Tem 56 anos de idade, é natural de Carapito, concelho de
Aguiar da Beira, mas foi no Sátão, onde leciona no Centro Escolar, que fixou
residência há mais de duas décadas.
Professor do 1º Ciclo, diplomado pela Escola do Magistério
Primário de Viseu em 1979, foi sempre um apaixonado pelo património, o que o
levou a licenciar-se em História na Universidade de Coimbra e a frequentar o Curso
de Património Histórico-Artístico, Natural e Etnográfico do Centro Nacional de
Cultura.
E é esta sua dupla vertente, de professor em contacto
permanente com as crianças do 1º Ciclo e de homem de cultura, que passa muito pelas
páginas dos 14 livros que já leva publicados desde 1995, ano em que se iniciou
nas lides de escritor.
É, pois, este homem, Carlos Afonso Paixão Lopes, mais
conhecido por Carlos Paixão, na sua vertente de escritor, com livros seus no
Plano Nacional de Leitura, que Dão e
Demo entrevistou, na sequência da apresentação do seu 14º livro, “Olhares”,
publicado pela Junta de Freguesia de Sátão.
Dão e Demo: Este
último livro publicado, alusivo à freguesia de Sátão, sob o título “Freguesia
de Sátão: Olhares”, é o 14º livro que publica como autor ou coautor. Em que
contexto surgiu este livro e qual o seu conteúdo?
Carlos Paixão: Este
livro, da minha autoria, surge em resposta a uma solicitação da Junta que, logo
depois de ter tomado posse, me contactou no sentido de produzir um livro sobre
os diferentes lugares desta freguesia de Sátão. Não prometi nada, mas
comprometi-me a pensar no assunto. Passado algum tempo, apresentei-lhes um
projeto, que foi aceite, e assim que tive disponibilidade, iniciei os
trabalhos.
O seu conteúdo conduz-nos numa visita aos diferentes lugares da
freguesia, acompanhados por alguns apontamentos históricos e patrimoniais. No
fundo, é um olhar, com diferentes olhares, pois ouvi muitos naturais e
residentes e todos eles contribuíram para a construção desta obra.
“O meu primeiro livro [Nos
Caminhos do Pão] foi publicado em 1995”
DD: Mas se este é
o 14º, quando foi publicado o primeiro e qual a sua temática?
CP: O meu
primeiro livro foi publicado em 1995, numa edição da Câmara Municipal de Sátão,
com o título “Nos Caminhos do Pão” e foi o resultado de um trabalho final que
produzi, na freguesia de Rio de Moinhos, no âmbito do meu Curso de Património.
DD: Como surgiu,
se é que é possível definir com exatidão, Carlos Paixão escritor?
CP: O
Carlos Paixão escritor não tem, certamente, “certidão de nascimento”. O
escritor tem-se vindo a construir com e em cada uma das suas obras. Naturalmente,
quando escrevi o meu primeiro livro, estava longe de imaginar que iria fazer o
segundo e era impossível prever que chegaria, aqui, ao décimo quarto. As
críticas e os diferentes prémios literários que recebi, ao longo destes anos,
foram um grande incentivo para continuar e acreditar, ainda mais, naquilo que
fazia. Também foi relevante o facto de alguns livros fazerem parte das obras
recomendadas pelo Plano Nacional de Leitura. Efetivamente, só há um escritor
Carlos Paixão porque há leitores para as suas obras.
DD: Quais são as
suas principais inspirações? Ou se quiser, quais são as temáticas centrais que
o movem quando escreve?
CP: Quem
me lê descobre facilmente que há uma temática presente em todas as minhas
obras. O nosso património, nas suas diferentes manifestações, oral, monumental,
natural, artístico ou etnográfico, todo o nosso património cultural se
manifesta na minha escrita. A inspiração centra-se nas nossas terras e nas
nossas gentes, sejam adultos ou crianças, em todos aqueles e todas aquelas,
lugares e pessoas, que contribuíram e continuam a contribuir para eu ser quem
sou.
“as obras destinadas aos
mais novos são também apreciadas por muitos adultos”
DD: Escreve para
quem?
