Avançar para o conteúdo principal

[opinião] O desemprego não obedece ao governo, pois claro!


Os números não mentem. Enquanto na União Europeia e em toda a zona euro a taxa de desemprego se mantém estável, respetivamente nos 10,4% e nos 11,2%, em Portugal o desemprego continua a crescer e atingiu no mês de junho, segundo o Eurostat, o valor de 15,4%, um aumento de 2,8% relativamente a 2011.
E subiu, precisamente, num mês em que devia baixar pela dinamização da economia associada ao turismo que sempre acontece no verão.
Afinal com este governo nada é o que era. Nem o desemprego lhe obedece, ou não seja este o resultado de uma sangria cega nos rendimentos dos trabalhadores e um aumento insustentável dos impostos; isto é, a consequência da política de austeridade e de terra queimada.
Mas de tudo isto aquilo que é mais chocante, por tudo o que significa e pelo simbolismo que encerra é o aumento do desemprego entre os jovens. Aí, onde tudo devia começar, é que o drama é terrível. O desemprego desta geração mais jovem, desta geração melhor preparada que o país alguma vez teve, o desemprego subiu 7,1% no último ano e atingiu, segundo o Eurostat, nos jovens com menos de 25 anos, os 36,4%.
Não é preciso elaborar grandes teorias sobre esta temática. Ela é demasiado cruel. É o resultado de uma política de austeridade cega, surda e muda de Passos, Gaspar e Portas. Não ouvem ninguém e quando falam é para mandar estes jovens emigrar.
Ao que chegámos. Quando uma corte de governantes consegue encaixe para todos os “seus fiéis gestores” de topo, independentemente da faixa etária e deixa esta vontade transformadora e competente ir dar o seu contributo para outros territórios está tudo dito sobre os seus intentos.
Tudo isto diz bem da urgente necessidade que Portugal tem de alterar o rumo traçado, de mudar o sentido das políticas, como ao longo do tempo o PS e o seu secretário-geral têm vindo a dizer.
Mas a mudança tem igualmente que acontecer na União Europeia. Não nos podemos resignar a 25 milhões de europeus desempregados. É, pois, nestes momentos que se vê a fibra dos líderes europeus: ou obedecer aos ditames dos mercados desregulados e do capital ou romper com isso e enveredar por políticas solidárias, de reforço da economia e do papel social dos estados.
Está à vista de todos que este resultado não nos serve e, se necessário for, temos que refundar a Europa dando a palavra constituinte aos cidadãos europeus nas eleições para o parlamento europeu de 2014.
in: Diário de Viseu de 02 agosto de 2012, p.7

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...