Li, por estes dias, O Volframista. Novela sóbria
e expressiva, escrita num estilo simples, direto e rigoroso, sem artifícios
literários. Através de uma linguagem depurada, o autor reconstrói com
autenticidade o Portugal rural dos anos 1940, em plena Segunda Guerra Mundial,
centrando-se no comércio — legal e clandestino — do volfrâmio.
A narrativa, breve mas intensa, acompanha Abel Fernandes,
uma personagem ambiciosa, mas presa ao passado; sedutora, mas frágil;
pragmática, mas moralmente vulnerável. Abel encarna o conflito entre o desejo
de ascensão social e a rigidez das estruturas da época, tornando-se símbolo da
luta silenciosa de muitos durante o salazarismo.
O romance destaca-se pela forma como o dinheiro — ganho ou
roubado, tesouro enterrado ou aforro escondido — atua como revelador de caráter
e catalisador de escolhas. Trata-se, no fundo, de uma poderosa reflexão sobre
as pressões económicas, a condição humana e os dilemas éticos num tempo de
escassez, desigualdade e repressão.
Com grande contenção formal, densidade humana e fidelidade à
realidade social, O Volframista afirma-se na ficção histórica
contemporânea portuguesa, alinhando-se com a tradição literária de Alves
Redol ou Fernando Namora, na sua capacidade de dar voz à terra, ao
povo e à tragédia silenciosa do interior português.
Aqui fica o comentário que se impõe.
Foto: Público
Mais: Recensões