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Apresentação d’O Volframista em Viseu, no Museu Grão Vasco: intervenção do autor

 


Intervenção de Acácio Pinto, efetuada na apresentação dolivro O VOLFRAMISTA, que teve lugar no Museu Nacional Grão Vasco, em Viseu, no dia 1 de julho de 2023, tendo a obra sido apresentada por José Junqueiro. Participaram e intervieram na sessão o presidente do Município de Viseu, Fernando Ruas, e a diretora do Museu, Odete Paiva, sob a moderação de Emília Amral, jornalista do Jornal da Beira.

Ante uma plateia numerosa, a iniciativa teve um momento musical inicial, em guitarra clássica, protagonizado por José Pedro Pinto.

Eis a intervenção do autor do livro:

«São de agradecimento as primeiras palavras que hoje, aqui e agora vos quero deixar.

De agradecimento, em primeiro lugar, ao Museu Nacional Grão Vasco, este espaço de excelência, na pessoa da sua diretora, a doutora Odete Paiva, que nos abriu as suas portas para esta apresentação.

Depois à Emília Amaral, jornalista do Jornal da Beira, que se disponibilizou para efetuar a moderação deste evento.

Ao José Pedro Pinto e à Ana Luísa Pinto, como diz o povo, sangue do meu sangue, o primeiro pelos sempre magnificentes harpejos e dedilhados com que nos brindou e a segunda pelo apoio logístico e revisão da obra.

A todos quantos aqui estão, aos deputados à Assembleia da República, aos autarcas, a todas as entidades, afinal, a todos os presentes sem exceção. Vós, todos vós, sóis a razão deste evento.

Não, não me esqueci.

Quero também e de uma forma penhorada, tributar o meu mais profundo agradecimento, ao Dr. Fernando Ruas, presidente do Município de Viseu, que desde a primeira hora se disponibilizou para aqui estar presente e ao Dr. José Junqueiro que aceitou o desafio de apresentar o livro.

E se vós estais perante duas pessoas marcantes, cada um à sua maneira, da cidade de Viseu e da região, eu, para além disso, estou perante duas pessoas por quem tenho um enorme apreço pessoal.

Muito obrigado Dr. Fernando Ruas, muito obrigado Dr. JoséJunqueiro.

E, ditas que estão estas palavras introdutórias, vamos lá então ao livro, ao Volframista.

E que tenho eu para vos dizer?

Que este livro foi o vencedor de um prémio literário, em Sátão, no ano de 2022, o prémio Cónego Albano Martins de Sousa, e aproveito para assinalar a presença, entre nós, do presidente da AM de Sátão, Paulo Santos e da vereadora Paula Cardoso, dizendo-vos que o presidente Alexandre Vaz me comunicou que só não está presente pelo facto de estar no estrangeiro.

Depois o tema. O tema é o volfrâmio e os negócios em seu redor. Portugal e o Mundo foram fortemente abalados pela exploração de volfrâmio aquando da Segunda Guerra Mundial. O volfrâmio, pelas suas características, sobretudo pelo seu grau de fusão, de 3419º C, era um metal fundamental para alimentar as máquinas de guerra dos alemães e dos aliados. E Portugal, um dos países europeus com mais volframite estava mesmo aqui à mão para fornecer esse mineral aos dois lados da guerra, pois Salazar cuidou de nos colocar como neutrais colaborantes, isto é, vendíamos quer a uns quer aos outros.

O distrito de Viseu, particularmente a região Dão-Lafões foi uma das que mais volfrâmio produziu e comercializou legal e clandestinamente, nessa época.

A exploração de volfrâmio, de estanho e de urânio conferem à nossa região uma centralidade incontornável no âmbito mineiro, que, porventura, importa ter em conta na perspetiva da valorização territorial.

As entidades públicas centrais e locais, em conjunto com os privados, poderão encontrar neste segmento mais-valias para os seus espaços e para as suas gentes.

E se a temática era esta, a do volfrâmio, era preciso dar-lhe conteúdo. Era preciso investigar, conversar e escrever. E todas estas ações, confesso-vos, deram-me um enorme prazer. Não foram forçadas. Foram agradáveis momentos de trabalho.

Li, com gosto, livros de História, livros sobre minas e mineiros, li o romance “O Volfrâmio” de Aquilino Ribeiro, vi a série da RTP 2 “A Febre do Ouro Negro” e folheei os Diários da República da época, que se designavam de Diários do Governo.

Também, conversei com inúmeras pessoas que, de algum modo, estiveram ligadas à exploração e à comercialização do volfrâmio na nossa região, de que destaco o José Luís Santos, de Vila Nova de Paiva, cujo pai foi encarregado geral das minas da Queiriga e Regoufe.

Está claro que o objetivo destas leituras e destas conversas foi o de me munir de elementos geográficos sobre a região da Beira Alta (Sátão, Viseu, Vila Nova de Paiva, Vouzela, Aguiar da Beira entre outros), de elementos históricos (sobre Estado Novo, sobre a Segunda Guerra Mundial), de elementos económicos (sobre a exploração e comercialização legal e ilegal do volfrâmio) e de elementos sociais e políticos (sobre as senhas de racionamento de alimentos e sobre a polícia política, PVDE).

