Não, não são crónicas de uma monarquia. Não, não é Fernão
Lopes ou Zurara que escrevem. Não, não é um diário do século XV. São mesmo sons
e palavras do século XXI que se soltam de imagens. De fotografias indiscretas.
Intrusivas. Cruéis. Doces. Lôbregas, algumas.
Captadas pelas objetivas. Grandes angulares. Teleobjetivas.
Objetivas macro. São olhares. São visões. São agoras que nos
levam mundo além. São, afinal, diários de uma república. Desta. Deste jardim
aqui plantado. Ao som de músicas elétricas. Sintetizadas. Ao ritmo de
movimentos lentos, uns. Bruscos e ousados, tantos outros. De palavras batidas
letra a letra. Esculpidas e apagadas uma a uma. Renascidas de seguida. E mais
música nos ínterins. Como o vento que passa ou como o piar do mocho.
São aquis e aís. São rostos.
Caminhos. Para nos confrontarem com quotidianos de vida. Nos desafiarem com
momentos, com instantes. Com vidas de seres desta espécie. Com
seres em diálogos esguios, vadios, ácidos ou flácidos. Cruéis, reais. De seres que
trabalham, que estão condenados a trabalhar. De seres,
alguns, que têm de singrar na vida como patrões por
subsistência.
Diário de uma República II. Um olhar. Mil olhares. Visões de
trabalho. De trabalhadores lúgubres. Carregando a carne crua nas alvoradas
frias. De operários soturnos. Manobrando máquinas ronceiras. De pescadores de
pele salgada. Pescando nos mares negros de todos os dias. De seres. Nus.
Tantos, do avesso. Sem trabalho.
E por que não os deixam ganhar a vida? A vida é para ganhar?
Ou é para perder?
DIÁRIO
DE UMA REPÚBLICA II. Experimentem este diário. A República, vossemecês já
conhecem! Sim, é esta.
CRIAÇÃO E PRODUÇÃO: Amarelo Silvestre
Acácio Pinto, junho 2023