CP: Escrevo
para quem me quer ler. Felizmente, tenho chegado a muitos públicos, mas tenho
um alargado grupo de fiéis leitores, a quem aproveito para agradecer, que
querem ter tudo o que eu tenho publicado. Também se tem tornado evidente que as
obras destinadas aos mais novos são também apreciadas por muitos adultos.
DD: Uma vida
dedicada ao ensino é também ela fonte de inspiração para as histórias que os
livros vão imortalizando?
CP: Sem
dúvida. Os muitos alunos e experiências que tenho vivido, nestes mais de 36
anos de serviço docente, são, efetivamente, uma fonte farta para o que escrevo
e, daí, diversos dos meus livros terem a sua origem na escola, como são
exemplo: “Lengalengas de Aprender a Ler”; “A Tartaruga Atropelada”; “À Descoberta
do Primeiro Santo-São Teotónio”; “O Vento Bateu à Porta” e outros.
“não haverá razões para
não continuarmos [com Carlos Pais] a trabalhar juntos”
DD: Nos livros
publicados as coautorias têm sido com Carlos Pais e António José Paixão.
Fale-nos de ambas e se são para continuar.
CP: O
Tó-Zé Paixão é o meu irmão, o meu melhor amigo, aquele com quem partilhei e
partilho grande parte da minha vida. Temos afinidades e cumplicidades que nos
ligarão para sempre. Apoiámo-nos muito um no outro para começarmos a escrever.
Depois, ele seguiu os trilhos da pintura e eu continuei pelas letras mas, a
toda a hora, encontramos razões para nos encontrarmos.
O Carlos Pais foi uma descoberta que eu fiz, quando o desafiei a
ilustrar o meu livro: “Lengalengas de Aprender a Ler”. A partir daí tem estado
sempre presente nas minhas obras e a mostrar a qualidade do seu trabalho, seja
na ilustração, seja nos arranjos gráficos ou na fotografia.
Havendo mais obras, não haverá razões para não continuarmos a trabalhar
juntos.
“Não me falta material
para outras publicações”
DD: Desvende aos
leitores Dão e Demo o próximo livro que vai ser dado à estampa. Para quando nas
livrarias?
CP: Já
seria demais! No espaço de um mês, acabei por publicar dois livros! Agora é
tempo de ouvir as opiniões, sentir os leitores e fazer uma pausa. Não me falta
material para outras publicações, no entanto, a minha profissão é ser professor.
Uma profissão cada vez mais exigente e que, de há uns anos para cá,
infelizmente, não nos deixa muito tempo para criarmos.
Quando e como será o décimo quinto, nem eu sei!
PERGUNTAS RÁPIDAS A CARLOS PAIXÃO
Qual o seu autor preferido?
Não tenho um autor preferido. Todavia, há vários autores que eu leio
mais: Miguel Torga, Aquilino Ribeiro, José Saramago, Gabriel Garcia Marquez,
José Luís Peixoto, Mia Couto…
“Crónica de Uma Morte Anunciada” de Gabriel Garcia Marquez.
Qual o livro que tem, neste momento, na mesinha de
cabeceira?
Na mesinha de cabeceira está: “O Grande Livro dos Santos”; junto do
sofá da cozinha estão: “O Meu Irmão” de Afonso Reis Cabral e : “ Puxar a Brasa
à Nossa Sardinha” de Andreia Vale. Normalmente, tenho disponíveis dois ou três
livros para ler. Pego neles de acordo com a disposição de momento.
Onde gosta mais de ler?
Todos os lugares me servem para ler, aliás, já há quem diga que eu
tenho de estar sempre a ler. Leio tudo e em todo o lado. No entanto, um lugar
privilegiado é dentro do carro, no cimo de um monte, com largo horizonte, ou
junto de um local em que se ouça o cantarolar da água.
Qual o primeiro livro que leu e com que idade?
Provavelmente o livro de leitura da primeira classe, não me lembro. Sei
que o meu professor primário me deu um livro, o meu primeiro livro, que eu
guardo em lugar de destaque na minha biblioteca, intitulado: “O Jardim”, no
Natal de 1968.