[opinião] DN de hoje: Afirmar o português no mundo

Artigo que publiquei no DN de hoje, 19 de março, na pág. 55.
É uma artigo em que exponho alguns argumentos em favor do acordo ortográfico e que aqui transcrevo:
«Vem este título – afirmar o português no mundo – a propósito do acordo ortográfico que, nestes últimos tempos, tanto ruído tem causado na opinião pública.

É nesse contexto que também aqui vou deixar a minha posição a favor do acordo que, como se sabe, Portugal está a aplicar fruto das ratificações e resoluções de que o mesmo foi alvo.
E faço-o num momento em que um vasto conjunto de portugueses lhe decidiram fazer um ataque cerrado mas, em grande medida, serôdio.
Em primeiro lugar porque o acordo inicial remonta a 1990 e o segundo protocolo modificativo de 2004 foi aprovado na Assembleia da República em 2008 (com 3 votos contra!). Isto é, houve quase duas décadas para o debate se travar e, praticamente, o pleno dos deputados aprovou-o.
[Ou será que foi preciso Vasco Graça Moura chegar ao CCB, e desautorizar o primeiro-ministro, para que este assunto voltasse à ribalta?]
Em segundo lugar, há que considerar que não é com duas ortografias oficiais da língua portuguesa que atribuímos verdadeira universalidade e prestígio ao português no mundo, nomeadamente nas instituições e nas academias internacionais, para além de que uma grafia comum na CPLP abre novas oportunidades ao mercado da edição em português.
Em terceiro lugar, temos que ter em conta que qualquer língua é uma entidade em permanente construção e evolução e em nenhum momento ela cristaliza. Não tenhamos, pois, medo desta mudança que visa aproximar a grafia da articulação fonológica, pois já no passado também houve alterações, neste como noutros aspetos, também contestadas à época, mas que foram absorvidas pelos escreventes [p.e. aflicto > aflito; exhausto > exausto; phosphoro > fósforo; sciência > ciência].
Em quarto lugar gostaria de dizer que depois de cem anos de divergências ortográficas (desde o acordo de 1911 que não foi extensivo ao Brasil) e depois de várias tentativas goradas de acordos envolvendo a Academia Brasileira de Letras e a Academia de Lisboa de Ciências (1931, 1943, 1945, 1971/1973, 1975 e 1986) foi finalmente encontrado um texto comum que, podendo ter lacunas, é um acordo internacional e um acordo é, em si mesmo, um facto que encerra convergência, que é positivo e que importa, portanto, enfatizar.
Em quinto lugar, incluo-me no lote daqueles que acham que o “alfa e o ómega” da evolução da língua não se atingiu nas gerações passadas, mas também não se atinge na nossa… Ou seja, parafraseando Galileu, “porém, ela move-se”.
Em suma, admito que possamos passar por um período de alguma "cacofonia ortográfica", como lhe chamou Joaquim Alexandre Rodrigues, porém isso não deve invalidar, por si, o acordo, uma vez que os falantes do futuro, as crianças e os jovens, farão uma rápida integração de todos os reajustamentos que dele resultam.»