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Breve retrospetiva sobre os meus 44 anos de serviço

 

Em 1980, na Escola Preparatória de Paço de Arcos

Cumpro hoje 44 anos de funções públicas, ao serviço do estado português.

Corria o ano de 1980 quando, no dia 15 de janeiro, me apresentei na Escola Preparatória de Paço de Arcos, concelho de Oeiras, para trabalhar nos serviços de ação social escolar, onde fora colocado até 31 de agosto desse ano.

Munido de um alvará passado pela Direção Escolar de Lisboa, subi a Avenida Voluntários da República, em Paço de Arcos, e, chegado à escola, fui recebido pelo presidente do conselho diretivo, de cujo nome não me recordo, e pelo senhor Costa, chefe da secretaria.

Era Primeiro-Ministro, bem me lembro, Francisco Sá Carneiro e Ministro da Educação Vítor Crespo. Na pasta das Finanças e do Plano estava Aníbal Cavaco Silva.

No ano letivo de 1980/81 seguiu-se uma ida para o concelho de Tabuaço, mais concretamente, para a mui altaneira e bonita aldeia de Valença do Douro, onde fui colocado, agora pela Direção Escolar de Viseu, no Jardim de Infância de Valença do Douro. Ali esperavam-me mais de vinte alunos do pré-escolar, numas instalações diminutas e escuras, até à construção de um pré-fabricado, passados alguns meses. Estávamos no dealbar da massificação da educação pré-escolar e não havia educadores de infância suficientes, pelo que foi necessário recorrer aos professores do 1º ciclo, como era o meu caso.

De Valença do Douro, lembro-me da Sãozinha, da Zezinha, do Leão, da Edalgisa, do Adolfo, do Mendes, do Tavares, da Rosa, da Alcina, da Dulcelina… e da professora Audete Azevedo, delegada escolar de Tabuaço…! Que bem me sabe recordar estes solidários e excelentes colegas que estiveram comigo em terras durienses.

Depois foi o Pereiro, também no concelho de Tabuaço, em 1981/82, na escola primária local, com as quatro classes. O acesso para a aldeia era de terra batida e, deixem-me dizer-vos, era assim como que a última localidade do concelho. No Pereiro residi na casa do professor, uma casa com poucas condições, mas ainda assim uma casa que me permitiu não ter de fazer deslocações diárias para nenhum outro local. A água para o meu uso doméstico eram os alunos que se encarregavam de ir buscá-la ao fontenário, no final das aulas. Era tipo um ‘direito consuetudinário’. Então o senhor professor lá poderia andar de cântaro na mão!?

Seguiu-se o concelho de Viseu. Corria o ano letivo de 1982/83 e fui colocado em Casal do Esporão, onde estive dois anos. A saudosa Beatriz, com ligações ao Sátão e que partiu precocemente, e a Judite foram as colegas que se seguiram. Ambas magníficas, na relação pessoal e profissional!

Seguiram-se Soito de Golfar, Vila Longa e Carvalhal de Romãs, onde regressei à lecionação dos quatro anos de escolaridade, com uma passagem pela escola do 1.º ciclo de Sátão, em que só tive o terceiro ano de escolaridade. Esses foram tempos de grande dinamismo em termos profissionais e de intensa intervenção associativa e política a nível da minha aldeia, Rãs, da minha freguesia, Romãs e do meu concelho, Sátão, por onde andei até ao ano de 1992, ano em que concluí a licenciatura em Geografia na Universidade de Coimbra, como trabalhador estudante.

Depois, para concluir a licenciatura pedagógica em Geografia para o 3.º ciclo e para ensino secundário estive colocado, no ano letivo de 1992/93, na Escola Secundária da Quinta das Flores, na Lusa Atenas, para fazer o respetivo estágio pedagógico.

E, daí em diante, de 1993/94 até à atualidade, sempre prestei funções docentes na Escola Secundária de Sátão, hoje integrada no Agrupamento de Escolas de Sátão.

Houve, porém, vários hiatos durante estes trinta anos.

De maio de 1995 até outubro de 2000, fui coordenador adjunto do Centro da Área Educativa de Viseu, não podendo aqui deixar passar em claro as excelentes relações profissionais e de amizade que estabeleci com o Carlos Jorge Gomes, Coordenador do CAE de Viseu e com o Rui Santos, Diretor Regional de Educação do Centro.

