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Um comprimido todos os dias à noite, quando já estiver na cama, da marca “A Galope Numa Noite de Búzios”, desenvolvido pelo laboratório Carlos Enes, nem imagina o bem que lhe fazia, para parafrasear a dita máxima que anda por aí.
A embalagem traz 55 comprimidos, todos de cores diferentes e de composição diversa. Uns são da cor das “vantagens do beijo”, outros da cor do “tremoço curtido”, outros ainda da cor de “nem anjo nem diabo”, já agora o último é cor de “assobio azul”. A composição é de múltiplas alquimias, fermentadas em “molho de escabeche”, ou servidas em “salada russa”, ou “pikles cem sebola”, mas se preferir também há aquelas que são “entre o picante e o doce” ou feitas com “flor do dragoeiro” e de “perfume apimentado”.
Pois bem, já perceberam que não importa por qual comprimido
começar. É à vontade do leitor, sim do leitor, pois trata-se de um livro que
nos atira com palavras, com textos suculentos (crónicas? contos? poemas?…) bem
refugadas em lume brando, num molho que leva pitadas de metáforas, de
neologismos, de trocadilhos, de metonímias e sei lá eu mais o quê, pois a
panela de confeção foi comprada no shopping “(des)Acordo
Ortográfico”.
Foi e é um encanto ler e reler este livro, ler o Carlos
Enes, nesta sua vertente libertária, sem nunca ser libertina. Nesta sua
vertente de criador de finas ironias, quantas vezes cáusticas, de rendilhados
de escrita, em que damos por nós rendidos à beleza intrínseca dos sons e dos
tons das suas magnificentes composições.
Sim, Carlos Enes, também estamos de acordo, “há
sabão que tira a nódoa da camisa, outro que limpa o sangue do crime e até se
inventou uma mixórdia para embaciar a luneta do juiz”.
Parabéns e obrigado, Carlos Enes, por estes nacos de uma tão
supimpa escrita!
Título: A GALOPE NUMA NOITE DE BÚZIOS
Autor: Carlos Enes
Editora: Edições Letras Lavadas
Páginas: 128