Passos Coelho especializou-se a comentar a situação portuguesa no estrangeiro, ou em outra língua que não a portuguesa.
Assim foi no ano passado em Espanha, ainda na oposição, quando se deslocou a Madrid e comentou as golden share da PT criticando o governo português fora de território nacional, precisamente em casa do concorrente que estava em jogo, a telefónica.
Depois escreveu uma carta em inglês a explicar a sua opinião sobre consolidação das finanças públicas em Portugal.
Agora, no Paraguai, quando, ao abordar a situação portuguesa, disse que iria propor alguns ajustamentos ao memorando com a troika.
Ou seja, temos um primeiro ministro que entende que as justificações e as declarações sobre matérias importantes para o seu país têm que ser dadas, em primeira mão, não no seu país e na sua língua, mas a outros que não os seus concidadãos e o seu país.
Bem sei que corro o risco de uma generalização, porventura, excessiva. Porém, isso não deixa de revelar uma tendência preocupante.
É que esta linha de conduta é a tradução de uma forma de estar na política de quem não quer construir, no seu país, soluções alargadas de partilha de responsabilidades, aliás, como se vê no orçamento de estado para 2012.
Elabora uma proposta de orçamento a seu belo prazer, contra os trabalhadores e contra a economia, e depois manda os “papagaios” do costume dizer que o PS não pode deixar de se associar a um documento que é contrário a tudo aquilo que é o memorando de entendimento assinado com a troika.
Depois, fala no Paraguai em alguns ajustamentos ao memorando sem que se conheçam os processos que já levaram, em setembro, à alteração do mesmo, sem chamar o PS à mesa das negociações.
Estamos perante uma situação insustentável em termos institucionais, já criticada pelo conselho de estado e por muitos comentadores e que não augura nada de bom para Portugal e para os portugueses.
Passos Coelho está a revelar-se um político muito impreparado para o desempenho das altas funções institucionais em que está investido.
Resta ao PS prosseguir a sua caminhada de oposição responsável, serena, assumindo o seu passado e preparando, com os portugueses, um projeto de esperança para o futuro de Portugal.
(Foto: oeconomistaport.wordpress.com)