Avançar para o conteúdo principal

Fernando Ruas e José Junqueiro debateram o futuro da região, com ironias à mistura

Fernando Ruas e José Junqueiro não deixaram os seus créditos por mais alheias no Colóquio Dão e Demo que teve lugar esta sexta-feira, dia 8 de julho, em Sátão, na Casa da Cultura.
Perante uma vasta assistência, os dois políticos, convidados do nosso jornal para dissertarem sobre o futuro da região Viseu Dão Lafões, foram incisivos e traçaram um quadro negro da região no que toca aos investimentos públicos em falta e às fragilidades que nos atravessam, com o “grosso” das culpas a irem direitinhas para a “administração central”, dizendo Fernando Ruas que “as autarquias têm feito o seu trabalho e democratizaram o investimento público”.
Mas indo às questões concretas, José Junqueiro mostrou a sua incompreensão perante a não execução de uma via de acesso condigna entre Viseu e Sátão, pois a EN 229 que tem “nove mil veículos por dia”, bem como mostrou a sua estupefação sobre a designada ligação Viseu Coimbra que já esteve no papel, já esteve em concurso e agora apresentam-nos a “Via dos Duques” para ligar Viseu a Coimbra.
Mas sobre esta via Fernando Ruas também não deixou de dizer que até o próprio nome é incompreensível fazendo uma analogia com o jogo das cartas para dizer que “o duque é aquela carta mais baixa do baralho”, quando já havia um corredor de “ligação a Coimbra que todos conhecíamos”. “Andamos sempre a mudar, alguém a reverte, para ficar bem na fotografia”, concluiu o eurodeputado que não deixou igualmente de criticar a solução ferroviária que designou “em escada”. E concretizou dizendo que saímos do porto de Aveiro até à linha do Norte, descemos até à linha da Beira Alta e depois subimos, por esta, para a Europa, acentuando que “uma ligação em escada também se pode fazer mas normalmente as pessoas caem”.
Sobre a ferrovia José Junqueiro referiu que só fizemos a ligação do porto de Aveiro à linha do Norte e “nem mais um quilómetro, esgotámo-nos em discussões permanentes”, para acrescentar que “não pode Viseu ser uma cidade que é uma mais-valia para a região e não ter estação de comboio e não podem os concelhos que estão junto à linha da Beira Alta passar todos estes anos sem terem uma intervenção substantiva na linha”.
Quanto ao contributo da região Viseu Dão Lafões para a riqueza da região Centro coube a José Junqueiro dizer que “contribuímos com 12% para a riqueza da região Centro” e que isso deverá ser devidamente salientado a todos os níveis mas sobretudo a nível dos equipamentos e infraestruturas, estranhando Fernando Ruas o facto de que apesar dessa geração de riqueza só tenhamos neste momento, a nível de verbas, apenas “cerca de 1% do PO regional”.
Mas Fernando Ruas foi mais longe e mostrou-se completamente descontente com a distribuição de verbas que vêm para a região. E deu a imagem do jogo de ténis para dizer que estamos a ver passar as bolas; as verbas e os equipamentos “vão de Lisboa para o Porto e do Porto para Lisboa e nós só apanhamos uma ou outra bola que caia na rede”. E acrescentou que “esta postura não pode ser consentida; devemos fazer a exigência necessária para que se altere esta distribuição dos meios” no futuro.
Também José Junqueiro deixou bem evidenciado que o futuro passa por vontade política e opções políticas claras, “não podemos passar sucessivos mandatos de sucessivos governos sem que aquilo que é considerado essencial e em que toda a gente está de acordo seja objeto de uma atitude em concreto para resolver esse problema; devemos ser criteriosos a quem entregamos o nosso voto”. Mas falou também da fiscalidade com peça fundamental para o futuro, bem como da economia social e das “atividades económicas de uma forte componente tecnológica” que possam fixar as gerações jovens que hoje são muito qualificadas.
A demografia foi um dos problemas que os dois conferencistas abordaram. Consideraram os seus resultados muito gravosos para a região. José Junqueiro, nesta matéria, avançou com gráficos sobre os valores populacionais nos últimos 150 anos bem como com o índice de envelhecimento, que passou de 123, em 2001, para 178 em 2014, ou seja por cada 100 jovens temos neste momento 178 idosos quando em 2001 tínhamos 123.
Fernando Ruas trouxe igualmente os valores da demografia para o colóquio e aproveitou para lançar uma ironia direitinha para Viseu ao dizer que trazia valores mas que “isto é capaz de estar muito desatualizado pois ouvi dizer que nos dois últimos anos isto evoluiu mais do que nos últimos 40; ou então isto avançou em progressão geométrica e estamos muito melhor”.
Mas as questões não se ficaram por aqui. Voltaremos nos próximos dias ao colóquio!
Nota: Ao longo da semana iremos publicar os vídeos integrais, com as intervenções, no canal Dão e Demo do Youtube.

