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Glória aos vencedores, honra aos vencidos!

 


Com certeza que, ao longo da vida, já todos vivemos momentos de enorme tensão pelos mais diversos motivos: familiares, políticos, profissionais e tantos outros. Porém, para mim, que também já estive envolvido em combates autárquicos, um dos momentos que mais me elevava os níveis de ansiedade, por melhor trabalho que se tivesse feito, era o da espera pelos resultados na noite eleitoral.

Eram horas difíceis. Mesmo infernais!

Vem o que precede a propósito das recentes eleições autárquicas. Os candidatos e os líderes dos partidos, que recebem os resultados a conta-gotas, e que sabem ser o centro de todas as atenções, têm de ir preparando ideias para o discurso de vitória, ou de derrota, sob a pressão dos media, dos apoiantes e dos adversários.

Nestas eleições, a nível nacional, a generalidade dos líderes “cantaram” vitória, mas, verdadeiramente, o grande vencedor global foi o PSD, pelos óbvios motivos de ter ganhado mais câmaras, mais juntas e de ter tido mais votos. Já o PS, apesar de algumas perdas assinaláveis, demonstrou que continua bem vivo no seio da sociedade portuguesa. Ou seja, nestas autárquicas os eleitores rejeitaram os candidatos que rejeitam a moderação ou, dito de outra forma, deram, inequivocamente, o sinal de que querem o PSD e o PS como os partidos basilares da política portuguesa. Creio que este sinal não foi só autárquico.

A nível local, pelo impacto político e pela relevância partidária, só me vou cingir a Viseu, onde o grande vencedor foi o PS, foi João Azevedo, com a inédita vitória para os socialistas na câmara da capital da Beira Alta.

E se esta vitória socialista se deverá, em alguma parte, à incapacidade de o PSD saber ler os sinais do tempo, ela radica em grande medida na vontade férrea e na determinação inabalável de João Azevedo querer ser presidente da Câmara Municipal de Viseu.

Nesta sequência, se ao PSD caberá agora refletir, fazer a autocrítica por tudo aquilo que aconteceu, ao PS cabe meter mãos à obra e, com engenho e arte política, saber desbloquear o puzzle complexo que será o do governo do município de Viseu numa conjuntura minoritária na Câmara e na Assembleia Municipal. E, nessa matéria, João Azevedo tem o mérito e a virtude de ser um pragmático na gestão política e, como tal, não deixará de levar a carta a Garcia, podendo mesmo vir a dar cartas em Viseu por largos anos.

Duas notas finais.

Uma para deixar uma saudação para Fernando Ruas, por quem tenho grande apreço pessoal, e que terá sempre um lugar inelutável na história recente do concelho de Viseu.

Outra para aqui recordar com enorme saudade um socialista, José Junqueiro, que muito gostaria de poder viver esta vitória, este momento e estar na tomada de posse de João Azevedo.

Glória aos vencedores, honra aos vencidos.

Acácio Pinto | 13.10.2025

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