Intervenção de Acácio Pinto, efetuada na apresentação do
livro O VOLFRAMISTA, que teve lugar no Auditório do Balneário Rainha Dona
Amélia, nas Termas de São Pedro do Sul, no dia 16 de julho de 2023, tendo a
obra sido apresentada por António
Ferreira Gomes. Participaram igualmente e intervieram na sessão, o
músico José Pedro Pinto e,
em representação do Municípioo, o vereador António Casais.
Eis o teor da intervenção de Acácio Pinto:
Só podem ser de agradecimento as primeiras palavras que vos
quero dirigir.
De agradecimento, em primeiro lugar, à Câmara Municipal de
São Pedro do Sul, na pessoa do senhor vereador António Casais, aqui presente,
pois o presidente, Vítor Figueiredo, por motivos pessoais, não pode estar
presente, e à Termalistur, na pessoa do Vítor Leal, também ausente por motivos
pessoais, por me terem franqueado as portas desta terra e deste magnífico e
emblemático edifício, Balneário Rainha Dona Amélia.
Depois claro está, estou reconhecido e quero tributar todo
meu preito, toda a minha homenagem a um sampedrense, um amigo de longa data,
meu colega, professor de Geografia, sempre professor, apesar de aposentado.
Refiro-me, claro está, ao António Ferreira Gomes, que se disponibilizou para
apresentar este livro, este romance aqui nas Termas de São Pedro do Sul.
Muito obrigado, Ferreira Gomes.
Um agradecimento, justo e merecido, ao José Pedro Pinto,
pela sua excelente interpretação de um tema da sua autoria, em guitarra
clássica. Para quem o não saiba, o José Pedro Pinto, é meu filho e
disponibilizou-se para vos trazer um breve trecho musical de abertura.
Uma palavra, também, para agradecer a disponibilidade do
Nuno Girão, da Termalistur, com quem articulei e tratei de toda a logística de
apresentação do livro.
Finalmente, sim, agradeço a todos quantos, nesta tarde de
domingo, aqui quiseram estar a assistir à apresentação d’O Volframista. Aos
autarcas, a outras entidades, a todos vós sem qualquer exceção, muito obrigado.
E, ditas que estão estas palavras introdutórias, vamos lá
então ao livro, ao Volframista.
E que tenho eu para vos dizer?
Que este livro, este romance, foi o vencedor de um prémio
literário, em Sátão, no ano de 2022, o prémio Cónego Albano Martins de Sousa,
um padre, natural deste concelho, de Ranhadinhos, e que muito jovem,
praticamente recém-formado, foi para a paróquia de Sátão, onde, durante mais de
50 anos, cumpriu o seu múnus pastoral.
Depois, importa dizer-vos que o tema tem a ver com a
exploração e com a comercialização de volfrâmio nos anos 40 do século passado,
ou seja, mais concretamente durante a Segunda Guerra Mundial, quando Portugal,
um país neutro, vendeu milhares de toneladas para as indústrias de guerra alemã
e inglesa, ou não detivesse o nosso país das maiores reservas de volframite da
Europa.
Esses, foram tempos diabólicos, tempos agitadíssimos, nas
áreas volframíferas, que proporcionaram os maiores dislates a muitos
portugueses que se aventuraram em tal negócio, tendo a corrida ao volfrâmio,
ficado conhecida como a “corrida ao ouro negro”. A uns correu bem a outros nem
por isso. No caso deste romance, a personagem principal, O Volframista, de seu
nome Abel Fernandes, passou de um simples, humilde e pobre agricultor, a um
riquíssimo empresário, que se transfigurou em arrogante, e que, depois de levar
uma vida airada, caiu de novo na pobreza, não sem antes ensaiar, sem êxito, um
negócio com notas falsas.
Portanto, estamos perante um romance cuja ação, passando-se
na Beira-Alta, muito bem se poderia ter passado concretamente aqui em São Pedro
do Sul, onde também houve grande e intensa agitação proporcionada pelo
volfrâmio e onde abundam circunstâncias ligadas ao “ouro negro”.
Se não vejamos: todos conhecem, com certeza, a EN, logo à
entrada de São Pedro, onde o rio Sul desagua no rio Vouga, que parte da rotunda
em direção a Castro Daire, pois bem, designa-se de Rua da Separadora; Todos
conhecem as minas de Regoufe, mesmo ali ao lado, no limite dos concelhos de São
Pedro e de Arouca, próximas de Covas do Monte; muitos, porventura, conhecerão
vestígios (poços e valas) de explorações de pequena dimensão, no concelho,
sobretudo na área da serra da Freita.
Ou então, deixem-me contar-vos alguns episódios que atestam,
na primeira pessoa, o que acabei de vos dizer.
Um de uma leitora, natural aqui de São Pedro do Sul, Emília
Ribeiro, que escreveu: “Li o livro e gostei imenso, só parando quando cheguei
ao fim. Li-o de uma assentada! Depois passei o livro à minha mãe, de 97 anos,
originária de Sul, S. Pedro do Sul, que reconheceu no livro a vida da aldeia e
a febre do volfrâmio do tempo da sua juventude, existindo ainda a casa
imponente, toda em pedra, que um ricaço do minério lá construiu na terra. E,
tal como eu, não deixou o livro enquanto não o acabou de ler”.