Mensagens populares deste blogue

Sermos David e Rafael, acalma-nos? Não, mas ampara-nos e torna-nos mais humanos!

  As palavras, essas, estão todas ditas. Todas. Mas continua a faltar-nos, a faltar-me, a compreensão. Uma explicação que seja. Só uma, para tão cruel desenlace. Da antiguidade até ao agora, o que é que ainda não foi dito? O que é que falta dizer? Nada e tudo. E aqui continuamos, longe, muito distantes, de encontrar a chave que nos abra a porta deste paradoxo. Bem sei que, quiçá, essa procura é uma impossibilidade. Que não existe qualquer via de acesso aos insondáveis desígnios. Da vida e da morte. Dos tempos de viver e de morrer. Não existe. E quando esses intentos acontecem em idades prematuras? Em idades temporãs? Tenras? Quando os olhos brilham? Quando os sonhos semeados estão a germinar? Aí, tudo colapsa. É a revolta. É o caos. Sermos David e Rafael, nestes tempos cruéis, não nos acalma. Sermos comunidade, não nos sossega. Partilharmos a dor da família, não nos apazigua. Sermos solidários, não nos aquieta. Bem sei que não. Mas, sejamos tudo isso, pois ainda é o q...

JANEIRA: A FAMA QUE VEM DE LONGE!

Agostinho Oliveira, António Oliveira, Agostinho Oliveira. Avô, filho, neto. Três gerações com um mesmo denominador: negócios, empreendedorismo. Avelal, esse, é o lugar da casa comum. O avô, Agostinho Oliveira, conheci-o há mais de meio século, início dos anos 70. Sempre bonacheirão e com uma palavra bem-disposta para todos quantos se lhe dirigiam. Clientes ou meros observadores. Fosse quem fosse. Até para os miúdos, como era o meu caso, ele tinha sempre uma graçola para dizer. Vendia sementes de nabo que levava em sacos de pano para a feira. Para os medir, utilizava umas pequenas caixas cúbicas de madeira. Fossem temporões ou serôdios, sementes de nabo era com ele! Na feira de Aguiar da Beira, montava a sua bancada, que não ocupava mais de um metro quadrado, mesmo ao lado dos relógios, anéis e cordões de ouro do senhor Pereirinha, e com o cruzeiro dos centenários à ilharga. O pai, António Oliveira, conheci-o mais tardiamente. Já nos meus tempos de adolescência, depois da revolu...

Ivon Défayes: partiu um bom gigante.

  Ivon Défayes: um bom gigante!  Conheci-o em finais dos anos oitenta. Alto e espadaúdo. Suíço de gema. Do cantão do Valais. De Leytron.  Professor de profissão, Ivon Défayes era meigo, afável e dado. Deixava sempre à entrada da porta qualquer laivo de superioridade ou de arrogância e gostava de interagir, de comunicar. Gostava de uma boa conversa sobre Portugal e sobre a terra que o recebeu de braços abertos, a pitoresca aldeia do Tojal, que ele adotara também como sua pela união com a Ana. Ivon Défayes era genuinamente bom, um verdadeiro cidadão do mundo, da globalidade, mas sempre um intransigente cultor do respeito pela biodiversidade, pelo ambiente, pelas idiossincrasias locais, que ele pensava e respeitava no seu mais ínfimo pormenor. Bem me lembro, aliás, das especificidades sobre os sons da noite que ele escrutinava, vindos da floresta, da mata dos Penedinhos Brancos – das aves, dos batráquios e dos insetos – em algumas noites de verão, junto ao rio Sátão. B...