Nota Prévia:
Escrevi a breve crónica que se segue depois de uma deslocação
que efetuei, há dois dias, ao Convento de Santo Cristo da Fraga, na freguesia
de Ferreira de Aves. Ali chegado, as minhas nostalgia e tristeza foram enormes, pois
recordei-me da aprazível mancha verde que dali lobriguei quando em 2023 lá estive
a recolher pormenores que introduzi no romance O Leitor deDicionários. Agora, depois do designado “incêndio de Sátão” por ali ter passado, do alpendre daquela ermida só se vislumbra terra negra!
BREVE CRÓNICA SOBRE INCÊNDIOS
Não tenho por hábito falar publicamente sobre incêndios florestais. É um
tema em que as opiniões tendem a extremar-se e em que, quase, não há ninguém que
não tenha uma solução para o problema: ordenamento da floresta; “mosaicos”
arbóreos resilientes; endurecimento das penas para os criminosos; limpezas e queimadas
no inverno; profissionalização dos bombeiros; utilização de “cabras sapadoras”;
aumento do número de meios terrestres e aéreos; abertura de mais aceiros...
E sei lá mais o quê. A panóplia é interminável.
Creio mesmo que não há nenhuma medida, por mais extravagante que seja, que já não tenha sido
dita, estudada ou, quiçá, implementada. Porém a tragédia continua. Ano após ano, com
intensidades diferentes, a floresta arde. E arderá, sempre, desde que haja:
combustível (biomassa) e a temperatura, a humidade e o vento se conjuguem! Ah! E,
está claro, para que tudo aconteça tem de haver uma ignição, seja natural (rara) ou
humana (quase sempre), dolosa ou negligente.
Face ao que precede, devemos baixar os braços perante esta inevitabilidade?
Claro que não. Mas que é uma inevitabilidade, quando em presença das
circunstâncias sobreditas, lá isso é.
Resta-nos, então, encarar os incêndios como tal e responder-lhes
(mais a montante do que a jusante) com organização, com meios humanos e
materiais, com proximidade, com solidariedade e com respeito pelo trabalho
desenvolvido por aqueles a quem o Estado confere essa gestão.
Responder hoje com os mesmos ruídos e retóricas de ontem é dar força a
extremismos e alimentar eternamente um problema que, sabemos de experiência feita, ninguém até agora conseguiu resolver. A resposta tem de ser forte, estrutural e conjunta, para que não continuemos a ter de chorar mais perdas de vidas humanas e possamos mitigar os prejuizos económicos e ambientais.
Acácio Pinto, 18 de agosto de 2025
