Era eu miúdo e lá vinha, na noite de passagem de ano, o presságio pela boca do meu avô ou da minha avó: o ano que vem é bissexto, vai ser um ano travesso! Bom, e o que é facto é que, debaixo daquele vaticínio, tudo quanto de mau acontecia no ano seguinte era atribuído ao bissexto e ao vigésimo nono dia de fevereiro, pois então! Era a porca que paria e uns quantos leitões morriam e lá vinha o bissexto. Era a geada tardia que queimava as batatas e lá vinha o bissexto. Era a trovoada e “pedra” que caía em julho e estragava as uvas e lá vinha o bissexto. Era o verão que abrasava e o milho definhava e lá vinha o bissexto. Eram as cenas de pancadaria e cabeças rachadas nas festas e romarias por entre uns tintos bem bebidos e lá vinha o bissexto. Era a vaca que não “alcançava” depois de ir ao boi e lá vinha o bissexto. Era, assim como, um ano negro, de breu, um inferno, sem tirar nem pôr. Até que surgiu 2020. Sim, para repor essa milenar “sabedoria”. Depois desse saber...
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