Depois foi uma passagem pela Secretaria de Estado da Administração Marítima e Portuária, até junho de 2001, onde desempenhei as funções de chefe de gabinete do Secretário de Estado José Junqueiro, a quem não posso deixar de prestar um especial tributo, bem como ao Ministro da tutela, Jorge Coelho, que recordo com saudade.

Em junho de 2001 nova mudança se operou e eis-me, até fevereiro de 2003, como presidente da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência de Viseu, cujo lugar coloquei à disposição do Ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, após o PS ter perdido as eleições legislativas de março de 2002, vindo a sair em fevereiro de 2003 para regressar à Escola Secundária de Sátão, onde estive a lecionar Geografia até abril de 2005.

No ano letivo de 2004/2005, como entretanto tinha concluído o mestrado em Geografia, acumulei funções docentes no Instituto Superior de Ciências Educativas de Felgueiras, onde lecionei a disciplina de Geografia aos alunos que frequentavam o curso de ensino do 1.º e 2.º ciclos, nas diversas variantes.

Depois foi tempo, em abril de 2005, de assumir, a convite de António Costa, Ministro da Administração Interna, as funções de Governador Civil do Distrito de Viseu. Era Primeiro-Ministro José Sócrates. Ali estive, até agosto de 2009, em funções de provedoria dos cidadãos junto do Governo e de representante deste no território distrital. Foram tempos de intenso trabalho, sobretudo quando os incêndios florestais eram implacáveis, e de permanentes deslocações a todos os cantos e recantos destes mais de cinco mil quilómetros quadrados que integram o distrito de Viseu.

Guardo boas memórias da equipa do Governo Civil, tal como retenho imagens vivas de idas aos vinte e quatro concelhos do distrito e das inter-relações lhanas que estabeleci com todos os presidentes de câmara e demais agentes sociais, associativos e políticos do distrito, bem como com os meus colegas de todo o país e com os membros do Governo.

Depois seguiram-se seis anos de deputado. Estive na Assembleia da República desde outubro de 2009 até outubro de 2015, eleito nas listas do PS pelo círculo eleitoral de Viseu. Foram anos intensos, em que muitas amizades se forjaram e que ainda hoje guardo com uma enorme estima. Os momentos de tensão política eram constantes, sobretudo, aquando da queda do Governo de José Sócrates, em 2011, mas também, durante a governação de Passos Coelho. Quem não se lembra, por exemplo, da ‘irrevogável’ demissão de Paulo Portas?

Não sendo este o momento de aprofundar essa minha participação parlamentar e de relatar a atividade desenvolvida nesses seis anos de parlamento, não posso, porém, deixar de aqui trazer os anos em que estive na linha da frente do PS (éramos vários) nos debates parlamentares com o ministro da educação, Nuno Crato. Eram debates que acabavam, muitas vezes, por ficar bastante crispados, face aos diferentes conceitos e visões para a educação em Portugal.

Bom, depois foi o regresso à Escola Secundária de Sátão, onde estou, ininterruptamente, (felizmente, sem doenças de permeio!) desde outubro de 2015 a lecionar Geografia, tentando, diariamente, dar o meu melhor. Não com o romantismo dos 20 anos de idade, quando cheguei a Paço de Arcos, mas com a mesma dedicação e a certeza de que a educação deverá/deveria merecer a melhor das atenções por parte dos governos de forma a não deixar nenhum aluno para trás com base nas suas circunstâncias socioeconómicas ou culturais.

Não referi, propositadamente, nenhum aluno. Foram centenas e centenas que tive nestes 44 anos. E se não me lembro de todos eles – com certeza que não! –, tenho a consciência de que os tratei a todos com respeito e com justiça, não guardando qualquer rancor com nenhum dos meus discentes. Se o inverso não for mimético, as minhas desculpas aos visados.

Aos meus colegas que, como eu, diariamente, respeitam os seus alunos e os olham como cidadãos em construção, aos professores que, como eu, têm um especial gosto de ensinar e de aprender e que não transigem, desde logo, com a sua consciência, deixo uma palavra de grande apreço, consideração e admiração.

Gosto de ser professor e gosto da saudável cumplicidade que tenho com os meus alunos.

Mas, como em tudo na vida, oportunamente, decidirei qual o dia em que colocarei um ponto final na minha atividade docente.

Um abraço a todos.

Acácio Pinto | 15.01.2024

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