Há restaurantes que nos cativam à primeira, como foi o caso
do Olaias, integrado no CAE (Centro de Artes e Espetáculos) da Figueira da Foz.
Um restaurante que nos permite, antes ou depois da refeição, apreciar uma
exposição de pintura ou escultura ali mesmo ao lado.
Entrámos e, gradualmente, os nossos sentidos começaram a
apreciar cada detalhe. Parámos para a visão esmiuçar cada pormenor, cada
recanto, cada singularidade. Mas a mais-valia estava no conjunto. No aspeto
global que o espaço apresenta. Porém, a cereja estava guardada para o fim,
quando levantámos a cabeça e olhámos em frente, para poente, pela fachada
envidraçada, confrontámo-nos com o verde do parque das Abadias e com os prédios
atrás dos choupos e dos plátanos.
Depois o serviço, de grande simpatia e enorme discrição.
A ementa, essa, era diferenciadora. Podemos resumir a
estratégia com a frase: aqui quem escolhe é o cliente. É que não houve aquela
habitual intrusão do couvert, em que ainda mal nos sentámos e a nossa mesa
começa de imediato a ser invadida com tudo e mais alguma coisa. Aqui não. Tudo
constava na carta e escolhemos, tranquilamente, a nosso gosto: um cesto de pão,
variado, desde mistura até pão com azeitonas (parecia ter acabado de sair do
forno); alcaparrões (uma delícia, aproveitada até ao limite, pois o azeite que
os envolvia ainda serviu para embeber o pão); e croquetes de alheira e maçã,
servidos numa cama de grão-de-bico cru (crocantes por fora e aveludados por
dentro – divinais).
Quanto à opção para prato principal, como estávamos na
Figueira da Foz, só poderia ser peixe, embora a carne nos tivesse deixado
desconfortáveis por não a termos elegido. E então, o que escolhemos? Foi “arroz
carolino do Mondego caldoso de peixe” que, naquele dia, era pregado.
Tinha chegado a vez do olfato e do paladar serem postos à
prova. E do arroz saiu até ao epitélio olfativo o aroma do açafrão que as
papilas gustativas confirmaram, de seguida. E, a salpicá-lo, lá estavam os
inconfundíveis coentros, que também já se tinham anunciado, uns cubinhos de
tomate e raspas de lima para lhe conferir uma singularidade especial. De
excelência. Guloso. Um manjar a que o pregado, tenro e suculento, deu ainda
mais vida.
Nada a apontar.
Faltava a sobremesa que, quantas vezes, se não corresponder,
pode deitar tudo a perder.
Pão-de-ló com flor de sal, pareceu-nos bem, pois as salinas
e os marnotos da Morraceira não estavam longe. E, opção tomada, com o café em
simultâneo, compreenderão que nos tivéssemos debatido com deliciosos confrontos
gustativos no palato.
Não, não nos esquecemos de falar da bebida. Foi cerveja
artesanal de Coimbra, a Epicura. Já tínhamos bebido anteriormente. Continua com
personalidade. Com um travo na boca em que a cevada se impõe, a Epicura fez uma
excelente parceria com este prato de peixe.
Conclusão: Foi um almoço bem supimpa!
Fica a dica!
Acácio Pinto | Agosto de 2023