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Homenagem aos combatentes, em Sátão: ‘A pátria usou-os e não lhes agradeceu'

Teve lugar este domingo, dia 6 de março, em Sátão, a homenagem aos combatentes na guerra do ultramar, promovida pelo núcleo de Viseu da Liga dos Combatentes e pela comissão de combatentes de Sátão. As cerimónias desenrolaram-se na Igreja da Nossa Senhora da Graça e no cemitério, em dois momentos marcados por uma forte emoção e grande solidariedade humana

Na Igreja foi celebrada a Eucaristia, presidida pelo arcipreste José Cardoso e concelebrada pelos padres António Lopes Encarnação, Milton Lopes Encarnação, José Quinteiro, Nuno Amador e Augusto Gomes, ante uma guarda de honra constituída por militares do RIV 14 e no cemitério foi descerrada uma lápide que perpetuará o nome dos dois falecidos na guerra, que ali se encontram sepultados.

Dizendo que “esta homenagem é um ato de justiça (…) a jovens que renunciaram aos seus projetos de vida” o padre Milton, na homilia, que proferiu, pela segunda vez em 54 anos de vida sacerdotal, através de um texto escrito, deixou bem evidenciada a força e o poder das palavras ao acrescentar que “a pátria usou-os e não lhes agradeceu”, seguido de um ‘grito’ de solidariedade ao pronunciar “mas nós com eles faremos sempre comunhão”.

Considerando aquela “uma guerra que em muitas circunstâncias não era justa”, o padre Milton quis ainda enfatizar que “continua em débito o tributo da gratidão com todos”.

Já no cemitério, as palavras estiveram por conta do tenente-coronel José Tomás, presidente do núcleo de Viseu da Liga e do presidente da Câmara Municipal de Sátão, tendo ambos enaltecido a iniciativa de homenagear os combatentes de Sátão.

José Tomás contextualizou o trabalho da Liga dos Combatentes, desde a sua fundação e o trabalho que desenvolve, mas focou-se igualmente na guerra que se realizou entre 1961 e 1974 para dizer que os militares serviram com toda a sua força e com a própria vida “aqueles que eram ao tempo considerados os interesses nacionais”, dizendo que esta é a função dos militares, executarem as missões que são definidas pelos poderes políticos. Alexandre Vaz, por seu lado, centrou-se nos dois jovens de Sátão ali sepultados, alferes José d’Almeida Lopes da Encarnação e agente, Eduardo Pina, inspirando-se para tal nas palavras do livro “Pajem de um reino” da autoria do alferes José d’Almeida Lopes da Encarnação, ele que morreu em combate, em Moçambique, no dia 7 de março de 1966 e agora editado “in memoriam” pela sua família.

De referir que os padres Milton e António Lopes Encarnação, eram irmão de um dos homenageados, o alferes miliciano José d’Almeida Lopes da Encarnação.

Cerimónias semelhantes a esta serão levadas a cabo durante o ano de 2016 nos cemitérios do concelho onde se encontrem combatentes sepultados.




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