Avançar para o conteúdo principal

A apresentação do livro “A lesma arrasta-se”, de José Arimateia, foi este sábado em Viseu

 


Foi uma delícia escutar o olhar do Francisco Mendes da Silva sobre A lesma arrasta-se, livro que teve a sua apresentação pública em Viseu, neste sábado dia 24 de fevereiro.

No escuro do auditório do IPDJ as suas palavras transparentes, uma a uma, feitas frases, forneceram-nos mais uma chave de acesso à poesia do José Arimateia e às construções simbólicas que ela encerra.

E a beleza da poesia (direi, arriscando, de toda a arte!) está precisamente aí. Está nos múltiplos olhares que proporciona e na beleza que cada um de nós sorve da mancha de cores, figuras, sons e silêncios que impregnam a narrativa poética. Está afinal, nas emoções que nos causa. No choque que nos transmite.

As coordenadas de acesso do Francisco Mendes da Silva àquele território poético, confesso, não foram as minhas. Ele deu outras voltas, tão simples e tão poéticas! Fossem “Hammamet” ou “Don Brown Rice Cherry”, ou fossem o “Jardim da Sereia” ou “a senhora da limpeza” no elevador, fosse o que fosse, foram belas construções simbólicas!

Mas, fossem quais fossem os caminhos e sejam quais forem os olhares, as motivações, os trilhos percorridos: é a poesia a cumprir-se! A proporcionar-nos itinerários tão díspares, mas tão autênticos, quiçá, a franquear-nos o mar largo para partidas em busca de outros portos de abrigo, mas nunca para fazer deles portos de chegada, parafraseando Miguel Torga.

E tudo isto nos foi dado sob uma fotografia, ou uma sucessão interminável de magníficas fotografias, de uma lesma que se arrastava, captada pela resignada paciência do Leonardo Simões.

A Patrícia Portela foi uma leitora, ao mesmo tempo suave e acutilante, de vários poemas, que me prendeu pela voz madura, tranquila e doce.

Acácio Pinto | Fevereiro de 2024

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...