Outro de Fernanda Figueiredo, que residindo em Sintra, tem
também as suas raízes em São Pedro do Sul. Disse ela: “Já li o seu livro que
teve o condão de me levar à minha infância e à aldeia de meu pai. Aí vivia um
volframista e sua vida teve muito de semelhante com a do seu Abel. Curioso como
um livro nos pode levar a lugares e gente há muito arquivados na nossa memória.
Grata pelas recordações da minha infância feliz que ressurgiram ao ler o seu
livro. Gostei muito, li sem parar.”
Permito-me ainda deixar-vos uma nota de um sampedrense, o
João Carlos Gralheiro, advogado, que não tendo lido o livro, e não estando aqui
pelo facto de estar de férias, me disse: “Se o título do teu livro tiver a ver
com estórias da história da exploração do volfrâmio na 1ª metade do sec. xx, é
tema que, familiarmente, me é querido, pois que foi por ter abraçado essa
aventura que meu avô paterno deixou de ser um negociante de gado e ganhou
dinheiro para poder ser um homem livre e permitir que seus descendentes também
o fossem”.
Enfim, outros testemunhos, de pessoas do concelho, que já
leram o romance, aqui poderia deixar, por exemplo, do Vítor Figueiredo e da
Ester Vargas.
Afinal, o que quis eu significar com estes testemunhos e
estas circunstâncias? Que é inelutável que o concelho de São Pedro do Sul está,
também, indissociavelmente ligado à exploração e comercialização do volfrâmio.
E se os elementos que precedem são referências
espácio-temporais, onde a ação decorre, onde o romance acontece, há depois um
vasto conjunto de personagens que estabelecem entre si inúmeras interações,
como já muito bem disse o António Ferreira Gomes. É toda uma trama romanesca,
um enredo que visam cativar e prender a atenção dos leitores. Não é uma
tessitura complexa, rebuscada, erudita, não, nada disso. São relações simples
entre homens e mulheres: negócios clandestinos, amores, traições, vinganças,
assédios, corrupção, mortes, enfim, tudo aquilo que ontem, tal qual hoje,
acontecem quando as pessoas interagem e são, afinal, uma expressão dos
sentimentos mais primários e profundos do ser humano.
E de onde surgiu a ideia deste livro?
Pois bem. Este romance, que se poderá designar de romance
histórico, tem, objetivamente, na sua origem um facto real. Nos anos 40 do
século XX, um cidadão português, nascido em 1916, depois de se ter envolvido em
negócios ligados ao volfrâmio e após constituir uma vultosa riqueza, viu-se,
repentinamente, na miséria, fruto de uma conduta desregrada e de uma vida de
excessos, como ficou atrás evidenciado.
E o que fez, quando era procurado pela justiça e pelos
credores?
Fugiu, fugiu para França, deixando para trás filhos de tenra
idade entregues à mulher, que sem posses ficou com eles na sua casa que,
entretanto, tinha ardido.
Este é o facto verídico e é em torno dele que se desenvolve
todo o enredo, que surge toda esta história que espero possais vir a gostar de
ler. Aliás, o primeiro capítulo do livro tem lugar, precisamente, em França, em
Paris, em 2016, no final do campeonato europeu de futebol, que Portugal venceu.
Nesse dia, dois jovens, um português e uma francesa, envolveram-se num acidente
de automóvel e estavam muito longe de sonhar que aquele acidente haveria de os
levar até às suas origens familiares. E quantas vezes as coisas não surgem de
acasos? De encontros casuais?
Aprofundar-vos mais aqui o romance, creio que não valerá a
pena. Isso ficará para cada um de vós que o vier a ler. O drama que imaginarão
a partir dos negócios clandestinos, a corrupção de agentes de autoridades, os
excessos passados em casas de conforto a beber champanhe e a fumar cigarros com
notas a servir de mortalha, os assaltos a camionetas carregadas de volfrâmio, a
fuga dos agricultores para as minas, onde iam ganhar o dobro daquilo que
ganhavam na agricultura, as bebedeiras dos homens, ao domingo, na taberna da
aldeia depois de jogarem umas mocas de sueca e as mortes precoces dos mineiros
com silicose, devido às poeiras da mina, julgo serem elementos necessários e
suficientes para que se possam extrair do livro agradáveis momentos de leitura.
Um voto final.
Aos de mais idade: espero que o livro vos permita fazer
audições à memória; aos mais novos: espero que o livro vos permita tomar
contacto com uma realidade que assolou a nossa terra, o nosso país, aquando da
Segunda Guerra Mundial; a todos: espero que sejais felizes quando lerdes este
romance, que deixou de ser meu e é vosso, é dos leitores.
E termino sem mais delongas, confessando-vos que tive um
grato e grande prazer durante a escrita deste livro e que tenho um enorme gosto
em aqui estar convosco, nesta tarde de domingo, neste magnífico auditório, do
Balneário Rainha Dona Amélia.
Coloco-me ao vosso dispor, no final, para responder a
qualquer questão que me queiram colocar.
Muito e muito obrigado a todos.
Acácio Pinto, 16 de julho de 2023