A partir de hoje estou oficialmente aposentado!
Em 15 de janeiro de 2024 escrevi o texto que volto a
republicar hoje, infra. Naquele dia, perfiz 44 anos de serviço e resolvi, para
memória futura, deixar uma retrospetiva, necessariamente breve, sobre a minha
carreira enquanto trabalhador, basicamente, no âmbito da Educação.
E é por isso que a partir de hoje, 1 de abril de 2025 - com
45 anos, dois meses e 15 dias de serviço, prestados ao estado português - passo
a integrar o grupo dos aposentados (não inativo) esperando que tal condição
perdure por muitos e bons anos.
É, pois, com um grato gosto que olho para todo aquele tempo, ano a ano, e o revejo através da memória que o guarda.
Não sou daqueles que diz que voltaria a fazer tudo da mesma
maneira. Não, não e não. Muita coisa faria diferente, porém nada do que fiz me
constrange.
É natural que, neste momento, aposentando-me, enquanto professor do Agrupamento de Escolas de Sátão, deixe uma saudação aos alunos, aos funcionários, aos colegas e à diretora e demais elementos da direção. Está claro que esta saudação teria de ser e é extensiva a todos aqueles com quem trabalhei e que me ajudaram nesta longa caminhada de mais de quatro décadas de atividade.
BREVE AUTOBIOGRAFIA - Escrita em 15.01.2024
Corria o ano de 1980 quando, no dia 15 de janeiro, me
apresentei na Escola Preparatória de Paço de Arcos, concelho de Oeiras, para
trabalhar nos serviços de ação social escolar, onde fora colocado até 31 de
agosto desse ano.
Munido de um alvará passado pela Direção Escolar de
Lisboa, subi a Avenida Voluntários da República, em Paço de Arcos, e, chegado à
escola, fui recebido pelo presidente do conselho diretivo, de cujo nome não me
recordo, e pelo senhor Costa, chefe da secretaria.
Era Primeiro-Ministro, bem me lembro, Francisco Sá
Carneiro e Ministro da Educação Vítor Crespo. Na pasta das Finanças e do Plano
estava Aníbal Cavaco Silva.
No ano letivo de 1980/81 seguiu-se uma ida para o
concelho de Tabuaço, mais concretamente, para a mui altaneira e bonita aldeia
de Valença do Douro, onde fui colocado, agora pela Direção Escolar de Viseu, no
Jardim de Infância de Valença do Douro. Ali esperavam-me mais de vinte alunos
do pré-escolar, numas instalações diminutas e escuras, até à construção de um
pré-fabricado, passados alguns meses. Estávamos no dealbar da massificação da
educação pré-escolar e não havia educadores de infância suficientes, pelo que
foi necessário recorrer aos professores do 1º ciclo, como era o meu caso.
De Valença do Douro, lembro-me da Sãozinha, da Zezinha,
do Leão, da Edalgisa, do Adolfo, do Mendes, do Tavares, da Rosa, da Alcina, da
Dulcelina… e da professora Audete Azevedo, delegada escolar de Tabuaço…! Que
bem me sabe recordar estes solidários e excelentes colegas que estiveram comigo
em terras durienses.
Depois foi o Pereiro, também no concelho de Tabuaço, em
1981/82, na escola primária local, com as quatro classes. O acesso para a
aldeia era de terra batida e, deixem-me dizer-vos, era assim como que a última
localidade do concelho. No Pereiro residi na casa do professor, uma casa com
poucas condições, mas ainda assim uma casa que me permitiu não ter de fazer
deslocações diárias para nenhum outro local. A água para o meu uso doméstico
eram os alunos que se encarregavam de ir buscá-la ao fontenário, no final das
aulas. Era tipo um ‘direito consuetudinário’. Então o senhor professor lá
poderia andar de cântaro na mão!?
Seguiu-se o concelho de Viseu. Corria o ano letivo de
1982/83 e fui colocado em Casal do Esporão, onde estive dois anos. A saudosa
Beatriz, com ligações ao Sátão e que partiu precocemente, e a Judite foram as
colegas que se seguiram. Ambas magníficas, na relação pessoal e profissional!
Seguiram-se Soito de Golfar, Vila Longa e Carvalhal de
Romãs, onde regressei à lecionação dos quatro anos de escolaridade, com uma
passagem pela escola do 1.º ciclo de Sátão, em que só tive o terceiro ano de
escolaridade. Esses foram tempos de grande dinamismo em termos profissionais e
de intensa intervenção associativa e política a nível da minha aldeia, Rãs, da
minha freguesia, Romãs e do meu concelho, Sátão, por onde andei até ao ano de
1992, ano em que concluí a licenciatura em Geografia na Universidade de
Coimbra, como trabalhador estudante.
Depois, para concluir a licenciatura pedagógica em
Geografia para o 3.º ciclo e para ensino secundário estive colocado, no ano
letivo de 1992/93, na Escola Secundária da Quinta das Flores, na Lusa Atenas,
para fazer o respetivo estágio pedagógico.
