Excerto da entrevista de António Costa na revista VISÃO de 7 de agosto (AQUI):
«Um compromisso para a década, uma mudança radical na atitude
perante a Europa, uma reformulação do euro, uma agenda para o emprego e uma
maioria absoluta. Objetivos que o candidato à liderança do PS quer ver
cumpridos. Para já, deixa sem resposta os "ataques pessoais" de
Seguro e dos "mercenários" ao seu serviço...
O CASO BES
Como avalia o comportamento do Governo no caso BES? E o que
pensa da solução encontrada?
Se o capital resultou, essencialmente, de um empréstimo do
Estado, para já, são os contribuintes que estão a suportar o investimento. A
questão é a de saber se o recuperam ou não. O facto de o dinheiro ser
emprestado pela troika não altera este dado. Quem paga os juros e quem tem de
pagar o empréstimo? O Estado, logo, os contribuintes. Ou seja, ao contrário do
que dizem Banco de Portugal e Governo, para já, são sobretudo os contribuintes
quem está a suportar a solução. Acresce que o fundo de resolução consolida no
setor público administrativo. Por isso, este investimento conta como despesa
para efeitos do défice. Se não houver comprador para o Novo Banco, ou o preço
for inferior ao valor do empréstimo, os outros bancos têm de reembolsar o
Estado. Parece salvaguardar os contribuintes. Mas os outros bancos
conformam-se? E os pequenos acionistas que se viram confinados ao "banco
mau", que confiaram nas declarações do BP e do Governo que o BES estava
imune aos problemas do GES? Conformam-se? E os credores de obrigações
subordinadas, vão aceitar que os ativos do BES lhes sejam subtraídos e postos a
salvo no Novo Banco? Pode ser que tudo corra bem. Espero que sim. Mas não é a
solução mágica que nos apresentaram. O Governo tem de explicar como evita estes
"riscos".
Outros destaques da entrevista de António costa à VISÃO:
- Portugal tem de mudar a sua postura relativamente à UE e
compreender que, na UE, deve fazer o que outros fazem: defender o interesse
nacional.
- O Governo quis ir além da troika e, agora, também quer ir
além do Tratado Orçamental!
- Eu não acredito num
"big bang" que seja "a" reforma da Administração Pública
- A reposição dos níveis salariais tem de ser devidamente
negociada no âmbito da concertação social
- A preocupação com a dívida não é uma preocupação para a
qual acordei agora.
- A pior coisa que poderia acontecer era eu estar nesta
campanha como tem estado o secretário-geral do PS
- Só se pode contentar com o resultado das europeias quem espera
fazer uma coligação com a atual maioria
- A minha saída da Câmara de Lisboa é, para já, uma questão
bastante prematura
- Muita gente votou em mim, nas autárquicas, para me dar
força para assumir outras responsabilidades.
- Vi o PS despejar 80 medidas a oito dias de umas eleições,
mas não o vi a apresentar uma visão estratégica. Nem sobre a correção dos
efeitos assimétricos do euro. Nem sobre um programa de recuperação que suceda
ao programa de ajustamento. Não vi.
- O presidente Junker veio dizer que está na hora de a
Europa investir. E não recupera o crescimento, a criação de emprego e a
consolidação saudável das finanças sem investimento público e privado.
- O simplex contribuiu mais para a reforma da AP do que
estes três anos de governo. Reformar, sim. Mas isso não significa,
simplesmente, fechar serviços e prejudicar populações.
- Não é aceitável esta narrativa que o Governo construiu de
que eu, para garantir o futuro dos meus filhos, tenho de dar cabo do presente
da minha mãe. Não é assim numa família nem é assim na sociedade
- Tenho evitado responder aos inúmeros ataques, vários
deles, aliás, muito baixos, que me têm sido dirigidos, ou diretamente pelo
secretário-geral do PS, ou por alguns dos seus apoiantes, ou por um conjunto de
mercenários que trabalham sob a capa de agências de comunicação
- Nunca aceitei essa expressão dos "partidos do arco da
governação". Ou que possa haver eleitos para o Parlamento partidos que
estejam proscritos.
- A fragmentação eleitoral das europeias resultou da
incapacidade do PS de polarizar a alternativa à derrota histórica da direita.
- O problema é que estas primárias não resultaram das
virtudes da modernização do partido, mas como um truque para procurar
desgastar-me.»