Localizada no sudoeste da Alemanha, tendo a fronteira da
França a oeste e a da Suíça a sul, a Floresta Negra é, isso mesmo, uma
floresta, à antiga, densa e constituída por árvores adaptadas ao clima e ao
solo, onde a biodiversidade acontece, onde as folhas e ramagens quando caem
formam uma espessa manta morta tão necessária à fertilização do solo e à
retenção de água. Onde toda uma fauna de aves, mamíferos e répteis, entre
outros, encontram condições para viver.
Porém, a moda, nestes tempos da hipermodernidade, é outra. É
a das florestas negras constituídas por painéis fotovoltaicos, esses novos
deuses a que os poderes políticos de uns quantos países, entre os quais
Portugal se inclui, se vão entregando.
Não importa se, para efetuar a plantação dessas novas
árvores, houver necessidade de abater sobreiros! Não, isso não tem importância.
Até parece que o montado é um ecossistema sem valor, cujas mais-valias não são
críticas para Portugal e para o Mundo! Não interessa que um sobreiro demore
mais de duas décadas para dar cortiça e que as florestas de sobro retenham 14
milhões de CO2 por ano.
Falei dos sobreiros, mas, obviamente, poderia também falar
de outros quercus, ou de oliveiras, ou de pinheiros, ou então da vegetação tão
típica das áreas mediterrânicas, como sejam a garrigue e o maqui.
Será que estou a efetuar uma saga contra os painéis solares?
Será que estou a insinuar que se deve desperdiçar o potencial de Sol, que pode
chegar às 3000 horas por ano em Portugal? Será que estou a ridicularizar a
energia que os painéis fotovoltaicos produzem?
Não, não estou. Há tantos telhados de moradias, de prédios,
de armazéns, de parques de estacionamento, só para falar em alguns, cujos
proprietários, com criatividade e algum retorno financeiro, poderiam ser
seduzidos (seriam com certeza seduzidos!) para esta causa e, consequentemente,
não haveria necessidade de um ataque tão violento e cobarde aos ecossistemas e
à paisagem visual do nosso território.
Não, não sou um expert nesta matéria, sou, simplesmente, um
cidadão português que não gosta de ir a Trás-os-Montes, ao Ribatejo, ao
Alentejo, à Beira Baixa, ou a qualquer outra região portuguesa do interior e
ser agredido com estas florestas negras que, gradual e sistematicamente, se vão
consolidando neste retângulo à beira-mar plantado!
Acácio Pinto