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Fernando Ruas em Sátão, no colóquio Dão e Demo, com farpas para Viseu

Apresentamos hoje o segundo vídeo do colóquio Dão e Demo sobre o futuro da região Viseu Dão Lafões, este com a intervenção de Fernando Ruas, que acabámos de disponibilizar no nosso canal do youtube. O colóquio, como se sabe, realizou-se no dia 8 de julho na Casa da Cultura de Sátão e nele também participou José Junqueiro.

“Tanta gente que gostava que eu não falasse, mas aqui no Sátão dão-me essa oportunidade”
Fernando Ruas, como se pode certificar no vídeo, abriu com um agradecimento pelo convite, mas acrescentou uma farpa dizendo que há “tanta gente que gostava que eu não aparecesse e não falasse e aqui no Sátão dão-me essa oportunidade e eu agradeço por isso”.
E entrando no tema do colóquio apontou, desde logo, o dedo dizendo que “quem tem falhado é a administração centra”, pois “as autarquias têm feito o seu trabalho” exemplificando com a infraestruturação geral dos territórios. E a falha da administração central tem gerado um país litoralizado e “isso não é bom para um país desenvolvido”.
E o eurodeputado aproveitou para dizer que devemos utilizar “cá dentro”, em Portugal, o mesmo discurso que utilizamos com a UE. Quando os governos dizem que não pode haver países “altamente desenvolvidos e países menos desenvolvidos” na UE, então comecemos por dar o exemplo em Portugal a nível dos concelhos. Exemplificou com o caso de Lisboa que disse ter “catorze vezes e meia o poder de compra do concelho de Penedono”, acrescentando que “isto não é possível, esta assimetria não pode continuar”. Mas, igualmente, disse que não pode continuar a assimetria dentro da região. Não pode Viseu Dão Lafões “contribuir com 12% para a produção de riqueza da região Centro mas, neste momento, dos fundos comunitários nós temos não chega a 1% da região. É preciso que alguém levante a voz para dizer calma lá, não estamos a ser tratados convenientemente.”


“se virem um político a falar muito e arranjar excelentes assessores e muita imagem é para tratar do futuro dele, se ele quiser tratar do futuro da população faz obras.”
E é nesta fase da sua apresentação que Fernando Ruas utiliza a ironia e lança mais uma farpa dirigida a Viseu, para criticar aqueles políticos que contratam muitos assessores de comunicação e de imagem, ao dizer que “quem tinha razão era o padre António Vieira quando dizia que para falar ao vento eram só precisas palavras, mas para falar ao coração são precisas obras”, concluindo que “se virem um político a falar muito e arranjar excelentes assessores e muita imagem é para tratar do futuro dele, se ele quiser tratar do futuro da população faz obras.”
Mas regressando às questões concretas da região, Fernando Ruas destacou as acessibilidades regionais, falando sobre a ligação Viseu-Coimbra, que agora se chama “Via dos Duques”, para dizer que até o próprio nome é incompreensível fazendo uma analogia com o jogo das cartas em que “o duque é aquela carta mais baixa do baralho”, quando já havia um corredor de “ligação a Coimbra que todos conhecíamos”. “Andamos sempre a mudar, alguém a reverte, para ficar bem na fotografia”, concluiu.
Mas Fernando Ruas não deixou, igualmente, de criticar a solução ferroviária que designou “em escada”. E concretizou dizendo que saímos do porto de Aveiro até à linha do Norte, descemos até à linha da Beira Alta e depois subimos, por esta, para a Europa, acentuando que “uma ligação em escada também se pode fazer mas normalmente as pessoas caem”.
E Fernando Ruas concluiu a sua intervenção com uma imagem, a do jogo de ténis, para dizer que estamos a ver passar as bolas entre Lisboa e Porto. As verbas e os equipamentos “vão de Lisboa para o Porto e do Porto para Lisboa e nós só apanhamos uma ou outra bola que caia na rede. “esta postura não pode ser consentida; devemos fazer a exigência necessária para que se altere esta distribuição dos meios” no futuro.

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