolha-se a expressão que se quiser. Qualquer uma delas traduz, à sua maneira, ao que estamos a assistir.
Mas não é só o PR. São também muitos articulistas, comentadores e economistas que, de um momento para o outro (já não era sem tempo!), se renderam às "virtualidades" da crise internacional.
Sim, até que enfim, já afirmam que a crise internacional existe e é, quiçá, a origem de todos os males da Europa e de Portugal.
Ontem não. Não era assim. Ontem a culpa para todos os nossos problemas estava na má governação do PS e de José Sócrates.
Mais do que avaliar os factos, fica, sobretudo, aqui plasmado o seu registo.
Bem aventurados sejam os que acreditam!
(Foto: Capa do Jornal i de 9 de Julho)

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

Frontal, genuíno, prestável: era assim o António Figueiredo Pina!

  Conheci-o no final dos anos 70. Trabalhava numa loja comercial, onde se vendia de tudo um pouco. Numa loja localizada na rua principal de Sátão, nas imediações do Foto Bela e do Café Sátão. Ali bem ao lado da barbearia, por Garret conhecida, e em frente da Papelaria Jota. Depois, ainda na rua principal, deslocou-se para o cruzamento de Rio de Moinhos, onde prosseguiu a sua atividade e onde se consolidou como comerciante de referência. Onde lançou e desenvolveu a marca que era conhecida em todo o concelho, a Casa Pina, recheando a sua loja de uma multiplicidade de ferramentas, tintas e artefactos. Sim, falo do António Figueiredo Pina. Do Pinita, como era tratado por tantos amigos e com quem estive, há cerca de um mês e meio, em sua casa. Conheceu-me e eu senti-me reconfortado, conforto que, naquele momento, creio que foi recíproco. - És o Acácio - disse, olhando-me nos olhos. Olhar que gravei e que guardo! Quem nunca entrou na sua loja para comprar fosse lá o que fosse? Naquel...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...