E, daí em diante, de 1993/94 até à atualidade, sempre
prestei funções docentes na Escola Secundária de Sátão, hoje integrada no
Agrupamento de Escolas de Sátão.
Houve, porém, vários hiatos durante estes trinta anos.
De maio de 1995 até outubro de 2000, fui coordenador
adjunto do Centro da Área Educativa de Viseu, não podendo aqui deixar passar em
claro as excelentes relações profissionais e de amizade que estabeleci com o
Carlos Jorge Gomes, Coordenador do CAE de Viseu e com o Rui Santos, Diretor
Regional de Educação do Centro.
Depois foi uma passagem pela Secretaria de Estado da
Administração Marítima e Portuária, até junho de 2001, onde desempenhei as
funções de chefe de gabinete do Secretário de Estado José Junqueiro, a quem não
posso deixar de prestar um especial tributo, bem como ao Ministro da tutela,
Jorge Coelho, que recordo com saudade.
Em junho de 2001 nova mudança se operou e eis-me, até
fevereiro de 2003, como presidente da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência
de Viseu, cujo lugar coloquei à disposição do Ministro da Saúde, Luís Filipe
Pereira, após o PS ter perdido as eleições legislativas de março de 2002, vindo
a sair em fevereiro de 2003 para regressar à Escola Secundária de Sátão, onde
estive a lecionar Geografia até abril de 2005.
No ano letivo de 2004/2005, como entretanto tinha
concluído o mestrado em Geografia, acumulei funções docentes no Instituto
Superior de Ciências Educativas de Felgueiras, onde lecionei a disciplina de
Geografia aos alunos que frequentavam o curso de ensino do 1.º e 2.º ciclos,
nas diversas variantes.
Depois foi tempo, em abril de 2005, de assumir, a convite
de António Costa, Ministro da Administração Interna, as funções de Governador
Civil do Distrito de Viseu. Era Primeiro-Ministro José Sócrates. Ali estive,
até agosto de 2009, em funções de provedoria dos cidadãos junto do Governo e de
representante deste no território distrital. Foram tempos de intenso trabalho,
sobretudo quando os incêndios florestais eram implacáveis, e de permanentes
deslocações a todos os cantos e recantos destes mais de cinco mil quilómetros
quadrados que integram o distrito de Viseu.
Guardo boas memórias da equipa do Governo Civil, tal como
retenho imagens vivas de idas aos vinte e quatro concelhos do distrito e das
inter-relações lhanas que estabeleci com todos os presidentes de câmara e
demais agentes sociais, associativos e políticos do distrito, bem como com os
meus colegas de todo o país e com os membros do Governo.
Depois seguiram-se seis anos de deputado. Estive na
Assembleia da República desde outubro de 2009 até outubro de 2015, eleito nas
listas do PS pelo círculo eleitoral de Viseu. Foram anos intensos, em que
muitas amizades se forjaram e que ainda hoje guardo com uma enorme estima. Os
momentos de tensão política eram constantes, sobretudo, aquando da queda do
Governo de José Sócrates, em 2011, mas também, durante a governação de Passos
Coelho. Quem não se lembra, por exemplo, da ‘irrevogável’ demissão de Paulo Portas?
Não sendo este o momento de aprofundar essa minha
participação parlamentar e de relatar a atividade desenvolvida nesses seis anos
de parlamento, não posso, porém, deixar de aqui trazer os anos em que estive na
linha da frente do PS (éramos vários) nos debates parlamentares com o ministro
da educação, Nuno Crato. Eram debates que acabavam, muitas vezes, por ficar
bastante crispados, face aos diferentes conceitos e visões para a educação em
Portugal.
Bom, depois foi o regresso à Escola Secundária de Sátão,
onde estou, ininterruptamente, (felizmente, sem doenças de permeio!) desde
outubro de 2015 a lecionar Geografia, tentando, diariamente, dar o meu melhor.
Não com o romantismo dos 20 anos de idade, quando cheguei a Paço de Arcos, mas
com a mesma dedicação e a certeza de que a educação deverá/deveria merecer a
melhor das atenções por parte dos governos de forma a não deixar nenhum aluno
para trás com base nas suas circunstâncias socioeconómicas ou culturais.
Não referi, propositadamente, nenhum aluno. Foram
centenas e centenas que tive nestes 44 anos. E se não me lembro de todos eles –
com certeza que não! –, tenho a consciência de que os tratei a todos com
respeito e com justiça, não guardando qualquer rancor com nenhum dos meus
discentes. Se o inverso não for mimético, as minhas desculpas aos visados.
Aos meus colegas que, como eu, diariamente, respeitam os
seus alunos e os olham como cidadãos em construção, aos professores que, como
eu, têm um especial gosto de ensinar e de aprender e que não transigem, desde
logo, com a sua consciência, deixo uma palavra de grande apreço, consideração e
admiração.
Gosto de ser professor e gosto da saudável cumplicidade
que tenho com os meus alunos.
Mas, como em tudo na vida, oportunamente, decidirei qual
o dia em que colocarei um ponto final na minha atividade docente.
Um abraço a todos.
Acácio Pinto | 15.01.2024