Não é fácil no início. Começam a correr várias cenas em diversos locais e em tempos diversos. As narrativas são em pessoas diferentes e em tempos que vão do final até à primeira metade do século XX, até aos tempos da Guerra Civil de Espanha e da Segunda Guerra Mundial.
O Rei do Volfrâmio fala das dificuldades desses tempos difíceis de conflitos armados na Europa mas, igualmente, de um tempo em que alguns prosperaram à sombra desse negócio tão lucrativo quanto clandestino e obscuro, o do volfrâmio.
O livro fala de um ‘rei’ desses tempos. De um volframista
que atingiu uma fortuna incomensurável, que lhe permitiu as maiores e mais
faustas extravagâncias.
Mas o livro também nos narra cenas dos tempos mais recentes,
do final do século. Da emigração, do pensamento prático de emigrantes e dos
expedientes que alguns utilizam no quotidiano para resolver problemas.
E também nos leva, ao dia a dia de cidades cosmopolitas,
como o Porto, ou a afazeres profissionais nas universidades, através de cenas
de evidente atualidade em que o ser humano muitas vezes não está bem nas vestes
que usa. Em que o matrimónio não tem chama, em que os divórcios campeiam e em
que a busca de novidades e aceleradores de vivências esparsas e dispersas se
utilizam ao ritmo dos dias que nos escapam por entre os dedos.
Sim, no final, qual ‘milagre’, quando nós começamos a estar a ficar fartos das cenas que correm em paralelo, começamos a perceber que elas têm ligações e que mesmo nos últimos capítulos tudo evolui, ganha sentido, encaixando-se as cenas umas nas outras numa catadupa alucinante.
Ficamos de queixo caído. Afinal, aquela opinião cética que
se apoderou de nós na primeira metade do livro, em que pensámos em desistir,
transformou-se numa admiração pela trama em que nos envolveu o autor, na
segunda metade e no final.
Título: O REI DO VOLFRÂMIO
Género: Romance
Autor: Miguel Miranda
Editora: Dom Quixote
Páginas: 280
Acácio Pinto | 28-07-2024