E se os elementos que precedem são referências espácio-temporais, necessárias para enquadrar a ação, há depois o enredo, a trama romanesca. Ou seja, há um conjunto de personagens que se movem e que estabelecem entre si as relações que, afinal, sempre acompanharam e acompanham a vida dos homens e das mulheres, ontem como hoje.

Senão vejamos: No livro há amores, há ódios, há negócios clandestinos, há assédio sexual, há vinganças e mortes, há violência doméstica, há corrupção e tantas, tantas outras ações resultantes das interações humanas.

E de onde surgiu a ideia deste livro?

Pois bem. Este romance, que se poderá designar de romance histórico, embora isso fique para os entendidos, tem, objetivamente, na sua origem um facto real. Nos anos 40 do século XX, um cidadão português do concelho de Sátão, nascido em 1916, depois de se ter envolvido em negócios ligados ao volfrâmio e após constituir uma vultosa riqueza, viu-se, repentinamente, na miséria, fruto de uma conduta desregrada e de uma vida de excessos.

E o que fez, quando era procurado pela justiça e pelos credores?

Fugiu, fugiu para França, deixando para trás filhos de tenra idade entregues à mulher, que sem posses ficou com eles na sua casa que, entretanto, tinha ardido.

Estes são, portanto, e não são poucos, os factos verídicos e é em tornos destes factos, devidamente ficcionados, que surge todo o enredo.

Aprofundar-vos eu aqui o romance, creio que não valerá a pena. Isso ficará para cada um de vós que o vier a ler. O drama que imaginarão a partir dos negócios clandestinos, a corrupção de agentes de autoridades, os excessos passados em casas de conforto a beber champanhe e a fumar cigarros com notas a servir de mortalha, os assaltos a camionetas carregadas de volfrâmio, a fuga dos agricultores para as minas, onde iam ganhar o dobro daquilo que ganhavam na agricultura, as bebedeiras dos homens, ao domingo, na taberna da aldeia depois de jogarem umas mocas de sueca e as mortes precoces dos mineiros com silicose, devido às poerias da mina, julgo serem elementos necessários e suficientes para que se possam extrair do livro agradáveis momentos de leitura.

E para terminar, quero compartilhar convosco dois aspetos, entre muitos outros, que têm o seu quê de pitoresco e relacionados com o processo evolutivo de escrita de um livro e, no caso, deste livro.

O primeiro é para vos confessar que há um erro objetivo no livro, para o qual fui alertado, primeiramente pelo João Paulo Rebelo, e a semana passada pelo José Junqueiro, alertas já posteriores a esta segunda edição.

E então qual é o erro e como ocorreu?

Tem a ver com a compra de uma camioneta Ford por Abel Fernandes, a personagem principal. E, no livro, a Ford é referida como sendo uma marca inglesa.

Ora, como sabem e eu também sabia e sei, a Ford não é inglesa mas americana.

E então como é que isto aconteceu?

Bem, o narrador tinha escrito, na versão inicial, que a camioneta era Bedford, esta sim marca inglesa. Porém, o autor ainda andava a ler e a investigar e descobriu, entretanto, que a Garagem Lopes de Viseu tinha sido o primeiro representante oficial da marca Ford em Portugal, em 1924, e vai daí, como achou este pormenor importante para contextualizar a compra e para encontrar um local onde a camioneta foi comprada, alterou a marca da camioneta, de Bedford, para Ford e disse que a compra teve lugar na Garagem Lopes, só que não alterou a nacionalidade da marca, que continuou como inglesa. Se houver 3ª edição o erro será corrigido.

E se este aspeto tem a ver com um facto histórico e de contexto, há um outro que vos quero trazer e que tem a ver com a descrição de uma cena de assédio sexual, que estava bastante apimentada.

E, ao dar o romance a ler à Cláudia, a quem, igualmente, agradeço, ainda na fase de revisão, numa versão muito preliminar, ela disse-me que era melhor retirar algum ‘colorido’ à cena. E, aceitando a sugestão, assim fiz.

E qual é o interesse de vos estar a contar este facto? É que, um dos elementos do júri do prémio que o livro ganhou, a Helena Castro, em conversa tida comigo e com amigos, já depois do livro editado, e espero não estar a cometer nenhuma inconfidência, me disse que a cena, conforme acabou por ficar, estava no limite, ou seja se não tivesse sido retirado algum colorido, o livro, porventura, não teria passado no crivo do júri, ou não se tratasse do prémio literário Cónego Albano Martins de Sousa, de facto, um padre de Sátão, cuja castidade e pureza eram unanimemente irrefutáveis.

E termino, sem mais delongas, reiterando-vos que tive um grande prazer durante a escrita deste livro e que tenho um enorme gosto em aqui estar convosco, nesta tarde de sábado, no Museu Nacional Grão Vasco.

Espero que sejais felizes quando lerdes o livro, disponibilizando-me, desde já, para responder a qualquer questão que me seja colocada.

Muito e muito obrigado a todos.»

Acácio Pinto, 1 de julho de 2023

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