Avançar para o conteúdo principal

Quinta do Bill e filarmónicas: a música em interação na Figueira da Foz

 Pode-se estranhar. Pode-se mesmo duvidar das virtualidades da associação de duas filarmónicas centenárias com uma icónica banda nascida em início dos anos 90. Podemos mesmo achar que alguma coisa não estará a bater certo. Poderemos tudo o que quisermos, mas também poderemos render-nos à poesia, nestes tempos de prosa dura.

E se assim for só poderemos achar o resultado de magnífico. Foi uma ode à música, essa linguagem universal que faz milagres. Que transforma mais de 800 pessoas num único ser, num coletivo unido pelas sonoridades de uma centena de músicos em palco.

Foi tão bom ouvir os diálogos sonoros de instrumentos tão diferentes. De escutar as disputas das teclas e das guitarras elétricas com o tão numeroso naipe de instrumentos de sopro. De apreciar os ritmos da percussão e os silvos doces dos agudos pífaros, o deslizar das crinas do arco nas cordas do violino e as harmonias das palhetas do acordeão…. Foi tão bom saborear as vozes de todos, onde nenhuma voz esteve a mais.

Foi isto. Foram os músicos da Sociedade Filarmónica Figueirense e da Filarmónica Quiaense que estiveram ali, com os Quinta do Bill, todos juntos, também, quiçá, um corpo só, ante um inflamado anfiteatro que acabou em interação plena. Em que a plateia se transformou em palco e o palco foi o ofertório de letras e músicas que alimentaram tantas juventudes idas.

Sim, falo-vos do espetáculo que teve lugar, este sábado, 28 de outubro, no CAE (Centro de Artes e Espetáculos) da Figueira da Foz. Neste lugar de cultura que se mais não for, e é muito mais, cumpriu com mais este evento os valores e os princípios de que a cultura, as artes, a música, são a verdadeira forja da alma de um povo.

Parabéns aos promotores, parabéns aos intérpretes, parabéns aos que desfrutaram desta especial e singular iniciativa.

Foto: CAE Figueira da Foz

Acácio Pinto | Outubro de 2023

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...