Avançar para o conteúdo principal

[opinião] A deriva da educação e a municipalização

São infindáveis os erros e as más decisões que o ministério da educação tem vindo a acumular ao longo destes três anos e meio e que têm vindo a contribuir para a degradação da escola pública. Este ano não tem fugido à regra e o mar de problemas prossegue.
Depois de um primeiro período para esquecer, em que os alunos estiveram várias semanas, alguns dois meses, sem professores, fruto de um desconcertante processo concursal que não havia meio de dar certo, eis que surgem ainda no primeiro período problemas de financiamento dos cursos profissionais, da formação artística e dos colégios de educação especial, para já não falar na teimosia de impor uma prova de avaliação aos professores contratados que nada resolve e que nada acrescenta à qualificação do sistema educativo, bem antes pelo contrário.
Igualmente se começaram a conhecer durante o primeiro período alguns dos meandros de uma negociação secreta que o governo foi desenvolvendo com alguns municípios com o objetivo de efetuar a municipalização nas áreas da educação, saúde, segurança social e cultura.
Um processo que foi sendo escondido e que era dito que entraria em vigor no início de 2015 o que até agora não ocorreu, o que não deve fazer baixar a guarda.
Mas afinal, depois de o tema ser trazido para a agenda e de começar a ser discutido, apesar de em círculo muito fechado, o que é facto é que o assunto passou a estar na ordem do dia.
E assim sendo, impõe-se que o governo explicite de forma clara e em concreto ao que vem.
No caso da educação é importante que percebamos qual é o conceito subjacente a todo este processo. É que nós não nos podemos esquecer que a igualdade de oportunidades é o pilar central da educação e que não podemos espartilhar o currículo e permitir que haja objetivas diferenças entre alunos fruto de tratamentos diferenciados em territórios diferentes.
É por isso que entendo que as questões do currículo, as questões pedagógicas e da gestão do pessoal técnico-docente não podem deixar de estar ancoradas na administração central, ao contrário do que tem vindo a público.
Quer isto dizer que não poderemos nunca espartilhar os elementos estruturantes do processo de ensino e aprendizagem contribuindo para que alunos de concelhos diferentes tenham percursos divergentes e incompatíveis com uma coerência a que deve obedecer todo o sistema.
Vamos, pois, todos ao debate. Não o tememos, assim como não o teme nenhuma das instituições e dos agentes com ligações à educação, quer sejam autarquias, quer seja a comunidade educativa.

Só que o debate não pode ser do governo, à porta fechada, com cada um dos protagonistas de cada vez, tem que ser de porta aberta para que todos possam saber em pormenor todos os elementos que integram as diversas propostas.
Acácio Pinto
Diário de Viseu

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

Frontal, genuíno, prestável: era assim o António Figueiredo Pina!

  Conheci-o no final dos anos 70. Trabalhava numa loja comercial, onde se vendia de tudo um pouco. Numa loja localizada na rua principal de Sátão, nas imediações do Foto Bela e do Café Sátão. Ali bem ao lado da barbearia, por Garret conhecida, e em frente da Papelaria Jota. Depois, ainda na rua principal, deslocou-se para o cruzamento de Rio de Moinhos, onde prosseguiu a sua atividade e onde se consolidou como comerciante de referência. Onde lançou e desenvolveu a marca que era conhecida em todo o concelho, a Casa Pina, recheando a sua loja de uma multiplicidade de ferramentas, tintas e artefactos. Sim, falo do António Figueiredo Pina. Do Pinita, como era tratado por tantos amigos e com quem estive, há cerca de um mês e meio, em sua casa. Conheceu-me e eu senti-me reconfortado, conforto que, naquele momento, creio que foi recíproco. - És o Acácio - disse, olhando-me nos olhos. Olhar que gravei e que guardo! Quem nunca entrou na sua loja para comprar fosse lá o que fosse? Naquel...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...