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Um mês depois dos atentados de Paris: ‘A vida continua’, diz João Aguiar, mas com ‘maior vigilância’

 


ENTREVISTA TAMBÉM PUBLICADA: AQUI.

O ano de 2015 foi de má memória para os franceses e para todos aqueles que defendem os valores da liberdade e da tolerância.

E foi e é de má memória porque em 2015 a França, mais concretamente Paris, foi sujeita a dois grandes antentados terroristas. Faz hoje 10 anos (07.01.2015) foi contra a redação da revista Charlie Hebdo e em novembro de 2015, dia 13, tiveram lugar atentados em vários locais da capital francesa.

É em memória desses acontecimentos que hoje republicamos uma entrevista, com João Aguiar, à época, emigrante em Paris onde desempenhava funções numa instituição bancária e que saiu no jornal Dão e Demo no dia 14.12.2015.

Um mês depois dos atentados de 13 de novembro em Paris quisemos ouvir alguém radicado em Paris, no caso, alguém a trabalhar e a residir há mais de três décadas na capital francesa.

Trata-se de João Augusto Soares de Aguiar, de 59 anos de idade, natural de Contige, do concelho de Sátão. Está em Paris desde 1981, onde desenvolveu, desde então, uma carreira no setor bancário tendo passado pelo BPI, BES, Crédit Lyonnais, Société Generale e atualmente é responsável do núcleo de apoio às empresas da região de Paris no Crédit do Nord, residindo em La Rochette/Melun, o que o leva diariamente a circular nos transportes públicos e a circular na cidade e região parisiense

Dão e Demo: Desde que ano estás em Paris?

João Aguiar: Estou em Paris desde 1981.

DD: O que te levou a emigrar?

JA: A história não se repete, mas a situação que vivem muitos jovens neste momento em Portugal é muito semelhante ao que se passou comigo quando decidi emigrar pois já nessa altura (há 40 anos) foi a falta de emprego que me “obrigou” a procurar a solução no estrangeiro.

DD: Onde estavas na noite dos atentados?

JA: Já estava em casa.

DD: Como soubeste e acompanhaste aqueles momentos de terror mesmo ao teu lado?

JA: Foi através da televisão e da internet que tomei conhecimento da barbaridade do 13 de Novembro.

DD: Alteraste as tuas rotinas diárias depois destes ataques?

JA: Não, continuo a minha vida como dantes embora com alguma apreensão sobretudo nos trajetos de metro que utilizo regularmente.

DD: Passado um mês sobre os atentados de 13 de novembro, em Paris, os locais dos atentados já voltaram à normalidade?

JA: Penso que não.

DD: Já lá passaste depois dos atentados?

JA: A zona dos atentados não fica nos bairros que costumo frequentar.


“…há uma maior vigilância por parte das empresas e comércios”

DD: E a vida quotidiana em Paris sofreu alguma alteração?

JA: Ao contrário do que se poderia imaginar, não são visíveis grandes diferenças, embora como é óbvio há uma maior vigilância por parte das empresas e comércios na entrada de pessoas nos locais mais frequentados.

DD: Hoje, nas conversas com os teus colegas de trabalho e amigos os temas dos atentados e do terrorismo é recorrente ou agora já não falam disso?

JA: Continua a ser um assunto de que se fala regularmente, mas neste momento as eleições Regionais e a COP 21 também são temas muito falados.

DD: Como é que a comunidade portuguesa está a lidar com estes atos terroristas em Paris?

JA: Os portugueses de uma maneira geral são muito “silenciosos” em Paris e muitas vezes acabam por atribuir todos os problemas existentes em França à comunidade de origem árabe.

DD. Há mais policiamento nas ruas? Mais controlo policial das pessoas na rua?

JA: Quanto ao policiamento, e ao contrário do que se poderia pensar, tenho a impressão de não haver diferença do que é habitual nesta época do ano.

DD: Do local onde resides até ao local de trabalho, fazes a viagem de metro. Nota-se alguma alteração na vigilância ou policiamento nas estações ou dentro do metro depois dos atentados?

JA: A minha grande surpresa na segunda-feira a seguir aos atentados foi chegar a Paris e não ter visto mais polícia e militares do que é habitual.

DD: No passado domingo [6 dezembro] a Frente Nacional saiu claramente vitoriosa nas eleições regionais. Achas que os atentados que têm assolado Paris tiveram algum efeito nesse resultado?

JA: Os resultados foram os da primeira volta e estou convencido que na segunda volta vão ser muito diferentes e o meu desejo é que a Frente Nacional seja derrotada em todas as regiões [as respostas foram enviadas na tarde deste domingo, 13 de dezembro, antes do encerramento das urnas].

No entanto existe neste momento em França uma corrente “nacionalista” muito forte e os atentados vão contribuir para a propaganda daqueles que defendem que os estrangeiros são um perigo para a nação.


“Todos os dias encontro nas ruas de Paris “novos” emigrantes [portugueses]”

DD: De Portugal saíram centenas de milhares de pessoas para o estrangeiro nos últimos anos. Constataste isso também na tua área de residência e de trabalho?

JA: Todos os dias encontro nas ruas de Paris “novos” emigrantes. Penso que grande parte deles instalam-se próximo de familiares que já vivem em França.

DD: Finalmente, pensaste, em algum momento, regressar a Portugal depois destes atentados ou isso não alterou as tuas decisões quanto ao teu futuro?

JA: Paris já viveu várias situações graves e infelizmente vivemos numa sociedade cada vez mais violenta, mas a vida continua.

DD: Já agora, quando pensas regressar.

JA: O meu objetivo está muito perto, mas enquanto não for definitivo vou continuar a visitar a minha terra sempre que me seja possível!

DD: Obrigado e felicidades.

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