Avançar para o conteúdo principal

Preferia, muito mais, ir visitá-lo a Tormes!

 

Foto: Assembleia da República

Preferia, muito mais, ir visitá-lo a Tormes!

Sempre achei que o lugar onde devem repousar os restos mortais das mais ilustres figuras de um país é nas suas terras, tal como os demais. Onde nasceram ou se radicaram. Ou então onde cada um deles muito bem entender se essa vontade for expressamente declarada em vida.

Vem isto a propósito da trasladação dos restos mortais de Eça de Queirós para o Panteão Nacional, onde jazem, é bem verdade, muitos outros vultos das letras, da política e até da canção e do futebol.

Não quero aprofundar, nesta breve crónica, os fundamentos da existência de um panteão. De um local onde se guardem os restos mortais dessas personalidades mais singulares e ímpares.

Quero, isso sim, deixar expresso que, no caso em apreço, Eça contemplaria muito melhor o mundo a partir de Baião, do cemitério de Santa Cruz do Douro, a sua ‘casa’ desde 1989, depois de ter estado desde 1900, ano da sua morte, no cemitério do Alto de São João em Lisboa.

De Baião, com Tormes ao lado e longe do ‘paço’, ele visualizaria ainda com maior nitidez (mesmo sem o seu monóculo) os balofos e alapados conselheiros Acácio (cujo nome carrego há mais de seis décadas, com gosto!) que proliferam por Lisboa, a capital do império, que ao cheiro da canela (leia-se pilim, massa, carcanhol, guito, taco…) o reino nos despovoa, parafraseando Sátão de Miranda. 

Mas, será que Eça precisava de ir para o Panteão para ser enorme, distinto, preclaro, insigne?

Não!

Preferia muito mais ir visitá-lo a Tormes e o território agradeceria!

Pelo menos, que agora o deixem descansar em paz!

Acácio Pinto – 09.01.2025 - LETRAS E CONTEÚDOS

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

Frontal, genuíno, prestável: era assim o António Figueiredo Pina!

  Conheci-o no final dos anos 70. Trabalhava numa loja comercial, onde se vendia de tudo um pouco. Numa loja localizada na rua principal de Sátão, nas imediações do Foto Bela e do Café Sátão. Ali bem ao lado da barbearia, por Garret conhecida, e em frente da Papelaria Jota. Depois, ainda na rua principal, deslocou-se para o cruzamento de Rio de Moinhos, onde prosseguiu a sua atividade e onde se consolidou como comerciante de referência. Onde lançou e desenvolveu a marca que era conhecida em todo o concelho, a Casa Pina, recheando a sua loja de uma multiplicidade de ferramentas, tintas e artefactos. Sim, falo do António Figueiredo Pina. Do Pinita, como era tratado por tantos amigos e com quem estive, há cerca de um mês e meio, em sua casa. Conheceu-me e eu senti-me reconfortado, conforto que, naquele momento, creio que foi recíproco. - És o Acácio - disse, olhando-me nos olhos. Olhar que gravei e que guardo! Quem nunca entrou na sua loja para comprar fosse lá o que fosse? Naquel...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...