Às localidades e aos espaços concretos que as povoam há
sempre um manancial de histórias ou de estórias que se podem contar. Há sempre
circunstâncias, quantas vezes inusitadas, que conferem àquele lugar específico
uma personalidade, uma alma própria. É assim como que algo que anda no ar, algo
que nós respiramos só ali e que nos causa um especial bem-estar.
Tudo o que precede vem a propósito do B’ART, um bar de praia
que frequentamos, com especial gosto.
Localizado na praia de Quiaios/Murtinheira, numa encruzilhada
de passadiços, a meia dúzia de metros das ondas do mar, este bar sempre nos
atraiu. Fosse pela magnificente esplanada virada a sudoeste, fosse pelo serviço
de fino recorte, fosse pela música ambiente, fosse pela decoração, ou fosse lá
pelo que fosse, sempre gostámos de ali ir e estar.
Há ali, naquele presente, como que um sopro, um lastro, uma
brisa de um passado que, adivinhamos, ter tido a sua beleza, o seu esplendor e
que é respeitado e projetado para o futuro pela atual gerência.
E se essa aura, essa base tiver tido a ver com o pintor e
mestre Mário Silva? Com o artista plástico Mário Silva, coimbrão e regular
visitante desta praia, de quem guardamos boas recordações de exposições que
visitámos, nos anos 90, na Lusa Atenas?
Pois bem, gostámos de saber que, de facto, o nome B’ART (Bar
de Art) foi inspirado no facto de aquele pintor, nascido em 1929 e falecido em
2016, que tinha atelier em Lavos no concelho da Figueira da Foz, ter escolhido
este espaço, em várias oportunidades, para dar à luz as formas e as policromias
de algumas das suas telas, por entre uma dentada num chouriço acompanhada por
uma bebida a condizer.
É também isto, são estas circunstâncias que conferem, que
acabam por outorgar aos espaços as idiossincrasias que os particularizam e os
projetam, quantas vezes, nos nossos imaginários de vida.
Acácio Pinto | abril
de 2024